Plano de Macron para sancionar a Rússia pode ter impacto devastador na economia

Proposta francesa busca forçar cessar-fogo na Ucrânia.
O presidente francês Emmanuel Macron revelou um novo plano de sanções econômicas contra a Rússia que poderia ter efeitos devastadores na economia russa, conforme anunciado nesta semana durante reuniões com líderes europeus. A proposta, considerada audaciosa por analistas internacionais, visa pressionar Moscou a aceitar um cessar-fogo de trinta dias na guerra com a Ucrânia, conflito que se estende há mais de três anos. Macron especificou que os alvos potenciais incluiriam os setores financeiros, petrolíferos e de gás natural russo, medidas que seriam coordenadas com Washington, apesar das recentes hesitações americanas em endurecer as sanções. O plano francês surge em um momento crítico, após a Rússia ter rejeitado anteriormente propostas de cessar-fogo, levando o presidente francês a declarar publicamente que “a Rússia mostra que não quer a paz”. A União Europeia já concordou em impor uma nova rodada de sanções contra a Rússia, representando o 17º pacote desde o início do conflito, mas a proposta de Macron representa uma escalada significativa que poderia afetar setores vitais da economia russa que até agora permaneceram relativamente protegidos das medidas punitivas ocidentais.
A estratégia francesa se insere em um contexto mais amplo de tensões crescentes entre a Europa e a Rússia, onde líderes como Macron têm adotado uma retórica cada vez mais dura contra o presidente russo Vladimir Putin, a quem o líder francês recentemente descreveu como um “imperialista revisionista”. Durante seu discurso em março deste ano, Macron chamou a Rússia de “ameaça duradoura para a Europa” e defendeu o aumento da ajuda europeia à Ucrânia, anunciando que em 2025 a UE fornecerá 30,6 bilhões de euros no âmbito do Mecanismo para a Ucrânia e da iniciativa G7 ERA, financiados por juros de ativos russos retidos. O plano atual proposto pelo presidente francês vai além das sanções existentes, buscando um isolamento econômico mais profundo da Rússia. Segundo Macron, o objetivo é “conseguir um cessar-fogo de trinta dias em terra, ar e mar para discutir a questão dos territórios e das garantias de segurança”. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reagiu às declarações do presidente francês, caracterizando o discurso de Macron como “extremamente combativo” e afirmando que a França parece estar “mais focada na guerra, na continuação da guerra”. Este novo capítulo na relação franco-russa marca um distanciamento ainda maior entre as partes, com Macron demonstrando ceticismo quanto à sinceridade russa em futuras negociações, declarando que “sei que Putin pode trair os acordos que assina, o que já fez. Se há um cessar-fogo, não é para fazer uma paz duradoura. Isso servirá para retomar melhor a guerra”.
As novas medidas propostas por Macron encontram eco em um documento ucraniano de 40 páginas que será apresentado à União Europeia na próxima semana, conforme revelado por fontes diplomáticas. Este documento pede que o bloco de 27 membros assuma uma posição mais agressiva e independente em relação às sanções, especialmente considerando a incerteza sobre o futuro papel de Washington após a recente mudança de postura do presidente americano Donald Trump, que recuou no endurecimento das sanções contra a Rússia. Entre as recomendações ucranianas estão pedidos para que se adote uma legislação que acelere a apreensão de bens de indivíduos sancionados pela UE, enviando esses recursos para a Ucrânia, permitindo que as pessoas sob sanções busquem posteriormente indenização da Rússia. Além disso, o documento sugere que a UE considere uma série de medidas para aplicar suas sanções com mais força além de seu próprio território, inclusive visando empresas estrangeiras que usam tecnologia europeia para ajudar a Rússia e introduzindo “sanções secundárias sobre os compradores de petróleo russo”. No entanto, estas propostas enfrentam resistência de alguns estados-membros da UE, com a Hungria sendo o principal opositor. Embora Budapeste tenha acabado por ceder e concordado em renovar as sanções existentes, Bruxelas está atualmente considerando métodos alternativos para contornar possíveis vetos e garantir que o regime extensivo de sanções permaneça em vigor, com Valdis Dombrovskis, o Comissário Europeu para a Economia, afirmando que “estamos a explorar todas as opções” e que “precisamos de ter todos os instrumentos e todas as opções em cima da mesa”.
Impactos econômicos e perspectivas para o futuro
Apesar do otimismo europeu quanto à eficácia de novas sanções, analistas como Marco Fernandes apontam que as medidas punitivas anteriores não foram decisivas para derrotar Moscou, e que a economia de guerra russa tem demonstrado notável resiliência. Segundo dados econômicos recentes, o Produto Interno Bruto (PIB) da Rússia como poder de paridade de compra saltou 7,6% em 2024, evidenciando que “a economia russa não vai colapsar por causa destas sanções”, conforme destacado por especialistas. A Europa, por outro lado, enfrenta consequências econômicas severas derivadas do conflito, com alta do preço da energia e um processo de desindustrialização, enquanto líderes como Macron defendem o rearmamento, justificando o desmonte parcial do Estado de Bem-Estar Social. Este cenário levanta questões sobre a sustentabilidade da estratégia europeia, com alguns analistas sugerindo que “a Europa continua nessa toada meio suicida” ao insistir em mais sanções contra a Rússia, mesmo enfrentando dificuldades internas e riscos para sua própria estabilidade econômica. Para o Brasil e outros países fora do conflito direto, os impactos também são significativos, considerando que quase 70% do diesel e mais de 80% dos fertilizantes brasileiros vêm da Rússia, revelando uma forte dependência e exposição a riscos que podem afetar diversas economias globais. O futuro das relações internacionais e da economia global permanece incerto, com a possibilidade de uma nova configuração geopolítica emergindo deste prolongado conflito, onde o plano de Macron representa apenas um dos muitos elementos em um tabuleiro complexo de interesses, alianças e rivalidades que continuarão a moldar o cenário mundial nos próximos anos.