Trump anuncia tarifa de 100% sobre filmes estrangeiros e justifica medida para salvar Hollywood

Ameaça de Trump sobre filmes estrangeiros pesa sobre Netflix e Disney.
Medida protecionista visa frear produção cinematográfica no exterior.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na noite do último domingo (04/05) uma medida econômica controversa que impactará diretamente a indústria cinematográfica global. Em publicação feita através de sua rede social Truth Social, o mandatário autorizou o Departamento de Comércio e o Representante de Comércio dos Estados Unidos a iniciarem imediatamente o processo para impor uma tarifa de 100% sobre todos os filmes produzidos fora do território americano que entrem no mercado estadunidense. A decisão, segundo Trump, visa proteger a indústria cinematográfica norte-americana que, em suas palavras, “está morrendo muito rapidamente” devido aos incentivos oferecidos por outros países para atrair produções que tradicionalmente seriam realizadas em solo americano. O presidente argumentou que cidades estrangeiras como Toronto, no Canadá, e Dublin, na Irlanda, têm oferecido grandes incentivos fiscais para que estúdios de cinema e televisão transfiram suas produções para fora de Hollywood, considerado historicamente o maior centro de produção cinematográfica do mundo. A medida protecionista foi anunciada em um momento de crescente tensão comercial entre os Estados Unidos e diversos países, especialmente a China, que já havia anunciado em abril que reduziria “moderadamente” a quantidade de filmes estadunidenses exibidos em seu território como resposta às tarifas impostas pelos EUA sobre produtos chineses, que chegam a 145%.
A indústria cinematográfica representa um setor crucial da economia americana, gerando mais de 2,3 milhões de empregos e movimentando aproximadamente 279 bilhões de dólares (equivalente a 1,578 trilhão de reais) em vendas somente no ano de 2022, conforme dados da Motion Picture Association. Nas últimas décadas, contudo, tem-se observado uma crescente tendência de “fuga” das produções para outros países que oferecem vantagens fiscais significativas, permitindo que os estúdios reduzam consideravelmente seus custos de produção. Este fenômeno, conhecido como “runaway productions” (produções fugitivas), tem afetado não apenas a economia de regiões tradicionalmente associadas à indústria cinematográfica, como Hollywood e outras áreas da Califórnia, mas também impactado toda a cadeia de profissionais e serviços que dependem dessa indústria nos Estados Unidos. Trump classificou essa situação como uma “devastação” para Hollywood e diversas outras regiões do país, chegando a caracterizar o fenômeno como “um esforço conjunto de outras nações e, portanto, uma ameaça à Segurança Nacional”. Em sua declaração, o presidente americano também levantou questões relacionadas ao conteúdo das produções, afirmando que “é, além de tudo, mensagem e propaganda”, sugerindo preocupações com a influência cultural e ideológica que filmes produzidos em outros países poderiam exercer sobre o público americano. O secretário de Comércio, Howard Lutnick, demonstrou alinhamento com a decisão presidencial ao republicar a mensagem de Trump e adicionar que está “trabalhando na questão”, sinalizando que os órgãos governamentais já estão em movimento para implementar a medida anunciada.
Apesar do anúncio, ainda não foram divulgados detalhes específicos sobre as condições de aplicação dessas tarifas, deixando diversas questões em aberto sobre como essa política será efetivamente implementada. Um ponto particularmente nebuloso diz respeito ao método de aplicação dessas tarifas, considerando que atualmente os filmes são distribuídos por diversos canais, incluindo cinemas tradicionais, televisão a cabo e, cada vez mais, plataformas de streaming. Estas últimas operam sob modelos de negócio completamente diferentes dos sistemas tradicionais de distribuição cinematográfica, o que poderia criar desafios significativos para a implementação uniforme da tarifa anunciada. Outro aspecto relevante é que o anúncio não fez menção às séries de televisão, que constituem um setor cada vez mais popular e rentável para a indústria audiovisual, e que também frequentemente são produzidas fora dos Estados Unidos pelos mesmos motivos econômicos. A medida de Trump se insere em um contexto mais amplo de políticas protecionistas que têm caracterizado sua administração, com foco particular na proteção da indústria e dos empregos americanos frente à competição estrangeira. No caso específico da China, que foi mencionada como “principal alvo” das medidas de Trump, a tensão comercial já vinha escalando, com ambos os países adotando medidas retaliatórias que afetam diversos setores econômicos. A indústria cinematográfica americana tem uma relação complexa com o mercado chinês, que representa um dos maiores públicos consumidores de filmes do mundo, mas que também impõe severas restrições ao número de produções estrangeiras que podem ser exibidas em seu território anualmente, além de exercer um rígido controle sobre o conteúdo desses filmes.
