Proposta de paz de Trump exige que Ucrânia aceite ocupação russa

Plano final apresentado pela administração Trump inclui reconhecimento americano da Crimeia como território russo.
A administração do presidente Donald Trump apresentou uma proposta de paz para o conflito entre Rússia e Ucrânia que exige concessões significativas do governo ucraniano, incluindo a aceitação da ocupação russa em diversos territórios. Segundo informações divulgadas em abril de 2025, o documento de uma página foi apresentado a oficiais ucranianos em Paris na semana passada e é descrito como a “oferta final” do presidente americano. A Casa Branca indicou estar pronta para abandonar as negociações caso as partes não cheguem a um acordo rapidamente. O plano prevê o reconhecimento “de jure” pelos Estados Unidos do controle russo sobre a Crimeia e o reconhecimento “de facto” da ocupação russa de quase todas as áreas ocupadas desde a invasão de 2022, incluindo partes das regiões de Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que anteriormente havia descartado aceitar a ocupação russa desses territórios, agora enfrenta a difícil decisão de fazer concessões substanciais ou arriscar perder o apoio americano na guerra que se arrasta desde fevereiro de 2022.
A proposta de paz apresentada por Trump representa uma mudança significativa na postura dos Estados Unidos em relação ao conflito, priorizando um fim rápido das hostilidades mesmo que às custas da integridade territorial ucraniana. Fontes próximas ao governo ucraniano caracterizaram a proposta como altamente tendenciosa em favor da Rússia, destacando que o documento “diz muito claramente quais ganhos tangíveis a Rússia obtém, mas apenas vagamente e de forma geral diz o que a Ucrânia vai receber”. Além do reconhecimento territorial, o acordo também impediria a Ucrânia de ingressar na OTAN, embora permitisse sua adesão à União Europeia. Outras provisões incluem o levantamento das sanções impostas à Rússia desde 2014 e o aprofundamento da cooperação energética e econômica entre os Estados Unidos e a Rússia. Em março de 2025, durante declarações no Salão Oval, Trump sugeriu que os EUA poderiam impor “penalidades devastadoras” financeiramente à Moscou caso não aceitassem a proposta de cessar-fogo. “Há coisas que você pode fazer que não seriam agradáveis em sentido financeiro. Eu posso fazer coisas financeiramente”, afirmou o presidente americano, que também criticou seus predecessores George W. Bush, Barack Obama e Joe Biden por não terem conseguido deter a expansão russa na Geórgia e na Crimeia, que culminou na invasão de 2022.
Embora o presidente russo Vladimir Putin tenha supostamente oferecido congelar as atuais linhas de frente para alcançar um acordo, ele rejeitou anteriormente outros elementos da estrutura americana, como uma força de manutenção da paz europeia em território ucraniano. A resposta da Ucrânia à proposta americana era esperada para quarta-feira, colocando Zelensky em uma posição extremamente delicada. Aceitá-la significaria ceder formalmente territórios que a Ucrânia sempre afirmou recuperar, enquanto rejeitá-la poderia resultar no abandono do apoio americano em um momento crítico do conflito. O dilema ucraniano é agravado pela falta de garantias concretas sobre o que o país receberia em troca dessas concessões territoriais. Analistas internacionais apontam que esta proposta marca uma nova fase na política externa americana sob Trump, priorizando acordos rápidos e pragmáticos sobre princípios de direito internacional como a inviolabilidade das fronteiras. A postura americana também representa uma mudança significativa em relação à administração Biden, que consistentemente apoiou a posição ucraniana de que qualquer acordo de paz deveria respeitar a integridade territorial do país conforme reconhecida internacionalmente.
O desfecho dessas negociações terá profundas implicações para o futuro da ordem geopolítica global e para as relações entre os Estados Unidos, Rússia e Europa. Se concretizado nos termos propostos por Trump, o acordo de paz estabelecerá um precedente preocupante ao normalizar a anexação territorial por meio de força militar, potencialmente encorajando comportamentos semelhantes por outras potências regionais em diferentes partes do mundo. Para a Ucrânia, a decisão representa um momento decisivo em sua história recente: aceitar a perda permanente de territórios em troca de paz, ou continuar uma guerra custosa com apoio internacional incerto. A posição de Trump, que durante sua campanha prometeu encerrar rapidamente o conflito, reflete sua visão transacional da política externa, priorizando acordos tangíveis sobre princípios abstratos. Enquanto isso, a União Europeia observa atentamente os desdobramentos, ciente de que qualquer resolução do conflito moldará profundamente seu relacionamento tanto com a Rússia quanto com os Estados Unidos nas próximas décadas. O mundo aguarda agora a resposta ucraniana, que independentemente de sua natureza, marcará um ponto de inflexão no conflito que já dura mais de três anos e redefinirá o mapa político do Leste Europeu para as próximas gerações.
Impacto global da proposta americana
A iniciativa de paz proposta pela administração Trump representa uma reconfiguração significativa nas relações internacionais e na abordagem americana para conflitos territoriais. As concessões exigidas da Ucrânia e o reconhecimento formal da anexação da Crimeia pela Rússia sinalizam uma mudança radical na política externa dos EUA, potencialmente estabelecendo novos paradigmas para resolução de conflitos em um mundo cada vez mais multipolar. Enquanto a Casa Branca pressiona por uma conclusão rápida das negociações, o restante da comunidade internacional observa atentamente as implicações desta proposta para a estabilidade regional e para os princípios fundamentais que regem as relações entre estados soberanos desde o fim da Segunda Guerra Mundial.