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Trump confronta presidente sul-africano com alegações de violência contra brancos

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Trump está mentindo sobre a África do Sul?

Encontro no Salão Oval marcado por tensão diplomática.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, protagonizou um momento de forte tensão diplomática na quarta-feira (21) durante reunião oficial com o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa no Salão Oval da Casa Branca. Em um episódio sem precedentes no protocolo diplomático americano, Trump interrompeu repetidamente o mandatário sul-africano para acusar o país africano de promover perseguição e violência sistemática contra a população branca, especialmente os afrikaners. A situação atingiu seu ápice quando Trump, em um gesto incomum, ordenou que as luzes do Salão Oval fossem apagadas para exibir um vídeo compilado com discursos de políticos sul-africanos que circulam nas redes sociais, alegando que “agricultores brancos estão sendo brutalmente assassinados” e que suas terras estariam sendo confiscadas pelo governo. As acusações foram apresentadas sem evidências concretas que sustentassem a existência de um genocídio em curso no país africano, conforme sugerido pelo presidente americano, que chegou a oferecer status de refugiado a 59 sul-africanos brancos, afirmando que seriam vítimas de uma perseguição sistemática – fato que não foi comprovado por organismos internacionais ou por investigações independentes.

O encontro, inicialmente programado para fortalecer as relações comerciais entre Estados Unidos e África do Sul, rapidamente desviou-se para um confronto sobre questões raciais quando Ramaphosa destacou as parcerias comerciais existentes entre as nações e manifestou interesse em fortalecer laços, especialmente no setor de minerais raros. Trump, contudo, redirecionou abruptamente a conversa para o que chamou de “perseguição e genocídio contra fazendeiros brancos” na África do Sul. Os afrikaners, grupo étnico mencionado por Trump, são descendentes principalmente de colonos holandeses, com influências francesas e alemãs, que se estabeleceram no território sul-africano a partir do século XVII. Este grupo desempenhou papel central na implementação e manutenção do sistema de apartheid (1948-1994), que institucionalizou a segregação racial e garantiu privilégios políticos, econômicos e territoriais à minoria branca, excluindo sistematicamente a maioria negra do país. Desde o fim do regime segregacionista, o Congresso Nacional Africano (ANC), partido que lidera o país há mais de três décadas, tem implementado políticas de reparação histórica, incluindo controversas medidas de redistribuição de terras – tema que frequentemente gera desinformação em círculos conservadores internacionais, alimentando narrativas não comprovadas sobre uma suposta perseguição sistemática contra brancos sul-africanos.

Diante das acusações de Trump, o presidente Ramaphosa reagiu com firmeza, contestando diretamente a narrativa apresentada pelo americano. Quando uma jornalista questionou o que faria Trump se se convencesse de que não existe um genocídio na África do Sul, Ramaphosa tomou a palavra e destacou: “Se houvesse um genocídio contra fazendeiros brancos, eu aposto que estes três homens não estariam aqui. Inclusive meu ministro da Agricultura”. O presidente sul-africano referia-se aos integrantes brancos da comitiva presidencial que o acompanhava na visita oficial, utilizando sua presença como evidência contrária às alegações americanas. A tensão escalou quando, após a contestação de Ramaphosa, Trump insistiu que existiriam “milhares de histórias de crimes” contra a população branca e ordenou o inusitado apagamento das luzes do Salão Oval para exibir material com discursos inflamatórios. Este episódio representa um dos momentos mais constrangedores da diplomacia americana recente, com um presidente em exercício constrangendo publicamente um chefe de Estado visitante com alegações não comprovadas. As acusações de Trump refletem narrativas que circulam há anos em círculos conservadores e de extrema-direita, mas que nunca foram corroboradas por investigações independentes ou organismos internacionais, que não reconhecem a existência de políticas sistemáticas de perseguição racial contra brancos na África do Sul pós-apartheid.

