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O choque liberal agrava crise de desigualdade em Cuba

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O choque liberal intensifica a crise de desigualdade em Cuba: ‘A vida só melhora para quem tem dólar’.

Dolarização parcial gera disparidades socioeconômicas sem precedentes.

A implementação de uma série de reformas econômicas em Cuba, incluindo a legalização parcial do dólar, o estímulo ao setor privado e o fim de subsídios estatais, tem aprofundado significativamente a desigualdade social na ilha. Estas medidas, consideradas impensáveis há poucos anos dentro do sistema socialista cubano, foram adotadas pelo governo de Miguel Díaz-Canel no início de 2025 como tentativa de superar a grave crise econômica que assola o país. A estratégia, comparada por especialistas a um “choque liberal” semelhante ao vivido pela Rússia após o colapso da União Soviética, está criando uma sociedade de dois níveis onde “a vida só melhora para quem tem dólar”. Enquanto uma minoria com acesso a moeda estrangeira consegue manter um padrão de vida razoável, a maioria dos cubanos enfrenta escassez de produtos básicos, inflação acelerada e deterioração das condições de vida. O Partido Comunista Cubano, que historicamente defendeu a igualdade social como pilar fundamental do sistema, agora se vê forçado a admitir que estas novas políticas estão gerando problemas sociais significativos, com implicações potencialmente desestabilizadoras para o regime que governa a ilha há mais de seis décadas.

A crise econômica atual tem raízes profundas em fatores estruturais e conjunturais que pressionaram o governo cubano a buscar alternativas heterodoxas para a sobrevivência do sistema. Após a fracassada reforma monetária de 2021, que eliminou o peso conversível sem conseguir os resultados esperados, as autoridades cubanas se viram forçadas a dar um passo mais ousado em direção à dolarização parcial da economia. Esta medida visa principalmente atrair moeda estrangeira para o país, compensando a queda drástica no turismo, que ainda não recuperou os níveis pré-pandemia, e incentivando o envio de remessas por cubanos no exterior. As lojas em dólares, inicialmente projetadas como uma solução temporária, tornaram-se um símbolo visível da nova realidade econômica da ilha, onde apenas uma parcela privilegiada da população tem acesso. O governo cubano assegura que todos podem acessar estes estabelecimentos, mas a realidade é bem diferente: a maioria dos cidadãos, que recebe salários em pesos cubanos e não tem familiares no exterior enviando dólares, fica excluída deste circuito comercial. Esta situação gera tensões sociais crescentes, pois cria um sistema de classes em uma sociedade que teoricamente havia eliminado tais distinções. A dolariação está efetivamente dividindo a população entre aqueles com acesso a moeda estrangeira e a maioria que depende exclusivamente da moeda nacional cada vez mais desvalorizada.

Os desdobramentos desta nova política econômica vão além da simples divisão monetária e estão criando condições para o aprofundamento de desigualdades históricas que o regime havia se orgulhado de combater. O desenvolvimento tímido do setor privado, outra faceta das reformas, está seguindo padrões raciais contraditórios com o discurso oficial do regime, que sempre defendeu a igualdade racial como conquista da revolução. A escassez de dados estatísticos confiáveis e a opacidade nas informações censitárias dificultam determinar com precisão os desequilíbrios socioeconômicos experimentados pelos cubanos, mas relatos e observações indicam que as disparidades estão aumentando rapidamente. O fim recente do sistema de caderneta de abastecimento, que garantia acesso mínimo a alimentos subsidiados para toda a população, abre caminho para uma descentralização no acesso a produtos básicos, potencialmente gerando discriminações territoriais que afetarão principalmente as províncias mais pobres e afastadas da capital. Adiciona-se a este cenário a inflação acelerada que corrói o poder de compra dos salários pagos em pesos cubanos, enquanto apenas aqueles com acesso a dólares conseguem manter seu padrão de vida. Uma cubana demonstrou recentemente em um vídeo viral o que conseguiu comprar com 300 dólares na ilha – uma quantidade de produtos que seria inacessível para a maioria da população que depende exclusivamente do peso cubano.

As perspectivas futuras para Cuba parecem incertas, com o governo navegando em território inexplorado entre a manutenção dos princípios socialistas e a necessidade pragmática de adotar medidas de mercado para evitar o colapso econômico total. Os especialistas apontam que esta estratégia de “choque liberal” está contribuindo para a maior crise socioeconômica da história do país, sem sinais claros de recuperação no horizonte próximo. O regime enfrenta agora um dilema fundamental: como manter a legitimidade política baseada em princípios igualitários enquanto implementa medidas que inevitavelmente aumentam as desigualdades sociais. A experiência de outros países pós-socialistas sugere que este caminho pode ser extremamente turbulento, com potencial para gerar instabilidade social e pressões políticas significativas. Para os cubanos comuns, especialmente aqueles sem acesso a dólares ou remessas do exterior, o futuro imediato parece especialmente desafiador, com a necessidade de navegar um sistema econômico cada vez mais dual e excludente. O governo cubano certamente precisará desenvolver estratégias compensatórias para mitigar os efeitos mais severos desta transição econômica sobre as camadas mais vulneráveis da população, ou arriscar enfrentar níveis de descontentamento social sem precedentes na história recente do país.

Adaptação forçada a uma nova realidade econômica

A experiência cubana atual representa um caso de estudo sobre os desafios de adaptar um sistema socialista às pressões da economia global. As medidas implementadas em 2025 refletem menos uma escolha ideológica e mais uma necessidade de sobrevivência econômica, mas suas consequências sociais podem ser profundas e duradouras, transformando fundamentalmente a sociedade cubana nas próximas décadas. Para muitos observadores, a ironia é que um sistema que se definiu por sua oposição às desigualdades do capitalismo agora se vê forçado a aceitar e até promover algumas dessas mesmas desigualdades como parte de sua estratégia de sobrevivência.

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