Mauricio Claver-Carone: O escolhido por Trump para liderar política na América Latina

Quem é Mauricio Claver-Carone, o escolhido por Trump para ‘restaurar ordem’ na América Latina.
Cubano-americano assume cargo estratégico no Departamento de Estado.
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, nomeou Mauricio Claver-Carone como enviado especial do Departamento de Estado para a América Latina. A escolha de Claver-Carone, um advogado cubano-americano com histórico de posições linha-dura em relação a Cuba e Venezuela, sinaliza uma possível intensificação da política externa americana para a região. O anúncio feito por Trump através de suas redes sociais em dezembro de 2024, enfatizou a necessidade de “restaurar a ordem” no hemisfério ocidental e destacou a experiência de Claver-Carone na região.
Mauricio Claver-Carone não é um nome novo na política externa americana. Durante o primeiro mandato de Trump, ele ocupou o cargo de diretor sênior para Assuntos do Hemisfério Ocidental no Conselho de Segurança Nacional. Sua trajetória inclui também a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), cargo do qual foi destituído em 2022 após uma investigação ética. Nascido em Miami, Flórida, de pais de origem cubana e espanhola, Claver-Carone possui uma formação acadêmica robusta, com graduação pelo Rollins College, doutorado em Direito pela Universidade Católica da América e mestrado em Direito Internacional e Comparado pela Universidade de Georgetown.
A nomeação de Claver-Carone para este cargo estratégico reflete a intenção de Trump de adotar uma abordagem mais assertiva em relação à América Latina. O presidente eleito destacou que Claver-Carone “conhece a região e sabe como colocar os interesses dos EUA em primeiro lugar”. Trump também mencionou as “ameaças terríveis” que os Estados Unidos enfrentam devido à migração ilegal em massa e ao tráfico de fentanil, sugerindo que estas serão áreas prioritárias na atuação do novo enviado especial. A escolha de um funcionário conhecido por suas posições duras em relação a governos de esquerda na região, especialmente Cuba e Venezuela, indica uma provável continuidade e possível intensificação das políticas adotadas durante o primeiro mandato de Trump.
A designação de Claver-Carone para este papel crucial no Departamento de Estado promete moldar significativamente as relações dos Estados Unidos com a América Latina nos próximos anos. Sua experiência prévia no governo Trump e seu histórico de defesa de políticas mais rígidas em relação a certos países da região sugerem uma abordagem que pode gerar tanto apoio quanto críticas. Para países como Argentina, cujo presidente Javier Milei tem demonstrado alinhamento com as políticas de Trump, a nomeação pode representar uma oportunidade de fortalecimento das relações bilaterais. No entanto, para nações com governos de orientação mais à esquerda, a escolha de Claver-Carone pode sinalizar um período de maior tensão diplomática. À medida que o novo enviado especial assume suas funções, resta observar como sua atuação influenciará o panorama geopolítico e econômico da América Latina, bem como os desafios que enfrentará na implementação da visão de Trump para a região.
Impactos da nomeação na política regional
Há mais de um século, a América Latina não era o primeiro destino de visita de um secretário de Estado norte-americano.
Na visita oficial que começou em Fevereiro pelo Panamá, o secretário de Estado Marco Rubio — o primeiro de origem latina a ocupar o cargo — levou outro escolhido pelo presidente Donald Trump para acompanhá-lo.
Trata-se do advogado Mauricio Claver-Carone, de 49 anos. Como Rubio, ele também é de origem cubana e nasceu em Miami, no Estado americano da Flórida.
Claver-Carone construiu aos poucos sua relação de confiança com o presidente durante o primeiro mandato de Trump (2017-2021), quando foi diretor de Assuntos para o Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos.
Veterano em assuntos de política externa e conhecido principalmente pelas suas posições rígidas frente ao governo de Cuba, Claver-Carone foi o escolhido por Trump como enviado especial do Departamento de Estado para a América Latina. Sua missão é “restaurar a ordem” na região, segundo o presidente.
“Nos últimos quatro anos, o caos e anarquia invadiram nossas fronteiras”, escreveu Trump em sua rede Truth Social em dezembro. “Chegou a hora de restabelecer a ordem no nosso próprio hemisfério.”
“Mauricio conhece a região e sabe como priorizar os interesses dos Estados Unidos”, acrescentou ele. “Ele também conhece as graves ameaças que enfrentamos com a imigração ilegal em massa e o fentanil.”
