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Usaid encerra operações e impacta financiamento de ONGs no Brasil

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Agência americana era responsável por 40% da ajuda humanitária mundial.

A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), criada em 1961 como braço humanitário do governo norte-americano, teve seu fechamento anunciado pelo presidente Donald Trump. A decisão impactará diretamente o caixa de diversas iniciativas brasileiras, podendo enfraquecer, ao menos temporariamente, a atuação de certas organizações no país. A Usaid era responsável por 40% de toda a ajuda humanitária do mundo, distribuindo bilhões de dólares anualmente a entidades internacionais. Parte desses recursos era destinada a iniciativas de combate à fome, tratamento de doenças e distribuição de vacinas, enquanto outra parcela financiava organizações não governamentais (ONGs) que promoviam pautas específicas, inclusive no Brasil.

A lista de órgãos brasileiros que receberam dólares do governo norte-americano por meio da Usaid é extensa e diversificada, abrangendo desde entidades privadas sem fins lucrativos até instituições públicas. Algumas dessas organizações, especialmente ONGs ambientalistas, têm histórico de militância política e chegaram a participar de campanhas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. O Instituto Socioambiental (ISA), por exemplo, que recebeu parte de um investimento de US$ 17,8 milhões da Usaid para um projeto de conservação da Amazônia, promoveu uma campanha crítica às políticas ambientais durante o governo Bolsonaro. Similarmente, a WWF Brasil, beneficiária de cerca de US$ 4 milhões para um projeto na bacia do Rio Tapajós, participou de uma iniciativa para apresentar uma denúncia contra Bolsonaro na ONU por supostas violações ambientais e de direitos humanos.

O financiamento da Usaid não se limitava apenas a questões ambientais. A agência, juntamente com o Departamento de Estado e embaixadas dos EUA, também apoiou iniciativas relacionadas ao combate à desinformação. O Centro Internacional de Jornalistas (ICFJ), financiado pela Usaid, premiou nove iniciativas de mídia no Brasil com até US$ 13.750 no projeto “Jogo Limpo 2.0”. Entre os premiados estava a Alma Preta, uma organização de jornalismo especializada em temáticas étnico-raciais, em parceria com o Sleeping Giants Brasil. Além disso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) participou de ações em parceria com a Usaid, incluindo eventos voltados para o combate à desinformação no período eleitoral. Em 2021, o TSE elaborou o “Guia de Combate à Desinformação” com o apoio do Consórcio para Eleições e Fortalecimento do Processo Político (CEPPS), um acordo cooperativo supervisionado pela Usaid.

O encerramento das atividades da Usaid levanta questões sobre o futuro do financiamento de diversas iniciativas no Brasil. O escritório da agência no país contava com uma equipe de 11 a 50 funcionários e, no ano passado, destinou recursos para mitigar incêndios florestais, promover a inclusão e equidade de gênero no manejo e conservação da biodiversidade, além de apoiar a gestão de quase sete milhões de hectares de bioma. A agência também atuou no fortalecimento de 51 instituições e no treinamento de mais de 2,6 mil pessoas. Com o fim desse apoio financeiro, muitas organizações terão que buscar fontes alternativas de recursos para manter suas operações, o que pode resultar em uma reestruturação significativa do cenário de ONGs e projetos socioambientais no Brasil.

Impactos futuros e busca por novas fontes de financiamento

O encerramento da Usaid representa um desafio significativo para as organizações que dependiam de seu financiamento. Essas entidades terão que se adaptar rapidamente, buscando novas fontes de recursos e parcerias para manter suas atividades. O cenário futuro pode envolver uma maior participação do setor privado e de fundações internacionais no financiamento de projetos socioambientais no Brasil, além de um possível aumento na captação de recursos por meio de doações individuais e crowdfunding. A ausência da Usaid também pode abrir espaço para uma maior atuação de agências de desenvolvimento de outros países, alterando a dinâmica das relações internacionais no âmbito da cooperação para o desenvolvimento sustentável na região amazônica e em outras áreas prioritárias.