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Macron se mostra aberto a acordo UE-Mercosul com condições para proteção agrícola

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Macron demonstra abertura para acordo UE-Mercosul com condições de proteção à agricultura.

Presidente francês estabelece requisitos para assinatura ainda em 2025.

O presidente da França, Emmanuel Macron, declarou estar disposto a assinar o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul até o final de 2025, desde que sejam incluídas modificações substanciais para proteger o setor agropecuário europeu. As declarações foram feitas em entrevista à GloboNews na quinta-feira (5), durante a visita oficial do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva a Paris. Na ocasião, Macron expressou preocupações específicas com a concorrência que os produtores europeus enfrentariam diante dos agricultores sul-americanos, considerados mais competitivos devido a normas de produção menos rigorosas. O momento é particularmente significativo, pois o Brasil assumirá a presidência do Mercosul no segundo semestre deste ano, e Lula tem manifestado forte interesse em concluir o acordo durante seu mandato à frente do bloco. A França tem sido historicamente um dos principais obstáculos à ratificação do pacto comercial, principalmente devido à pressão de seu poderoso setor agrícola, que teme impactos econômicos negativos com a entrada facilitada de produtos sul-americanos no mercado europeu.

O acordo entre os blocos econômicos, que vem sendo negociado há mais de 25 anos, ganhou um impulso renovado em dezembro passado, quando a Comissão Europeia, em nome da UE, alcançou um entendimento com Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. No entanto, a França tem buscado formas de bloquear sua adoção por não concordar com “sua forma atual”. Macron propõe agora a inclusão de um protocolo adicional que contemple as chamadas “cláusulas-espelho”, mecanismo que exigiria que os produtos agrícolas importados do Mercosul sigam exatamente as mesmas regras e restrições impostas aos agricultores europeus, especialmente no que diz respeito ao uso de defensivos agrícolas. Durante a coletiva de imprensa conjunta com Lula, o presidente francês explicou a complexidade da situação: “Proibimos os nossos agricultores de utilizarem agrotóxicos, por exemplo, para respeitar mais o meio ambiente. Mas os países do Mercosul não estão no mesmo nível de regulamentação. Como vou explicar aos agricultores [franceses] que, no momento em que eu exijo que eles respeitem as normas, abro o mercado para produtos que não respeitam essas mesmas normas? Qual vai ser o resultado? O clima não sai beneficiado, vamos matar a nossa agricultura. Isso é injusto”.

Além das cláusulas-espelho, Macron defende a inclusão de “cláusulas de salvaguarda” que permitiriam a ativação de mecanismos de proteção para determinados setores caso o comércio venha a “desregular o mercado de repente”. Em resposta às condições impostas pelo líder francês, o presidente Lula demonstrou determinação em avançar com o acordo, afirmando durante o encontro: “Eu tenho seis meses de mandato no Mercosul. E quero dizer aqui que eu deixarei a presidência do Mercosul com o acordo União Europeia e Mercosul firmado”. O brasileiro adotou um tom conciliador, mas firme, chegando a pedir que Macron “abra o coração” para o acordo e enfatizando que não tem interesse em voltar ao protecionismo, defendendo o livre comércio entre os países. Lula também destacou o potencial econômico do acordo, lembrando que “são 22 trilhões de dólares que estarão no posto da negociação e 700 milhões de habitantes”, e se mostrou disposto a dialogar diretamente com os agricultores franceses para demonstrar que eles também se beneficiariam do pacto comercial. O confronto de visões entre os dois líderes reflete a complexidade das relações comerciais internacionais em um momento de crescentes tensões comerciais globais.

Se o acordo for finalmente ratificado, a União Europeia, que já é o principal parceiro comercial do Mercosul, poderia exportar com mais facilidade automóveis, máquinas e produtos farmacêuticos para os países sul-americanos, enquanto o bloco formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai ampliaria suas exportações de carne, açúcar, mel e outros produtos agrícolas para o mercado europeu. A questão agora é se as condições propostas por Macron serão aceitáveis para os países do Mercosul, especialmente considerando o curto prazo disponível até o fim do ano. O presidente francês, ao ser questionado pela GloboNews sobre a possibilidade de o acordo ser assinado até o final do ano caso o Mercosul concorde com a inclusão das cláusulas propostas, respondeu afirmativamente: “Sim, porque convenceremos nossos agricultores e camponeses de que este acordo é bom para eles”. Esta declaração sugere uma abertura significativa da posição francesa, tradicionalmente mais resistente ao acordo, desde que suas preocupações com o setor agrícola sejam adequadamente endereçadas. Nos próximos meses, diplomatas de ambos os blocos deverão intensificar as negociações para determinar se um compromisso é possível dentro do prazo estabelecido, enquanto Lula e Macron continuarão a exercer suas influências para moldar o resultado final deste importante acordo comercial intercontinental.

Impacto econômico e perspectivas futuras

As negociações entre União Europeia e Mercosul representam um dos acordos comerciais mais ambiciosos das últimas décadas, com potencial para criar uma área de livre comércio que abrange cerca de 700 milhões de consumidores e movimenta aproximadamente 22 trilhões de dólares. Enquanto Lula demonstra otimismo e determinação para concluir o acordo durante sua presidência do Mercosul no segundo semestre de 2025, Macron adota uma postura mais cautelosa, buscando garantias para proteger os interesses dos agricultores franceses sem fechar completamente as portas para a negociação. A inclusão das cláusulas-espelho e de salvaguarda propostas pelo presidente francês poderia estabelecer um precedente importante para futuros acordos comerciais internacionais, especialmente em um contexto global onde as preocupações ambientais e sociais têm ganhado cada vez mais relevância nas relações econômicas entre países. O desfecho destas negociações nos próximos meses será crucial não apenas para as relações entre Europa e América do Sul, mas também para o futuro do comércio internacional em um mundo cada vez mais polarizado.

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