Tensão em Los Angeles aumenta com chegada da Guarda Nacional para conter protestos

Tensão em Los Angeles Escalada com a Chegada da Guarda Nacional para Conter Protestos.
Confrontos intensificam após decisão de Trump.
A cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos, enfrenta seu terceiro dia consecutivo de violentos protestos após a chegada de soldados da Guarda Nacional enviados pelo presidente Donald Trump no último domingo (8). A mobilização militar, que começou com a chegada de aproximadamente 300 soldados dos 2.000 autorizados, gerou ainda mais tensão nas ruas da segunda maior cidade americana, onde manifestantes protestam contra as operações de detenção de supostos imigrantes irregulares que estão sendo realizadas pelo governo federal. No domingo, homens encapuzados queimaram carros e bloquearam uma das principais autoestradas da cidade, sendo reprimidos pelas forças de segurança com gás lacrimogêneo e balas de borracha. Segundo o chefe do Departamento de Polícia de Los Angeles (LAPD), Jim McDonnell, cerca de 60 pessoas foram presas durante os confrontos, enquanto outras fontes apontam para pelo menos 27 detenções. A escalada de violência é resultado direto das operações anti-imigração ordenadas por Trump, que intensificou as rusgas em bairros predominantemente hispânicos da Califórnia, estado conhecido por sua forte presença de comunidades latinas.
A decisão do presidente Trump de mobilizar a Guarda Nacional para conter os protestos em Los Angeles marcou um momento histórico nas relações entre o governo federal e estadual. Esta foi a primeira vez em seis décadas que um presidente americano mobilizou militares da reserva de um estado sem o consentimento do governador local, fato que não acontecia desde 1965, quando o então presidente Lyndon Johnson enviou tropas para garantir a proteção de uma marcha no estado do Alabama em defesa dos direitos civis da população negra, passando por cima da autoridade do segregacionista governador George Wallace. O governador da Califórnia, Gavin Newsom, do Partido Democrata, criticou duramente o envio das tropas federais e afirmou que o presidente comete abuso de poder ao tentar militarizar a Califórnia. Em uma carta enviada a Trump na tarde de domingo, Newsom solicitou a retirada das tropas da Guarda Nacional, classificando a mobilização como uma “grave violação da soberania do Estado”. A prefeita de Los Angeles, Karen Bass, concordou com esse posicionamento, declarando que a escalada de violência foi “provocada” pela utilização das tropas da Guarda Nacional, que normalmente são destacadas apenas em circunstâncias excepcionais. A tensão política entre o governo republicano de Trump e o governo democrata da Califórnia adiciona uma camada extra de complexidade à situação já volátil nas ruas de Los Angeles.
Os protestos em Los Angeles começaram na sexta-feira, quando moradores descobriram que agentes do Serviço de Imigração e Controle de Alfândega dos EUA (ICE) estavam realizando operações por toda a cidade. De acordo com a deputada Nanette Barragán, do Partido Democrata da Califórnia, os protestos iniciaram porque os moradores acreditavam que agentes de imigração planejavam uma operação contra trabalhadores diaristas em uma loja da Home Depot nas proximidades. A parlamentar relatou ter sido aconselhada a se preparar para até 30 dias de operações conduzidas pelo ICE. Essas ações fazem parte da intensificação das operações de imigração durante o mandato de Trump, que no mês passado ordenou aos agentes federais que prendessem 3.000 pessoas por dia. Conforme sua diretiva, os agentes do ICE estão autorizados a localizar, deter e deportar os imigrantes ilegais que vivem nos Estados Unidos. Em resposta aos protestos, Trump utilizou uma rede social para declarar que “multidões violentas” estão atacando agentes federais e prometeu que “a ordem será restaurada e os ilegais serão expulsos”. O memorando assinado pelo presidente autorizou o envio de 2.000 soldados da Guarda Nacional para a região por um período de 60 dias, o que sugere que o governo federal está se preparando para uma operação de longa duração, potencialmente agravando ainda mais as tensões na cidade.
