Negociação entre Banco Master e BRB atrai atenção de figuras do mercado financeiro e governo

Transação bancária movimenta bastidores do poder.
O anúncio da venda do Banco Master para o BRB (Banco de Brasília), realizado em março de 2025, tem mobilizado figuras influentes dos mundos financeiro, empresarial e político, gerando intensos debates sobre as implicações desta transação no cenário bancário brasileiro. Sob os termos do acordo, o BRB passará a deter 58% do capital total do Banco Master, embora mantenha apenas 49% das ações ordinárias, o que permitirá que Daniel Vorcaro, atual controlador do Master, conserve parte significativa do poder decisório na instituição. A negociação, avaliada entre R$1,8 bilhão e R$2 bilhões, equivalente a 75% do valor patrimonial do Banco Master após determinados ajustes, tem chamado a atenção não apenas pelo volume financeiro envolvido, mas principalmente pelos desdobramentos regulatórios que poderá ocasionar. O BRB utilizará recursos próprios para efetuar o pagamento, sendo metade no fechamento do negócio e o restante depositado em conta garantia, sujeito a ajustes após a conclusão da auditoria de aquisição. Autoridades brasileiras, incluindo tribunais de contas e o Ministério Público Federal, já iniciaram investigações preliminares tanto sobre a transação em si quanto sobre a rápida expansão do Banco Master nos últimos anos, que apresentou um crescimento médio anual de 86% em sua carteira de crédito.
A situação do Banco Master já vinha sendo acompanhada com atenção pelo mercado financeiro brasileiro antes mesmo do anúncio da transação. Executivos de grandes instituições financeiras chegaram a manifestar preocupações junto ao Banco Central sobre a saúde financeira do Banco Master e o possível impacto sistêmico caso a instituição enfrentasse um colapso. Desde 2017, quando Daniel Vorcaro adquiriu o antigo Banco Máxima e iniciou uma profunda reestruturação da instituição, o valor patrimonial do banco cresceu cerca de dez vezes, um avanço vertiginoso financiado principalmente pela captação de recursos de investidores de varejo por meio de plataformas de investimento, com a maioria dos depósitos cobertos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Críticos da operação, como Fabio Alperowitch, cofundador e diretor de investimento da gestora Fama Re.capital, argumentam que a transação equivale a um resgate governamental de uma instituição que foi autorizada a assumir riscos excessivos por muito tempo. O crescimento acelerado do Banco Master esteve fortemente apoiado em um modelo de negócios que utilizava incentivos oferecidos pelo FGC, fundo mantido com contribuições dos maiores bancos do país, para emprestar recursos a pessoas físicas com seguro do FGC e investir em ativos de maior risco, como precatórios e ações de pequenas e médias empresas, algumas das quais enfrentavam dificuldades financeiras.
As repercussões da negociação já começam a afetar outros negócios do BRB, como evidenciado pela possível dissolução da recente venda de 49% da subsidiária Financeira BRB para um grupo de investidores por R$320 milhões. Segundo apurou o jornal Valor Econômico, parte dos sócios compradores teria decidido desfazer o acordo com o BRB em função das turbulências geradas pelo anúncio da compra do Banco Master. A venda da financeira havia sido realizada para um grupo formado por André Luís Vieira Azin, José Ricardo Lemos Rezek e CPSB Patrimonial e Participações, controlada pela família Pontes, proprietária de uma construtora cearense com forte presença no Nordeste. Embora a operação já tivesse sido concluída e aprovada pelo Banco Central, o contrato contém uma opção de venda que pode ser exercida pelos compradores em determinadas situações, direito que os sócios do Kardbank aparentemente decidiram exercer. Um ponto crucial na operação entre BRB e Banco Master que tem gerado questionamentos refere-se à inclusão do Master no conglomerado prudencial do BRB, o que significa que o banco estatal passará a ser responsável pela instituição perante os reguladores, representando um risco significativo para uma entidade de propriedade governamental. Esta situação é particularmente delicada considerando que, apesar de deter a maioria do capital total, o BRB terá apenas “direitos de voto afirmativos” sobre determinadas matérias, que não foram especificadas no fato relevante divulgado.
CAE do Senado terá audiência sobre acordo de compra do Banco Master pelo BRB
A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) aprovou, nesta terça-feira (29), convite para que os presidentes do Banco Master, Daniel Vorcaro, e do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, compareçam para prestar esclarecimentos sobre a compra de 58% do capital total do Banco Master pelo BRB. O requerimento (REQ 29/2025 – CAE) foi apresentado pela bancada do Distrito Federal, composta pelas senadoras Damares Alves (Republicanos) e Leila Barros (PDT) e pelo senador Izalci Lucas (PL).
No requerimento, a bancada do DF alega que a instituição financeira não publicou seu balanço de dezembro e, recentemente, tentou uma emissão de títulos em dólares, sem sucesso. Operações do banco com precatórios, títulos de dívidas de governos com sentença judicial definitiva, conforme a senadora, também contribuem para a atual desconfiança sobre a situação financeira da instituição.
Damares Alves, que leu o requerimento, acrescentou que o Banco Master passou por recente tentativa de compra pelo BTG Pactual, que ofereceu apenas R$ 1,00 para assumir seu controle e o passivo da instituição financeira. As dívidas seriam cobertas com recursos do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), fundo que cobre investimentos de até R$ 250 mil por pessoa física ou pessoa jurídica em cada instituição financeira. No entanto, a falta de acordo entre os bancos que aportam recursos no Fundo Garantidor de Créditos (FGC) impediu o negócio de ir adiante.
Está causando muita inquietação […] e nós entendemos que a vinda deles acalmaria a sociedade, eles trariam as explicações necessárias e a gente daria um passo no sentido de esclarecer tudo o que está acontecendo, afirmou Damares.
A data da audiência pública ainda não foi confirmada pela presidência da CAE, que é presidida pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL).
Perspectivas e desafios da transação entre os bancos
Especialistas do setor financeiro avaliam que as investigações iniciadas por autoridades, ainda que preliminares e possivelmente longas, podem resultar em pedidos judiciais para suspensão do plano de aquisição, o que adicionaria mais incertezas ao cenário já complexo. O ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, comentou recentemente que a operação “pode ser benéfica para todo mundo” se bem conduzida, sinalizando que há defensores da transação que enxergam potencial para estabilização do sistema financeiro através desta aquisição. A forma como o BRB irá gerenciar os riscos associados à carteira do Banco Master, particularmente os investimentos em ativos de maior volatilidade, será determinante para o sucesso da operação a longo prazo. Os próximos meses serão cruciais para definir se a transação será efetivamente concretizada conforme anunciado ou se sofrerá modificações substanciais em função das investigações em curso e das repercussões no mercado. A movimentação de figuras influentes em torno desta negociação demonstra a relevância do caso não apenas para o sistema financeiro brasileiro, mas também para o ambiente político e regulatório do país, uma vez que envolve um banco estatal assumindo responsabilidade por uma instituição privada que apresentou crescimento extraordinário em curto período de tempo. O desfecho deste caso poderá estabelecer importantes precedentes para futuras transações no setor bancário brasileiro, especialmente aquelas envolvendo instituições públicas e privadas em operações de salvaguarda do sistema financeiro.
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