Presidente da CNI condena aumento do IOF e propõe taxação de bets e bigtechs

Presidente da CNI critica aumento do IOF e sugere taxação de bets e big techs.
Indústria defende equilíbrio tributário.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, manifestou-se contrário ao recente aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em pronunciamento realizado durante evento pelo Dia da Indústria em Brasília na segunda-feira, 26 de maio. Em seu discurso, Alban defendeu que o governo federal deveria buscar alternativas para o equilíbrio fiscal, como a tributação de apostas online e grandes empresas de tecnologia (bigtechs), poupando o setor produtivo de novos encargos. A declaração ocorre poucos dias após a publicação do decreto presidencial que praticamente dobrou a carga do IOF para pessoas jurídicas, elevando a alíquota anual máxima de 1,88% para 3,95%. “Se temos que buscar algum tipo de equação de equilíbrio, temos outras soluções. Não podemos onerar o setor produtivo, porque, no fim, quem paga é o consumidor. Não é o setor produtivo, não é a indústria; é o consumidor”, afirmou Alban durante o evento. O pronunciamento do líder industrial ecoa a preocupação de diversos setores econômicos, que calculam um aumento de custos na ordem de R$ 19,5 bilhões apenas para o que resta de 2025, valor que pode chegar a R$ 39 bilhões ao longo de 2026, conforme manifesto divulgado pelas principais confederações empresariais do país.
A crítica da CNI se soma à crescente tensão entre o setor produtivo e o governo federal, evidenciando um ambiente de instabilidade econômica provocado pela medida que afeta diretamente operações de crédito, câmbio e seguros. Durante seu pronunciamento, Alban fez questão de agradecer publicamente o posicionamento do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), que também se manifestou contrário ao aumento tributário em publicação nas redes sociais. “Agradeço ao deputado Hugo Motta pela posição pública diante do aumento da carga tributária. Não somos contra o Brasil, mas somos a favor do equilíbrio e do bom senso”, destacou o presidente da CNI. O líder da Câmara havia declarado que “o Brasil não precisa de mais imposto, precisa de menos desperdício” e que “quem gasta mais do que arrecada não é vítima, é autor. O Executivo não pode gastar sem freio e depois passar o volante para o Congresso segurar”. Esse posicionamento expõe a crescente tensão entre o Legislativo e o Executivo em torno da medida tributária, enquanto a oposição já articula estratégias para tentar derrubar o decreto no Congresso Nacional. O aumento do IOF foi anunciado como parte das medidas para compensar a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores e de pequenos municípios, tema que tem gerado intenso debate entre o governo e o Congresso desde o início de 2025.
A repercussão negativa do aumento do IOF mobilizou praticamente todo o setor produtivo brasileiro, que lançou um manifesto conjunto assinado por diversas confederações, incluindo CNC, CNI, CNA, CNseg, OCB, CNF e Abrasca. No documento, as entidades expressam preocupação com as consequências da medida para a economia nacional, destacando que a decisão “gera imprevisibilidade e aumenta os custos para produzir no país”. O manifesto aponta que a tributação no câmbio impacta diretamente a importação de insumos e bens de capital necessários para o investimento privado e a modernização do parque produtivo nacional. Além disso, criticam a tributação sobre VGBL (plano de previdência privada), argumentando que isso amplia distorções no mercado financeiro e desestimula a formação de poupança nacional de longo prazo em favor de investimentos de curto prazo. “O IOF, aliás, é um imposto regulatório, e não arrecadatório. É preciso enfrentar os problemas crônicos do Orçamento para acabar com a contínua elevação de impostos”, defende o documento. Durante seu pronunciamento, Alban também fez questão de ressaltar que o setor industrial está disposto a dialogar e construir alternativas junto ao governo: “Contem conosco não apenas para criticar e para dizer não, mas para encontrar as soluções”, afirmou, sinalizando uma postura propositiva diante da crise que se desenha no horizonte econômico do país.
Impactos econômicos e perspectivas para o futuro
As entidades empresariais alertam que, com o Brasil ostentando uma das maiores cargas tributárias do mundo, o caminho para o crescimento econômico sustentável não passa pelo aumento de impostos, mas sim pela criação de um ambiente mais favorável aos negócios que permita a expansão da atividade econômica. “É hora de respeitar o contribuinte”, conclui o manifesto das confederações, que esperam que o Congresso Nacional “se debruce sobre o tema e avalie com responsabilidade a anulação do teor do decreto do Governo Federal”. A pressão por parte do empresariado encontra ressonância em análises de especialistas que apontam que incentivos fiscais adequados têm potencial para catalisar investimentos e inovação. Estudos demonstram que determinados tipos de investimento privado podem ter efeito multiplicador superior a 5,8 na economia, aumentando significativamente as chances de sucesso dos empreendimentos e, consequentemente, gerando mais empregos e renda. Nesse contexto, a proposta de Ricardo Alban para que o governo busque alternativas de tributação em setores como as apostas online (bets) e as grandes empresas de tecnologia (bigtechs) surge como uma possível solução para o impasse fiscal sem comprometer a competitividade do setor produtivo nacional. A expectativa agora é que o diálogo entre governo, Congresso e entidades empresariais possa resultar em um caminho que concilie a necessidade de equilíbrio fiscal com a preservação da capacidade produtiva do país, evitando que o aumento da carga tributária se transforme em mais um obstáculo para a retomada consistente do crescimento econômico brasileiro em um cenário global já desafiador.