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Milei chama sonegadores de “heróis” e critica contribuintes por falta de talento

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Milei chama sonegadores de “heróis”: “Tentam se proteger de ladrões”.

Presidente argentino surpreende com declarações polêmicas sobre sistema tributário.

O presidente da Argentina, Javier Milei, causou intensa repercussão após afirmar em entrevista ao programa de televisão “Otra Mañana”, transmitido pelo canal A24 na última segunda-feira (19), que considera os sonegadores de impostos como “heróis” e não criminosos. Durante a polêmica declaração, o mandatário argentino foi além e criticou os contribuintes que pagam regularmente seus impostos, sugerindo que estes “não possuem talento ou coragem” para escapar do sistema tributário. Milei chegou ao ponto de considerar o termo “contribuinte” como ofensivo, comparando o Estado a um ladrão e o sistema de impostos a uma prisão da qual os cidadãos deveriam tentar escapar. As declarações ocorreram no contexto da defesa de uma proposta governamental que visa regulamentar cerca de US$ 300 bilhões que os argentinos mantêm como reserva, principalmente em espécie, fora do sistema bancário formal, sem exigir comprovação da origem desses recursos, numa clara tentativa de trazer esses valores para a economia formal e estimular o crescimento econômico do país.

A visão expressa por Milei reflete sua conhecida posição libertária e anti-Estado, que marcou tanto sua campanha eleitoral quanto seu governo até o momento. Ao defender que “não pode punir quem conseguiu contornar o sistema tributário”, o presidente argentino reforça sua concepção de que a sonegação fiscal representaria uma forma de resistência legítima contra o que ele considera como abuso estatal. “Aqueles que conseguiram escapar [da fiscalização], ótimo, não posso puni-los porque eles conseguiram fugir do ladrão [Estado]”, declarou categoricamente durante a entrevista. Essa postura ideológica radical em relação à tributação surge em um momento crucial para a economia argentina, que enfrenta severas dificuldades após anos de inflação descontrolada e instabilidade financeira. O governo estima que os argentinos possuem entre US$ 200 bilhões e US$ 400 bilhões não declarados oficialmente, valor que representa algo entre 33% e 66% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, que é de aproximadamente US$ 600 bilhões. A proposta governamental busca integrar esse capital ao sistema financeiro formal sem questionar sua origem, defendendo que isso poderia impulsionar o consumo de bens como eletrodomésticos, automóveis e imóveis, aquecendo assim a economia nacional devastada pela crise.

As declarações controversas de Milei geraram reações imediatas nos círculos políticos e econômicos, tanto na Argentina quanto internacionalmente. Ao afirmar que “sente muito por quem não pôde escapar” dos impostos e questionar se deve “recompensar quem ficou na prisão porque outro conseguiu sair do cárcere que os políticos nos impõem”, o presidente desafia frontalmente os princípios fundamentais da administração pública e da justiça fiscal. A oposição argentina criticou veementemente a postura do presidente, argumentando que tal política poderia efetivamente legalizar dinheiro proveniente de atividades ilícitas, incluindo recursos de grupos criminosos atuantes no país. Quando questionado sobre essa possibilidade, Milei evitou comentar diretamente, limitando-se a dizer que este seria um assunto para os ministérios da Segurança e da Defesa. O presidente também elaborou sua visão sobre o imposto inflacionário na Argentina, que segundo ele tem sido “devastador” e forçado mesmo os contribuintes com dinheiro declarado a migrarem para o setor informal “para escapar das garras do Estado”. Esta argumentação serve de base para sua proposta de flexibilização das regras para o uso de dólares não declarados, permitindo que esses recursos circulem livremente na economia sem questionamentos sobre sua origem ou legalidade, numa tentativa de estimular a atividade econômica sem aumentar a carga tributária formal.

A estratégia econômica defendida por Milei, embora coerente com sua visão libertária e anti-Estado, levanta sérias questões sobre governança, ética pública e sustentabilidade fiscal a longo prazo. Ao declarar que “se todos [os argentinos] tivessem conseguido fazer a mesma coisa [sonegar], talvez os políticos tivessem parado de nos roubar”, o presidente parece sugerir uma espécie de desobediência civil tributária como solução para os problemas econômicos do país, ignorando potenciais consequências para o financiamento de serviços públicos essenciais. O Ministério da Economia argentino, alinhado com a visão presidencial, busca implementar medidas para que esses dólares mantidos “no colchão” pelos cidadãos sejam incorporados ao sistema econômico formal, esperando com isso uma reativação do consumo e, consequentemente, da economia como um todo. Este plano econômico heterodoxo representa uma aposta arriscada do governo Milei, que desde sua posse tem implementado medidas drásticas de austeridade fiscal e redução do papel do Estado. O tempo dirá se essa política de tolerância e até incentivo à sonegação fiscal conseguirá efetivamente impulsionar a combalida economia argentina ou se, pelo contrário, apenas aprofundará problemas estruturais de governança e financiamento público, enquanto potencialmente facilita a lavagem de dinheiro proveniente de atividades ilícitas, como alertam os críticos desta abordagem libertária radical.

Impacto das declarações no cenário político e econômico argentino

As declarações polêmicas de Javier Milei representam um ponto de inflexão no debate sobre tributação e política fiscal na Argentina, com potenciais repercussões para toda a região latino-americana. Enquanto seus apoiadores veem nessa postura uma defesa coerente dos princípios libertários que sempre defendeu, críticos apontam riscos significativos para a institucionalidade democrática e para a própria capacidade do Estado argentino de financiar serviços públicos essenciais. As afirmações do presidente evidenciam sua estratégia de governança, que prioriza a redução radical do Estado e a desregulamentação econômica como caminhos para superar a crise que afeta o país há décadas. A implementação de medidas que visem reintegrar recursos não declarados à economia formal, sem questionar sua origem, poderá ser determinante para o sucesso ou fracasso do plano econômico de Milei, numa Argentina que busca desesperadamente encontrar caminhos para a estabilidade financeira e o crescimento econômico sustentável após anos de políticas econômicas inconsistentes e resultados decepcionantes.