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Veneza ganha plano audacioso para evitar afundamento gradual da cidade histórica

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Engenheiro propõe elevação controlada do solo com injeção de água.

Um engenheiro italiano apresentou uma proposta inovadora para combater o afundamento gradual de Veneza, um problema que ameaça a existência da histórica cidade italiana há séculos. O plano, revelado na quarta-feira, 7 de maio de 2025, propõe a injeção controlada de água em camadas profundas do solo, criando um efeito de “colchão d’água” que poderia elevar cuidadosamente toda a cidade em até 30 centímetros. De acordo com o professor Pietro Teatini, responsável pelo projeto, a solução apresentada poderia dar à cidade um “fôlego” de aproximadamente 50 anos, funcionando em conjunto com o atual sistema de contenção conhecido como MOSE. A proposta chama a atenção pela abordagem inédita ao problema que aflige a cidade construída sobre 118 ilhas na lagoa veneziana, um patrimônio cultural da humanidade que recebe milhões de turistas anualmente. O engenheiro esclarece que a técnica proposta não se trata de fraturamento hidráulico (fracking), mas sim de uma expansão controlada e segura do solo em camadas profundas, evitando os riscos associados à quebra de rochas subterrâneas que poderiam causar abalos sísmicos e comprometer ainda mais as estruturas históricas da cidade.

O problema do afundamento de Veneza não é recente e tem se agravado com o passar dos anos devido a uma combinação de fatores naturais e intervenções humanas. Desde a década de 1970, diversos planos foram concebidos na tentativa de preservar a cidade das inundações cada vez mais frequentes, conhecidas localmente como “acqua alta”. O mais notório desses projetos é o MOSE (Módulo Experimental Eletromecânico), um sistema de 78 comportas submersas que começou a ser construído em 2003, com previsão de conclusão para este ano de 2025, ao custo de bilhões de euros. Apesar da grandiosidade do MOSE, que foi projetado para selar toda a lagoa contra marés altas em aproximadamente quinze minutos, especialistas apontam que o sistema apresenta limitações consideráveis, especialmente diante do agravamento das mudanças climáticas. As estatísticas municipais mostram que atualmente o alerta “laranja” da prefeitura, acionado quando o nível de inundação ultrapassa os 110 centímetros, é emitido quatro vezes mais frequentemente do que há quatro décadas, evidenciando a urgência de soluções complementares. Além disso, o uso constante das barreiras do MOSE pode aumentar a poluição e alterar os fluxos de esgoto na lagoa, criando novos problemas ambientais para a região. É nesse contexto que a proposta de Teatini ganha relevância, ao oferecer uma abordagem diferenciada que ataca diretamente o problema do afundamento, em vez de apenas conter suas consequências.

O método proposto pelo engenheiro italiano envolve a injeção cuidadosa de água em aquíferos profundos sob a cidade, criando uma pressão que expandiria levemente o solo sem causar rachaduras. “Queremos uma elevação de no máximo 20 a 30 centímetros justamente para não provocar rachaduras”, explicou Teatini, enfatizando que a segurança é prioridade absoluta no projeto. “Se houver rachaduras, é um desastre. A ideia é manter uma pressão baixa, com aditivos que expandem o solo sem rompê-lo.” O especialista esclarece que, se realizada em profundidades adequadas, a expansão ocorreria de forma tridimensional e distribuída, tornando-se mais uniforme ao atingir a superfície. Para garantir a eficácia e segurança do método, a equipe de pesquisadores propõe inicialmente um teste em uma área menos sensível da lagoa, com um número reduzido de poços, durante um período de dois a três anos. Este teste piloto teria um custo estimado entre 30 e 40 milhões de euros, valor significativamente inferior ao custo total do sistema MOSE. Um dos desafios técnicos do projeto é a necessidade de reduzir gradualmente o ritmo de bombeamento ao longo de dez anos, para evitar sobrecarregar os aquíferos. Os pesquisadores também estudam a possibilidade de misturar aditivos à água que manteriam o solo expandido mesmo após a interrupção do bombeamento, evitando que a cidade volte a afundar. Esta abordagem representa uma visão diferente das soluções anteriores, buscando trabalhar com a natureza em vez de tentar contê-la através de enormes barreiras físicas.

Apesar do potencial promissor, Teatini ressalta que sua proposta seria apenas uma solução temporária, proporcionando à cidade algumas décadas adicionais para desenvolver estratégias mais permanentes de adaptação às mudanças climáticas e ao aumento do nível dos mares. Os 30 centímetros de elevação representam o limite seguro que poderia ser alcançado sem comprometer as estruturas históricas, e mesmo esta elevação precisaria ser realizada com extremo cuidado e monitoramento constante. O projeto se destaca por seu custo relativamente baixo quando comparado a outras intervenções: mesmo sua implementação completa custaria aproximadamente um terço do valor total investido no sistema MOSE. Especialistas em preservação patrimonial e engenharia hidráulica consideram que uma abordagem integrada, combinando diferentes técnicas como o MOSE e a elevação controlada proposta por Teatini, pode representar o caminho mais viável para a sobrevivência de Veneza nas próximas décadas. O futuro da cidade dos canais, com sua arquitetura única e valor histórico inestimável, depende da capacidade de implementar soluções inovadoras que respeitem tanto o patrimônio construído quanto o delicado ecossistema da lagoa veneziana. Enquanto os habitantes e autoridades avaliam a nova proposta, a corrida contra o tempo continua para salvar uma das mais belas e singulares cidades do mundo, que há mais de 1.600 anos desafia as águas com sua existência quase mágica sobre a lagoa.

Um desafio de engenharia para salvar o patrimônio histórico

A proposta de elevação controlada de Veneza se insere em um contexto mais amplo de esforços para proteger patrimônios históricos ameaçados por mudanças climáticas em todo o mundo. Diferentemente de abordagens anteriores que focavam principalmente em barreiras físicas contra inundações, o plano de Teatini representa uma mudança de paradigma ao buscar trabalhar com os processos geológicos naturais. Se bem-sucedido, o método poderia ser adaptado para outras cidades costeiras históricas que enfrentam desafios semelhantes. Por enquanto, as autoridades venezianas e italianas avaliam cuidadosamente a proposta, conscientes de que qualquer intervenção em uma cidade com a importância cultural e fragilidade estrutural de Veneza deve ser precedida por extensos estudos de impacto. O teste piloto em uma área menos sensível da lagoa, previsto para iniciar nos próximos meses, será crucial para determinar a viabilidade técnica do projeto em larga escala e seu potencial para complementar os sistemas de proteção já existentes, oferecendo à Cidade dos Canais mais algumas décadas de resistência contra as águas que tanto a definem quanto a ameaçam.

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