Reino Unido e União Europeia fecham acordo histórico para fortalecer cooperação pós-Brexit

Pacto abrangente marca nova era nas relações bilaterais em meio a tensões globais.
O Reino Unido e a União Europeia assinaram na segunda-feira, 19 de maio de 2025, um acordo histórico de comércio e defesa, representando a maior parceria entre as partes desde a saída dos britânicos do bloco europeu há cinco anos. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, declarou durante cúpula realizada em Londres que o acordo sobre a nova Parceria Estratégica “marca uma nova era” nas relações bilaterais, destacando que seu país está “de volta ao cenário mundial”. A assinatura ocorre em um momento estratégico, quando ambas as partes enfrentam desafios econômicos e geopolíticos significativos, incluindo o “tarifaço” recentemente anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O acordo abrange diversos setores cruciais, como defesa, comércio, pesca e mobilidade juvenil, buscando reduzir barreiras impostas pelo Brexit e fortalecer a cooperação em áreas sensíveis. Nick Thomas-Symonds, ministro britânico da Constituição e das Relações com a União Europeia, classificou a ocasião como um “dia histórico”, afirmando que a parceria foi firmada “após meses de negociações” e que beneficiará “empregos”, “contas”, “fronteiras e mais”. A cúpula contou com a presença de importantes lideranças europeias, incluindo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, António Costa, simbolizando a relevância diplomática do momento para ambos os lados.
Entre os principais pontos do acordo está a possibilidade de participação do Reino Unido em aquisições conjuntas de armamentos e o acesso de empresas britânicas de armas a licitações dentro da União Europeia para compra de produtos bélicos, como parte de um programa de 150 bilhões de euros destinado ao rearmamento europeu. O pacto também estabelece um acesso facilitado de alimentos e visitantes britânicos ao território da UE, além de garantir a redução permanente da burocracia e dos controles de fronteira que impediam pequenos produtores britânicos de exportar para a Europa. Um dos aspectos mais delicados das negociações envolveu a prorrogação do direito de traineiras europeias pescarem em águas do Reino Unido, que foi estendido até 30 de junho de 2038, em troca da redução de barreiras comerciais à entrada de produtos alimentícios britânicos no mercado único europeu. Adicionalmente, o acordo prevê a criação de um programa para a mobilidade de jovens e a participação de britânicos no programa Erasmus, de intercâmbio de universitários europeus, reforçando os laços educacionais e culturais entre as duas regiões. Starmer enfatizou que o acordo sanitário e fitossanitário para alinhar as regras do setor agroalimentar “impulsionará as exportações britânicas e tornará os produtos mais baratos nos supermercados”, beneficiando diretamente os consumidores britânicos e fortalecendo o comércio bilateral.
A reaproximação entre o Reino Unido e a União Europeia ocorre em um cenário internacional complexo, marcado pela guerra na Ucrânia e pela guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos. Esse contexto geopolítico levou o Reino Unido a buscar fortalecer laços com seus vizinhos europeus, que naturalmente deveriam ser seus parceiros comerciais e de segurança mais próximos. O acordo também reflete uma resposta às políticas protecionistas de Trump, que impôs tarifas de 20% à União Europeia, enquanto o Reino Unido conseguiu reduzir suas taxas de 25% para 10% após negociações com Washington. Apesar do otimismo demonstrado pelas autoridades britânicas, a mesa de negociações foi tensa e envolveu assuntos delicados, especialmente no que diz respeito aos direitos de pesca, um tema que havia sido particularmente controverso durante as negociações do Brexit. Pesquisas de opinião recentes indicam que a maioria dos britânicos se arrependeu de votar pelo Brexit e é favorável à UE, o que pode ter influenciado a disposição do governo trabalhista em buscar uma reaproximação com o bloco europeu. Contudo, o acordo é anunciado em um momento em que o partido nacionalista e pró-Brexit, o Reform, lidera as pesquisas de intenção de voto, o que sugere que a política interna britânica continua dividida em relação à União Europeia. A reaproximação estava prevista no programa de governo que elegeu os trabalhistas no ano passado, representando o cumprimento de uma promessa eleitoral importante para a administração de Starmer.
Terceiro grande acordo em três semanas reposiciona Reino Unido no cenário internacional
O primeiro-ministro Keir Starmer destacou que este é o terceiro grande acordo internacional fechado pelo Reino Unido em apenas três semanas, referindo-se a assinaturas de entendimento anteriores com os Estados Unidos e a Índia. Esta sequência de acordos representa um esforço coordenado da administração trabalhista para reposicionar o país no cenário global após os anos de turbulência e isolamento que se seguiram ao Brexit. As negociações que resultaram no acordo com a União Europeia se estenderam por seis meses, demonstrando a complexidade dos temas tratados e a importância estratégica da parceria para ambas as partes. Analistas políticos e especialistas em relações internacionais avaliam que o acordo representa uma vitória diplomática significativa para o governo Starmer, que tem buscado reparar os danos causados pelo Brexit às relações do Reino Unido com seus vizinhos europeus, sem contudo reverter a decisão de saída do bloco. Em seu pronunciamento, o premiê britânico enfatizou que “este acordo é uma vitória para ambos os lados e alcança o que o povo britânico votou: ele nos dá acesso sem precedentes ao mercado da UE, mantendo as linhas vermelhas do nosso programa eleitoral”. As perspectivas futuras indicam que esta reaproximação pode abrir caminho para novos entendimentos em áreas como cooperação científica, proteção ambiental e segurança cibernética, temas que não foram completamente cobertos pelo atual acordo, mas que são considerados prioritários tanto para o Reino Unido quanto para a União Europeia no atual cenário global de transformações tecnológicas e desafios climáticos.
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