Taiwan teme perder liderança para China na fabricação de chips e busca alianças estratégicas

Taiwan teme perder supremacia na produção de chips para a China e busca parcerias estratégicas.
Gigante asiática enfrenta desafios para manter domínio tecnológico.
Taiwan demonstra crescente preocupação com a possibilidade de perder sua posição dominante na indústria global de semicondutores para a China nos próximos anos, conforme revelam análises do setor divulgadas em junho de 2025. O país, responsável por mais de 60% da produção mundial de semicondutores e quase 90% dos chips mais sofisticados, enfrenta agora a ameaça do avanço chinês no setor, impulsionado pelo programa “Made in China 2025” e pelos recentes investimentos em tecnologia RISC-V. As autoridades taiwanesas, incluindo o Ministro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, Wu Cheng-wen, defendem que a indústria de chips é complexa e necessita de uma divisão de trabalho global, rejeitando a ideia de que apenas um país deva controlar todo o setor. Esta posição surge em resposta às recentes críticas do presidente americano Donald Trump, que manifestou o desejo de retomar a fabricação de chips nos Estados Unidos, questionando a dominância taiwanesa no mercado. A Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), maior fabricante de chips por contrato do mundo, já enfrenta atrasos em suas operações internacionais, tendo postergado a abertura de instalações nos Estados Unidos até 2025 devido à “escassez de trabalhadores especializados”.
O cenário atual coloca Taiwan em uma posição estratégica delicada, funcionando como um “escudo de silício” que muitos especialistas em geopolítica consideram um fator dissuasivo contra possíveis agressões militares da China. Essa vulnerabilidade é amplificada pela dependência econômica: cerca de 60% das exportações de chips taiwaneses em 2023 foram direcionadas para a China, seu maior mercado consumidor. Simultaneamente, Taiwan depende dos Estados Unidos para equipamentos avançados de fabricação, posicionando a ilha no centro da disputa tecnológica entre as duas potências mundiais na corrida pela inteligência artificial. As restrições impostas pelos Estados Unidos às exportações de semicondutores para a China têm gerado repercussões significativas para os fabricantes taiwaneses. Tais restrições forçaram empresas líderes como a TSMC a cancelar vendas para clientes chineses, resultando em uma queda de receita. Após as abrangentes limitações anunciadas pela administração Biden no final de 2022, visando conter o desenvolvimento de sistemas militares avançados pela China, a receita anual da TSMC sofreu uma redução de 4,17%. Essa pressão econômica ocorre em um momento crítico para o setor de semicondutores taiwanês, que testemunha uma diminuição de sua participação no portfólio da TSMC – a exposição à China, que havia aumentado para 20% entre 2018 e 2020, despencou para 10% em 2021, enquanto 65% da receita nesse mesmo ano veio da América do Norte, refletindo os impactos diretos da proibição dos Estados Unidos contra a Huawei em 2020.
A China, consciente de sua dependência tecnológica, tem intensificado esforços para desenvolver sua própria indústria de semicondutores, estabelecendo-se como o principal destino de investimentos no setor. Segundo a SEMI (Semiconductor Equipment and Materials International), o país asiático continuará sendo o destino principal para investimentos em chips em 2025, enquanto Taiwan deverá investir aproximadamente 21 bilhões de dólares, reafirmando seu papel crucial no fornecimento de chips de IA para empresas globais. Os dados de fluxo comercial de 2021 revelam que as importações de semicondutores da China totalizaram mais de 430 bilhões de dólares, com 36% provenientes de Taiwan. A China depende fortemente da TSMC para fornecer semicondutores de ponta para sua indústria de eletrônicos de consumo, o que explica por que Pequim tem pouco incentivo para restringir o comércio de chips com Taiwan, evitando assim prejudicar sua própria economia. Em contraste, a TSMC tem reduzido sua dependência do mercado chinês. Embora a China continue sendo um mercado crucial, o gigante taiwanês tem diversificado suas operações, em parte devido às tensões geopolíticas e às restrições comerciais impostas pelos EUA. A participação de mercado global da TSMC cresceu de 53% para 56% em receita em 2022, e a empresa detém mais de 60% da capacidade mundial de fabricação dos semicondutores mais avançados, um domínio que reforça sua importância estratégica para as cadeias globais de suprimento de tecnologia.
O futuro da indústria de semicondutores de Taiwan dependerá de sua capacidade de navegar entre as tensões geopolíticas e manter sua vantagem tecnológica em um cenário cada vez mais competitivo. O ministro Wu Cheng-wen destacou que o sucesso de Taiwan não foi obtido facilmente, mas resultado de meio século de trabalho árduo, incluindo iniciativas governamentais desde a década de 1970 e a fundação da TSMC em 1987. Esta narrativa contrapõe-se às afirmações de que Taiwan “tomou” a indústria de outros países, enfatizando os investimentos sustentados e a inovação contínua como fatores determinantes para o seu sucesso. O presidente William Lai reforçou que Taiwan continuará sendo um parceiro confiável na cadeia de suprimentos democrática da indústria global de semicondutores. Para proteger sua posição privilegiada, Taiwan busca agora fortalecer alianças estratégicas com parceiros democráticos, especialmente com os Estados Unidos e outros países que compartilham preocupações sobre a crescente influência tecnológica da China. Esta estratégia de formação de blocos tecnológicos visa não apenas preservar a vantagem competitiva de Taiwan, mas também garantir sua segurança nacional em um contexto de crescentes tensões regionais. No entanto, analistas apontam que o verdadeiro desafio para Taiwan não é apenas manter sua liderança tecnológica, mas também equilibrar suas relações econômicas com a China e suas alianças de segurança com os Estados Unidos, enquanto enfrenta a realidade de que ambas as potências buscam desenvolver capacidades domésticas que poderiam, eventualmente, diminuir a centralidade de Taiwan na cadeia global de suprimentos de semicondutores.
Indústria global de chips caminha para reorganização em blocos geopolíticos
A indústria de semicondutores está entrando em uma nova era marcada pela fragmentação em blocos tecnológicos alinhados com interesses geopolíticos. Com a China avançando rapidamente através de investimentos massivos e iniciativas como o projeto RISC-V, e os Estados Unidos implementando o CHIPS Act para impulsionar sua produção doméstica, Taiwan precisará adaptar sua estratégia para manter sua relevância global. A formação destes blocos tecnológicos representa tanto um desafio quanto uma oportunidade para Taiwan, que pode capitalizar sua expertise e infraestrutura estabelecida para se posicionar como um parceiro indispensável em um ecossistema tecnológico cada vez mais polarizado, garantindo assim sua continuidade como líder global na fabricação dos chips mais avançados do mundo.