Trump destacou ainda que Claver-Carone trabalhará “incansavelmente para proteger o povo norte-americano”.
Empossado na nova função, Claver-Carone faz parte de uma equipe “muito enfocada na América Latina”, chefiada pelo também cubano-americano e ex-senador pela Flórida, Marco Rubio.
Sua missão será concretizar a deportação em massa prometida por Trump, lidar com a Venezuela de Nicolás Maduro e tentar desacelerar a influência chinesa na região.
“Não existe região do mundo, seja por migração, segurança ou comércio, que afete mais a vida individual dos norte-americanos do que a América Latina”, declarou ele em entrevista, antes da sua viagem oficial pela América Central e Caribe, que incluiu visitas ao Panamá, El Salvador, Costa Rica, Guatemala e República Dominicana.
Da Casa Branca ao BID
Formado pelo Rollins College, na Flórida, com doutorado em Direito pela Universidade Católica da América e mestrado em Direito Internacional e Comparado pelo Centro de Direito da Universidade Georgetown, todas nos Estados Unidos, Claver-Carone começou a estabelecer vínculos com a ala mais rígida do Partido Republicano com um blog chamado Capitol Hill Cubans, criticando a política de abertura americana em relação a Cuba.
Defensor do embargo comercial dos Estados Unidos e de outras severas políticas econômicas, destinadas a suspender o financiamento ao governo cubano, ele também dirigiu a organização Cuba Democracy Advocates, cujo propósito é influenciar a política externa americana.
Foi naquela organização que ele consolidou sua posição de assessor em assuntos latino-americanos, dentro do universo republicano.
Ele também foi diretor dos Estados Unidos no Fundo Monetário Internacional (FMI), quando ajudou o ex-presidente argentino Mauricio Macri (2015-2019) a conseguir um empréstimo de US$ 57 bilhões (cerca de R$ 329 bilhões, pelo câmbio atual) — o maior da história da organização.
“Levamos o maior programa da história do Fundo Monetário para a Argentina. Se o programa foi mal administrado, se a Argentina não o executou corretamente ou se custou uma eleição, esta já é outra história”, declarou Claver-Carone, em uma conferência virtual com o Conselho Chileno para Relações Internacionais, em 2020.
Mas foi no primeiro mandato de Trump que seu nome adquiriu mais relevância.
Em 2018, Claver-Carone foi nomeado responsável pelos assuntos do Hemisfério Ocidental no Conselho de Segurança Nacional e assessor especial do presidente.
Naquela função, ele foi um dos principais agentes da elaboração da política dos Estados Unidos para a Venezuela, que decidiu pelo apoio ao então líder da Assembleia Nacional venezuelana, Juan Guaidó, em suas pretensões de chegar à presidência. O plano acabou quando Guaidó abandonou o país e Maduro consolidou o poder.
Ainda assim, Claver-Carone pressionou como assessor para que fossem impostas fortes sanções à Venezuela e a Cuba. Ele justificou as medidas mencionando as “graves” violações de direitos humanos dos governos dos dois países.
Em 2020, impulsionado pelo próprio Trump, Claver-Carone foi nomeado presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que concede financiamento a longo prazo para o desenvolvimento econômico, social e institucional da América Latina e do Caribe.
Sua nomeação não foi livre de críticas, por se tratar de um cargo historicamente reservado para a América Latina. Ele permaneceu no BID por dois anos e ficou marcado por um escândalo.
Claver-Carone foi acusado de manter relacionamento com sua chefe de gabinete, Jessica Bedoya. Eles já haviam trabalhado juntos no Conselho de Segurança da Casa Branca e Bedoya foi favorecida por promoções. Claver-Carone foi forçado a renunciar por ter violado o código de ética da instituição.
Ele foi o primeiro presidente da história do BID a ser demitido. Claver-Carone sempre negou o relacionamento e declarou mais de uma vez que foi vítima de uma campanha de difamação.
“No afã das elites arraigadas para prejudicar minha liderança e reputação, bem como a do meu pessoal, o Banco não agiu como uma instituição baseada em normas”, defendeu-se ele, pouco mais de dois anos atrás.
Após sua saída do BID, Claver-Carone trabalhou em um fundo de capital privado de investimentos do Oriente Médio para a América Latina.