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Parlamento francês revela que governo de Macron encobriu escândalo da Nestlé sobre água mineral

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Escândalo com água mineral abala o Palácio do Eliseu: Senado francês acusa governo de Macron de favorecer práticas ilegais da Nestlé.

Relatório explosivo do Senado francês comprova que Palácio do Eliseu sabia de práticas ilegais desde 2022.

O governo francês encobriu, no mais alto nível, um escândalo envolvendo o tratamento ilegal da água mineral por parte da gigante de alimentos Nestlé, segundo revelou um relatório parlamentar publicado na segunda-feira, 19 de maio de 2025. De acordo com a investigação conduzida pelo Senado francês, o gabinete do presidente Emmanuel Macron “sabia, pelo menos desde 2022, que a Nestlé estava trapaceando há anos” ao utilizar métodos de tratamento proibidos pela legislação francesa para suas águas minerais, incluindo marcas icônicas como Perrier. O caso, que vem sendo chamado de um dos maiores escândalos de consumo da França, expõe uma situação alarmante onde a multinacional suíça teria exercido forte pressão junto ao governo francês para permitir a comercialização de águas que não atendiam aos requisitos legais estabelecidos para serem classificadas como “minerais naturais”. A investigação, liderada pelo senador socialista Alexandre Ouizille, revelou que a magnitude da fraude foi estimada em mais de 3 bilhões de euros pela agência francesa responsável pelo controle de fraudes, caracterizando um dos mais graves casos de engano ao consumidor no setor de bebidas do país.

A dimensão do escândalo é particularmente grave porque a legislação francesa sobre água mineral é extremamente rigorosa, exigindo que este tipo de produto seja “puro e natural” desde a origem até a embalagem, sem qualquer intervenção que altere sua composição. Contudo, segundo o relatório parlamentar, a Nestlé Waters utilizou durante anos métodos proibidos como filtros de carbono e luz ultravioleta — procedimentos comuns no tratamento de água da torneira — para purificar suas águas minerais. Além disso, a empresa utilizava microfiltros de 0,2 micrômetros (µm) para todas as suas águas, muito abaixo do limite de 0,8 micrômetros fixado pela França em 2001, considerando que abaixo desse patamar se perdem os benefícios da água natural. A comissão parlamentar destacou que, durante uma visita a uma fábrica da Nestlé no sul da França, foram encontrados “armários deslizantes atrás dos quais eram efetuados tratamentos ilegais” para mascarar as práticas não conformes com a legislação. O relatório também expôs que a multinacional argumentava sobre o risco de perda de postos de trabalho caso o governo não autorizasse algum tipo de tratamento ou microfiltração adicional, alegando que suas fábricas teriam de fechar devido à contaminação da água de nascente por bactérias potencialmente perigosas, como a E. coli.

As revelações do relatório parlamentar são ainda mais impactantes porque demonstram um possível padrão de comportamento da Nestlé em suas operações na França. De acordo com investigações anteriores citadas no documento, a empresa teria explorado sem licença durante 27 anos vários furos de água, além de ter sobre-explorado os recursos hídricos, causando secas recorrentes nas zonas de extração. Desde que o caso começou a vir à tona, a Nestlé teria exercido intensa pressão sobre as autoridades francesas para mudar os procedimentos a seu favor. Um alto funcionário do Estado francês, citado pelos investigadores, afirmou categoricamente: “desde o início do caso que nos colocámos ao serviço da Nestlé”. Esta declaração evidencia a gravidade da situação, sugerindo que o governo francês pode ter privilegiado os interesses corporativos em detrimento da proteção aos consumidores e do cumprimento da lei. O relatório também destacou como a empresa tentou influenciar decisões regulatórias, apresentando seis referências científicas para justificar suas práticas: três eram relatórios internos feitos por seus próprios quadros, uma era um estudo financiado pela própria Nestlé, outra provinha de uma universidade italiana com laboratório financiado pela empresa, e a última de um instituto ao qual a Nestlé também pertence, demonstrando claros conflitos de interesse nas justificativas técnicas apresentadas.

As implicações deste escândalo são amplas e podem ter consequências duradouras tanto para a Nestlé quanto para o governo francês. Quando questionado sobre o assunto em fevereiro, o presidente Emmanuel Macron afirmou que “não tinha conhecimento destas coisas. Não há conluio com ninguém”, declaração agora contraditada pelo relatório parlamentar. O impacto econômico é substancial, considerando que a água mineral natural é vendida a um preço cerca de 100 a 400 vezes superior ao da água da torneira, conforme destacou Alexandre Ouizille, caracterizando um claro “engano dos consumidores” que pagavam valores premium por um produto que não atendia às especificações legais. Embora Laurent Burgoa, presidente da comissão investigadora, tenha afirmado que não foi provado qualquer dano à saúde das pessoas que consumiram a água vendida pela Nestlé, o caso levanta sérias questões sobre a transparência corporativa e a eficácia dos mecanismos de fiscalização governamental. A revelação deste esquema de tratamento ilegal, operado durante anos com aparente conhecimento e possível conivência de altos funcionários do governo, representa um grave golpe à confiança dos consumidores franceses nas instituições do país e nas grandes corporações do setor alimentício. As próximas semanas serão cruciais para determinar se haverá consequências legais para os envolvidos e quais medidas serão tomadas para garantir que situações semelhantes não se repitam no futuro.

Investigação revela práticas que duraram décadas e envolvimento do alto escalão do governo

O escândalo exposto pelo Senado francês não apenas coloca em xeque a reputação da multinacional suíça, mas também levanta sérias questões sobre a independência das agências reguladoras francesas e o comprometimento do governo com a proteção dos consumidores. As revelações deste caso parecem confirmar o que especialistas em direito do consumidor classificam como “greenwashing” – prática onde empresas se apresentam como ambientalmente responsáveis enquanto ocultam impactos negativos ou informações relevantes sobre seus produtos. No caso específico da Nestlé, a venda de água supostamente “mineral natural” que havia passado por tratamentos típicos de água comum representa uma violação direta do princípio da transparência nas relações de consumo. A continuidade das investigações poderá determinar se houve, além da falha regulatória, algum tipo de favorecimento ilegal à empresa por parte de autoridades francesas, o que poderia configurar crimes ainda mais graves. Por enquanto, o relatório parlamentar deixa claro que o caso representa “um problema para a democracia porque o Estado desviou a missão dos seus próprios serviços para satisfazer as exigências da Nestlé”, questionando se “é normal que um grupo industrial faça o que quer em território francês”.