A situação permanecia tensa na manhã de segunda-feira (9) em Los Angeles, com forte presença militar nas ruas da cidade. A Guarda Nacional, que faz parte da reserva das Forças Armadas dos EUA e consiste em dois ramos (Exército e Aérea), conta com aproximadamente 419 mil reservistas em todo o país, segundo dados de 2023 do Defense Manpower Data Center, órgão de coleta de dados do Departamento de Defesa dos EUA. A mobilização dessas forças em um contexto de protestos civis levanta sérias questões sobre o uso da força por agentes de segurança pública, especialmente considerando que, conforme padrões internacionais, esse uso deve sempre respeitar as obrigações do Estado perante o direito internacional dos direitos humanos. Analistas políticos apontam que a escalada do conflito em Los Angeles pode ter repercussões significativas para a política migratória dos Estados Unidos e para as relações entre o governo federal e os estados com políticas mais progressistas em relação à imigração. Com a continuidade das operações anti-imigração previstas para as próximas semanas e a permanência das forças da Guarda Nacional por pelo menos 60 dias, existe o temor de que os protestos possam se espalhar para outras cidades com grandes comunidades de imigrantes, transformando a questão em uma crise nacional de maiores proporções.
Trump Apoia Prisão de Governador da Califórnia Após Protestos em Los Angeles
Los Angeles, 10 de julho de 2025 – O presidente Donald Trump intensificou o conflito com o governador da Califórnia, Gavin Newsom, ao declarar apoio à possível prisão do democrata na segunda-feira, em meio a protestos contra políticas de imigração que agitam Los Angeles desde o último fim de semana. As declarações de Trump ocorrem após Newsom ameaçar processar o governo federal pelo envio da Guarda Nacional ao sul da Califórnia, uma ação que o governador considera ilegal.
Os protestos, que entraram no quinto dia, foram desencadeados por operações do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE), que resultaram na prisão de pelo menos 44 pessoas por supostas violações de imigração. As manifestações, por vezes violentas, levaram Trump a mobilizar a Guarda Nacional sem consultar Newsom, uma medida incomum que gerou críticas. No X, Newsom classificou a ameaça de prisão como “um passo claro rumo ao autoritarismo”.
“Isso é exatamente o que Trump queria. Ele jogou lenha na fogueira e agiu ilegalmente ao federalizar a Guarda Nacional”, afirmou Newsom, potencial candidato democrata à presidência em 2028. O procurador-geral da Califórnia, Rob Bonta, anunciou que entrou com uma ação judicial contra a medida, embora detalhes do processo ainda não tenham sido confirmados.
Contexto do Conflito
A lei federal permite que o presidente mobilize a Guarda Nacional em casos de invasão, rebelião ou incapacidade de executar leis com forças regulares. Trump, ao retornar de Camp David, foi questionado sobre a possibilidade de Tom Homan, chefe de política de fronteira, prender Newsom por obstrução às ações do ICE. “Eu faria isso se fosse Tom. Acho ótimo”, respondeu o presidente, ironizando que Newsom “gosta da publicidade”.
As ruas de Los Angeles, bastião democrata, amanheceram mais calmas nesta terça-feira, mas a tensão persiste. A prefeita Karen Bass condenou tanto a violência de alguns manifestantes, que incendiaram carros e atacaram policiais, quanto o envio da Guarda Nacional, acusando o governo Trump de “criar caos desnecessário”. Trump, por sua vez, acusou Bass e Newsom de minimizarem a violência, afirmando no X que a Guarda Nacional “salvou Los Angeles da destruição”.
Impactos das medidas migratórias de Trump na comunidade latina
As recentes ações do governo Trump contra imigrantes em situação irregular têm gerado profunda preocupação entre as comunidades latinas não apenas em Los Angeles, mas em todo o país. A intensificação das operações de deportação, com a meta de 3.000 prisões diárias, representa uma das políticas migratórias mais agressivas da história recente dos Estados Unidos. Especialistas em direitos humanos alertam que essa abordagem pode resultar em separações familiares e impactos psicológicos significativos para as comunidades afetadas, além de prejudicar a economia local que depende fortemente da mão de obra imigrante. A mobilização militar contra manifestantes civis também estabelece um precedente preocupante para a resposta do governo federal a protestos sociais, especialmente quando realizada contra a vontade expressa das autoridades locais e estaduais. O confronto entre diferentes esferas de governo reflete a polarização política que continua a dividir profundamente o país, com possíveis repercussões para as eleições futuras e para a estabilidade institucional americana.