PF descobre desvios milionários em investigação sobre compra de respiradores que envolve ministro Rui Costa

Investigação da Polícia Federal revela esquema de desvio de recursos destinados a equipamentos médicos durante a pandemia.
A Polícia Federal avançou significativamente nas investigações sobre o caso dos respiradores adquiridos durante a pandemia de Covid-19 pelo Consórcio Nordeste, encontrando indícios preocupantes de desvio de recursos públicos que totalizam aproximadamente R$ 48,7 milhões. O atual ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), que à época dos fatos presidia o Consórcio Nordeste enquanto governava o estado da Bahia, teve seu nome mencionado em delação premiada relacionada ao esquema fraudulento. Segundo informações divulgadas pela imprensa em abril de 2025, a investigação da Polícia Federal está em fase final e tramita na Justiça Federal da Bahia. O caso remonta a abril de 2020, período crítico do início da pandemia, quando foi assinado um contrato que previa a compra de 300 respiradores importados da China, equipamentos essenciais para o tratamento de pacientes graves de Covid-19. Estes equipamentos seriam destinados ao Consórcio Nordeste, entidade que reúne os estados da região Nordeste do Brasil e que, no momento, era presidida por Rui Costa. O que chama atenção das autoridades é que, apesar do pagamento adiantado dos valores integrais, os respiradores nunca foram entregues, e apenas uma parte do montante foi recuperada pelos cofres públicos até o momento.
O contrato que está no centro das investigações foi firmado com a empresária Cristiana Prestes Taddeo, responsável pela empresa Hempcare, que recebeu antecipadamente o valor de R$ 48,7 milhões, mas não cumpriu com a entrega dos equipamentos médicos prometidos. Em um desdobramento significativo do caso, a empresária decidiu colaborar com as investigações através de um acordo de delação premiada, que foi firmado com a vice-procuradora-geral da República à época, Lindôra Araújo, e posteriormente homologado pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça, Og Fernandes, ainda em 2022. Como parte desse acordo, Cristiana Taddeo devolveu R$ 10 milhões aos cofres públicos e apresentou às autoridades extratos bancários que demonstravam transferências financeiras realizadas para intermediários envolvidos na negociação dos respiradores. Estas provas materiais fortalecem a tese investigativa da Polícia Federal sobre a existência de um esquema organizado para desvio de recursos públicos destinados ao enfrentamento da emergência sanitária. As investigações ganharam maior repercussão quando, além da delação da empresária, um ex-secretário de governo da Bahia também prestou depoimento à Polícia Federal, no qual afirmou ter fechado o negócio seguindo ordens diretas do então governador Rui Costa, o que adiciona um componente político de alto escalão ao caso, especialmente considerando que Costa ocupa atualmente um dos cargos mais importantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O rastreamento realizado pela Polícia Federal sobre o destino dos recursos públicos desviados revelou um cenário ainda mais preocupante. Conforme as investigações avançaram, as autoridades descobriram que parte do dinheiro que deveria ser utilizado para a aquisição dos respiradores foi destinado à compra de bens de consumo particulares, incluindo automóveis, o que demonstra o desvio de finalidade dos recursos emergenciais. Esta constatação agrava ainda mais a situação dos envolvidos, uma vez que evidencia não apenas uma possível fraude administrativa, mas também a utilização de recursos públicos destinados a salvar vidas durante uma crise sanitária para benefício pessoal. O Tribunal de Contas da União (TCU) também acompanha o caso e, recentemente, absolveu Carlos Gabas, ex-ministro e aliado de Rui Costa, em julgamento relacionado à mesma compra frustrada de respiradores. Esta decisão do TCU, entretanto, não encerra as investigações criminais em curso, que continuam avançando sob responsabilidade da Polícia Federal. Diante das acusações, o ministro Rui Costa tem negado veementemente qualquer envolvimento em irregularidades e afirma que, enquanto governador da Bahia, determinou investigação sobre o episódio assim que tomou conhecimento das possíveis irregularidades, reforçando que nunca tratou “com nenhum preposto ou intermediário sobre a questão das compras deste e de qualquer outro equipamento de saúde”.
As repercussões deste caso podem ter desdobramentos significativos tanto no âmbito jurídico quanto político. No campo jurídico, espera-se que, com a conclusão das investigações pela Polícia Federal, o Ministério Público Federal ofereça denúncia formal contra os envolvidos, caso sejam confirmados os indícios de crimes como peculato, fraude em licitação e organização criminosa. A delação premiada da empresária Cristiana Prestes Taddeo e as evidências coletadas pelas autoridades policiais serão fundamentais para determinar o grau de envolvimento de cada um dos suspeitos, incluindo possíveis participações de agentes públicos de alto escalão. No cenário político, as acusações contra o atual ministro-chefe da Casa Civil representam um potencial desgaste para o governo federal, uma vez que Rui Costa ocupa posição estratégica como um dos principais articuladores políticos do presidente Lula. A evolução deste caso nos próximos meses será determinante para avaliar se haverá impacto na estabilidade do governo e na própria permanência de Costa no cargo ministerial. Para além das consequências individuais, o caso dos respiradores não entregues durante a pandemia evidencia falhas graves no sistema de controle e fiscalização de gastos públicos em situações emergenciais, reforçando a necessidade de aprimoramento dos mecanismos de transparência e prestação de contas, especialmente em momentos de crise, quando a agilidade nas aquisições pode se tornar uma brecha para esquemas fraudulentos.
Investigação entra na fase final enquanto autoridades buscam recuperar recursos públicos desviados
Com o inquérito em fase final na Polícia Federal e tramitando na Justiça Federal da Bahia, a sociedade brasileira aguarda a conclusão das investigações e possíveis desdobramentos judiciais contra todos os envolvidos no esquema. A recuperação dos valores restantes desviados também permanece como prioridade, uma vez que apenas R$ 10 milhões dos quase R$ 49 milhões pagos foram devolvidos aos cofres públicos até o momento. Para o Consórcio Nordeste, o episódio representa uma mancha em sua trajetória, exigindo maior transparência em suas operações futuras. Enquanto isso, o ministro Rui Costa mantém sua defesa de não envolvimento nas irregularidades, mas permanece sob o escrutínio das autoridades investigativas e da opinião pública. O desfecho deste caso poderá estabelecer importantes precedentes sobre a responsabilização de gestores públicos em contratações emergenciais, especialmente aquelas realizadas durante períodos de crise como a pandemia de Covid-19, quando procedimentos normais de licitação foram flexibilizados em nome da urgência sanitária.