Putin reúne Lula e Xi Jinping em Moscou para celebração do Dia da Vitória

Encontro de líderes globais na Rússia marca celebração dos 80 anos da vitória soviética.
O presidente russo Vladimir Putin recebeu na quinta-feira (8) o presidente chinês Xi Jinping e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva em Moscou para as celebrações dos 80 anos do Dia da Vitória, data que marca a tomada de Berlim pelo Exército soviético na Segunda Guerra Mundial. O evento, considerado um dos principais feriados da Rússia, está sendo realizado com grande pompa e cerimônia, incluindo um desfile militar na capital russa. A presença dos líderes de duas das maiores economias emergentes ao lado de Putin ocorre em um contexto geopolítico delicado, com a Rússia ainda envolvida no conflito com a Ucrânia. Xi Jinping chegou a Moscou na quarta-feira (7), em uma visita que foi precedida por ataques de drones ucranianos à capital russa, o que levou ao fechamento temporário de aeroportos. Já Lula, que embarcou para a Rússia no início da semana, participou de um jantar oficial com Putin no Kremlin, sede do governo russo e residência oficial do líder do país. Este encontro marca a primeira vez que Lula e Putin se reúnem durante o atual mandato do brasileiro, que foi convidado diretamente pelo presidente russo para participar das comemorações.
A visita de Lula à Rússia ocorre dentro de uma agenda internacional mais ampla que também inclui uma viagem à China nos próximos dias. O presidente brasileiro buscará retomar seu papel de possível mediador no conflito entre Rússia e Ucrânia, algo que tentou no início de seu mandato, mas sem conseguir avanços significativos. As relações diplomáticas entre Brasil e Rússia têm se fortalecido nos últimos anos, com ambos os países integrando o bloco BRICS, que também inclui China, Índia e África do Sul. Esta aproximação se dá em um momento de crescente tensão entre as potências ocidentais e a Rússia, especialmente após a invasão da Ucrânia. Durante sua estadia em Moscou, Lula também deve se encontrar com outros líderes presentes nas celebrações, incluindo o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, com quem tinha uma reunião agendada no ano passado que precisou ser cancelada devido a problemas de saúde do presidente brasileiro. A celebração do Dia da Vitória deste ano tem um significado especial por marcar o 80º aniversário da vitória soviética sobre a Alemanha nazista, e o Kremlin aproveitou a ocasião para reunir aliados estratégicos, reforçando suas alianças em um momento em que o país enfrenta sanções econômicas e isolamento diplomático por parte das potências ocidentais.
A presença de Lula e Xi Jinping em Moscou para as celebrações do Dia da Vitória tem gerado análises divergentes sobre o posicionamento do Brasil e da China no atual cenário geopolítico. Alguns especialistas consideram que a visita de Lula a Putin envia uma mensagem contraditória aos valores democráticos que o presidente brasileiro defendeu durante sua campanha eleitoral. Analistas políticos apontam que a Rússia sob Putin é caracterizada por restrições a direitos políticos, liberdades individuais e liberdade de expressão, além de manter os ataques à Ucrânia iniciados há mais de três anos. Por outro lado, a diplomacia brasileira argumenta que manter canais de diálogo abertos com todas as potências mundiais é essencial para a construção de uma ordem internacional multipolar e para a possibilidade de mediação em conflitos. Para a China, a aproximação com a Rússia representa um contrapeso estratégico à influência americana, especialmente em um momento de acirramento da guerra comercial entre Pequim e Washington. Xi Jinping tem fortalecido sua aliança com Putin como parte de uma estratégia mais ampla para desafiar a hegemonia ocidental no sistema internacional. O encontro dos três líderes em Moscou também pode ser interpretado como um fortalecimento do eixo Sul Global, com Brasil e China se posicionando como alternativas de poder frente às potências tradicionais do Ocidente.
Após as celebrações em Moscou, o presidente Lula seguirá para a China, onde participará da Cúpula entre o país asiático e nações da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) nos dias 12 e 13 de maio. Esta será sua segunda visita oficial à China neste terceiro mandato, demonstrando a importância estratégica que o Brasil confere às relações com Pequim. O encontro bilateral entre Lula e Xi Jinping ocorrerá em um contexto de intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China, as duas maiores economias mundiais, o que tem causado turbulências nos mercados financeiros globais e alimentado temores de uma recessão. Os desdobramentos desta aproximação entre Brasil, Rússia e China poderão ter impactos significativos para a configuração da ordem mundial nos próximos anos, especialmente no que diz respeito à integração da América do Sul e ao fortalecimento dos BRICS como bloco de influência global. A postura de Lula de manter relações próximas tanto com as potências ocidentais quanto com Rússia e China reflete uma tentativa de posicionar o Brasil como um ator relevante no cenário internacional, capaz de dialogar com diferentes polos de poder. No entanto, esta estratégia também apresenta desafios, como a necessidade de equilibrar relações com países que possuem interesses conflitantes e sistemas políticos distintos, sem comprometer os valores defendidos internamente.
Visita de Lula à Rússia e China reforça posição do Brasil no cenário multipolar
A viagem de Lula para a Rússia e posteriormente para a China representa um movimento estratégico da política externa brasileira de reafirmar sua presença junto às principais potências emergentes. Em um cenário internacional cada vez mais fragmentado e multipolar, o Brasil busca fortalecer sua posição como mediador e como participante ativo nos principais fóruns globais, como os BRICS. A participação de Lula nas celebrações do Dia da Vitória em Moscou, ao lado de Putin e Xi Jinping, simboliza a aposta brasileira em uma ordem mundial menos dependente da hegemonia ocidental e mais aberta à influência de potências emergentes. Nos próximos meses, a diplomacia brasileira deverá enfrentar o desafio de traduzir esses encontros de alto nível em resultados concretos para os interesses nacionais, tanto no campo econômico quanto no político, mantendo ao mesmo tempo um delicado equilíbrio entre suas relações com o Ocidente e com o chamado Sul Global. O sucesso desta estratégia dependerá da capacidade do Brasil de preservar sua autonomia e de contribuir efetivamente para a resolução de conflitos internacionais, como a guerra na Ucrânia, sem se alinhar automaticamente a nenhum dos polos de poder global.