Mensagens apagadas no celular de Mauro Cid revelam bastidores de comunicações deletadas

Investigação da PF identifica centenas de mensagens deletadas após apreensão.
Uma análise detalhada do celular do tenente-coronel Mauro Cid, apreendido pela Polícia Federal, revelou um padrão sistemático de exclusão de mensagens em sua comunicação com diversas pessoas entre outubro de 2022 e maio de 2023. Conforme investigação recente divulgada em 13 de maio de 2025, foram identificadas 217 mensagens recebidas pelo militar que foram posteriormente apagadas, além de outras 127 enviadas por ele mesmo que também foram deletadas do dispositivo. Esta descoberta faz parte do material apreendido durante as investigações conduzidas pela Polícia Federal, que documentou diversos pedidos expressos para que mensagens fossem sistematicamente removidas após serem lidas. O padrão de exclusão de comunicações parece ter se intensificado especialmente após o período eleitoral de 2022, quando as trocas de mensagens se tornaram mais frequentes entre o tenente-coronel e diversos interlocutores, incluindo autoridades e ex-integrantes do governo.
O levantamento realizado pela investigação excluiu da contagem as conversas mantidas com familiares, focando especificamente nas comunicações de caráter profissional ou relacionadas à sua atuação como ajudante de ordens. Entre os interlocutores mais frequentes nesse grupo de mensagens apagadas estão Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria de Comunicação, responsável por 31 mensagens que foram posteriormente deletadas, e o próprio ex-presidente, identificado como autor de 19 conteúdos que foram removidos das conversas. Os investigadores ressaltam que é possível que existam outras trocas de mensagens apagadas que não permaneceram no registro do celular, uma vez que diversos aplicativos de mensagens possuem funcionalidades que permitem a exclusão definitiva de conteúdos. Especialistas em perícia digital explicam que, em muitos casos, mesmo mensagens aparentemente deletadas podem ser recuperadas, pois diversos dados apagados são apenas desindexados do sistema operacional, permanecendo fisicamente armazenados no aparelho até serem sobrescritos por novos dados.
Um dos episódios mais significativos documentado pela investigação ocorreu em novembro de 2022, quando o coronel Corrêa Netto, mencionado nos documentos como um dos interlocutores frequentes de Cid, falou expressamente sobre a importância de deletar as conversas. Esta recomendação aconteceu horas depois de enviar a Cid um documento contendo o texto de uma carta que estaria sendo preparada. A prática de apagar mensagens, segundo especialistas em segurança digital, tornou-se comum entre usuários preocupados com privacidade, mas também pode indicar uma tentativa deliberada de evitar o escrutínio futuro de comunicações potencialmente sensíveis. Em outro momento revelador, Cid também apagou mensagens na conversa com o tenente-coronel do Exército Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros, identificado nas mensagens pelo apelido “Cavalo”, em que ambos discutiam questões administrativas e expressavam opiniões sobre cenários institucionais. A investigação revelou que estas mensagens foram enviadas pelo ajudante de ordens logo após Cavaliere compartilhar uma troca de WhatsApp referente a posicionamentos de outros militares em discussões internas das Forças Armadas.
A prática de apagar mensagens, embora seja comum entre usuários de aplicativos de comunicação, ganhou relevância investigativa no contexto das apurações conduzidas pela Polícia Federal. Especialistas em direito digital e forense computacional consultados explicam que a recuperação de mensagens apagadas depende de diversos fatores técnicos, incluindo o tipo de dispositivo, o aplicativo utilizado e o tempo decorrido desde a exclusão. Em muitos casos, mesmo quando visualmente removidas da interface do usuário, as mensagens deixam vestígios nos sistemas de armazenamento dos dispositivos que podem ser recuperados com técnicas especializadas de perícia digital. As descobertas feitas no celular de Mauro Cid abrem novas linhas de investigação para a Polícia Federal, que agora busca reconstruir o contexto completo das comunicações a partir dos fragmentos recuperados e das mensagens que não foram apagadas. A análise deste material, segundo fontes próximas à investigação, deve prosseguir nas próximas semanas, com possível confrontação dos dados obtidos com depoimentos já colhidos, buscando estabelecer a cronologia completa e o teor integral das comunicações realizadas no período crítico entre outubro de 2022 e maio de 2023, quando o celular foi finalmente apreendido pelas autoridades.
Implicações das mensagens deletadas para investigações em curso
A descoberta das mensagens apagadas no celular de Mauro Cid representa um capítulo importante nas investigações que buscam esclarecer os bastidores das comunicações entre autoridades no período pós-eleitoral de 2022. A prática de deletar mensagens, embora não constitua por si só uma evidência de irregularidade, levanta questões sobre a transparência das comunicações oficiais e a preservação de registros que podem ter relevância histórica e jurídica para a compreensão dos acontecimentos políticos recentes no Brasil. Com o avanço das técnicas de perícia digital, a Polícia Federal agora trabalha para reconstruir o mosaico completo dessas interações, buscando estabelecer conexões entre os diversos interlocutores identificados e compreender o contexto integral das comunicações realizadas durante esse período sensível da história política brasileira.