A repercussão da medida já começou a gerar debates intensos tanto nos Estados Unidos quanto internacionalmente, com especialistas do setor questionando a eficácia e as possíveis consequências dessa política protecionista. Críticos argumentam que a imposição de tarifas tão elevadas poderia resultar em retaliações por parte de outros países, potencialmente limitando a distribuição global de filmes americanos e reduzindo suas receitas internacionais, que frequentemente representam mais da metade do faturamento total das grandes produções de Hollywood. Além disso, existe o temor de que a medida possa encarecer significativamente o custo dos ingressos de cinema para o público americano, uma vez que os distribuidores provavelmente repassariam parte desse aumento de custos aos consumidores finais. Por outro lado, defensores da política argumentam que a proteção da indústria cinematográfica americana é fundamental não apenas do ponto de vista econômico e empregatício, mas também como forma de preservar a influência cultural dos Estados Unidos no cenário global. O próximo passo será observar como o Departamento de Comércio e o Representante de Comércio dos Estados Unidos irão estruturar e implementar essa tarifa, definindo critérios claros sobre quais produções serão consideradas “estrangeiras” (considerando que muitos filmes são produções multinacionais com financiamento e equipes de diversos países) e como será calculado o valor a ser cobrado. Também será importante acompanhar as reações oficiais de governos estrangeiros e estúdios internacionais, bem como a resposta das grandes plataformas de streaming, que poderiam ser significativamente afetadas por essa medida caso ela se estenda também ao conteúdo distribuído digitalmente. O futuro da indústria cinematográfica global pode estar prestes a sofrer uma transformação significativa, dependendo de como essa política protecionista for implementada e das respostas que ela provocar no mercado internacional.
O presidente dos EUA voltou a fazer novas ameaças relacionadas a tarifas
Com a ameaça aos filmes estrangeiros, que podem ser taxados em 100% ao chegar no país, as Bolsas de NY abrirem a sessão desta segunda-feira (5) em baixa, com destaque para as ações da Netflix e da Disney.
Às 10h34 de Brasília, as ações da Netflix (NFLX) caíam 3,76% em NY, enquanto a Disney (DIS) abriu a sessão com baixa de 3,35%.
Impactos econômicos e culturais da nova política tarifária
As implicações dessa nova política tarifária de 100% sobre filmes estrangeiros ultrapassam o âmbito puramente econômico e tocam em questões fundamentais sobre a globalização da indústria do entretenimento no século XXI. A produção cinematográfica moderna raramente se limita a um único país, com equipes multinacionais, locações espalhadas pelo mundo e financiamento proveniente de diversas fontes internacionais. Essa interconexão global da indústria cinematográfica torna particularmente desafiador determinar com precisão a “nacionalidade” de um filme. Muitas produções consideradas americanas já são filmadas em países como Canadá, Reino Unido, Austrália ou Nova Zelândia, aproveitando incentivos fiscais locais, mas mantendo o controle criativo e financeiro em mãos americanas. A medida anunciada por Trump poderá criar um cenário de incerteza jurídica e comercial para essas produções híbridas, potencialmente forçando uma redefinição do que constitui um “filme americano” no contexto regulatório. As consequências dessa política protecionista serão monitoradas atentamente pelos diversos atores do mercado global de entretenimento, incluindo estúdios, distribuidores, exibidores e plataformas de streaming, que precisarão adaptar suas estratégias de produção e distribuição caso a medida seja efetivamente implementada nos moldes anunciados pelo presidente americano. A indústria cinematográfica, que já enfrentava transformações profundas devido à ascensão das plataformas digitais e às mudanças nos hábitos de consumo do público, agora se vê diante de mais um desafio significativo que poderá redesenhar o mapa global da produção audiovisual nos próximos anos.