A controvérsia gerada pelo encontro entre os dois líderes ressalta as complexidades históricas e raciais que ainda permeiam a África do Sul, três décadas após o fim do apartheid. Os dados oficiais indicam que a população branca sul-africana, que representava cerca de 11% em 1996, diminuiu para aproximadamente 7% em 2022, redução atribuída principalmente à emigração voluntária e a fatores demográficos, e não a políticas de perseguição. As políticas de redistribuição de terras implementadas pelo governo sul-africano, embora controversas em alguns aspectos, são parte de um processo mais amplo de justiça histórica para corrigir desigualdades estruturais resultantes de séculos de colonização e décadas de segregação institucionalizada. O episódio diplomático evidencia também como narrativas descontextualizadas sobre questões raciais complexas podem ser instrumentalizadas politicamente, especialmente em períodos de polarização ideológica. Para analistas internacionais, o confronto entre Trump e Ramaphosa deverá repercutir negativamente nas relações entre os dois países, potencialmente comprometendo parcerias comerciais e diplomáticas em um momento em que os Estados Unidos buscam ampliar sua influência no continente africano frente à crescente presença chinesa na região. O governo sul-africano, por sua vez, provavelmente intensificará seus esforços para esclarecer internacionalmente a natureza de suas políticas de reparação histórica e combater desinformação sobre a situação sociopolítica do país.

Trump x África do Sul

O encontro entre os presidentes Donald Trump (EUA) e Cyril Ramaphosa (África do Sul) começou de forma cordial, mas virou um confronto quando Trump reiterou alegações infundadas de um “genocídio branco” contra fazendeiros brancos na África do Sul.

Ele apresentou um vídeo de cruzes brancas, descrito como cemitérios, mas que na verdade era um memorial temporário de 2020. Também exibiu clipes de comícios com o canto “Mate os bôeres”, atribuindo-os erroneamente a líderes do governo, quando na verdade eram de opositores (Julius Malema e Jacob Zuma).Uma foto apresentada como prova de violência na África do Sul era, na verdade, do Congo.

Dados mostram que assassinatos em fazendas são limitados e não configuram genocídio, com vítimas de diversas raças. Ramaphosa rejeitou as acusações, esclarecendo que os grupos citados não representam o governo. Trump usa essa narrativa, baseada em informações distorcidas, para reforçar sua retórica sobre imigração e perseguição global.
Pontos principais:

  • Trump alegou “genocídio branco” na África do Sul, sem base em dados.
  • Vídeo de cruzes brancas era um memorial, não cemitérios.
  • Canto “Mate os bôeres” vem de opositores, não do governo.
  • Foto apresentada era do Congo, não da África do Sul.
  • Ramaphosa negou apoio às ideias de Trump.
  • Narrativa de Trump é antiga e usa informações fora de contexto.

Contexto histórico dos afrikaners na África do Sul

A tensão diplomática entre Trump e Ramaphosa traz à tona a complexa história dos afrikaners na África do Sul e o legado do apartheid que ainda influencia a dinâmica sociopolítica do país. Os afrikaners, descendentes principalmente de colonos holandeses, desenvolveram uma identidade cultural e linguística própria ao longo dos séculos, criando inclusive um idioma derivado do holandês. Após a implementação formal do apartheid em 1948, este grupo exerceu controle quase absoluto sobre o aparato estatal sul-africano, institucionalizando um sistema de segregação racial que garantiu privilégios sistemáticos à minoria branca. Com o fim do regime segregacionista em 1994 e a eleição de Nelson Mandela, o país iniciou um processo de transformação social e reconciliação histórica que ainda está em curso, buscando equilibrar a necessidade de reparação das injustiças históricas com a construção de uma sociedade multirracial democrática. As políticas de reforma agrária e empoderamento econômico da população negra, embora necessárias para corrigir desigualdades estruturais, são frequentemente distorcidas em narrativas internacionais que ignoram o contexto histórico de apropriação territorial durante o período colonial e do apartheid. O confronto no Salão Oval evidencia como estas questões históricas complexas podem ser simplificadas e instrumentalizadas politicamente, ignorando as nuances de um processo de justiça transicional ainda em desenvolvimento na jovem democracia sul-africana.