Lula se reúne com Norinco e empresa chinesa pode atuar em projetos de segurança no Brasil

Parcerias estratégicas em segurança e defesa.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou na segunda-feira (12) uma série de reuniões importantes com representantes de empresas chinesas em Pequim, como parte de sua visita oficial à China que se estenderá por cinco dias. Entre os encontros, destaca-se a audiência concedida a Cheng Fubo, CEO da Norinco (China North Industries Corporation), uma estatal chinesa que opera na indústria de defesa e em projetos de infraestrutura. A reunião, que ocorreu no Hotel St. Regis em Pequim, contou com a presença de diversos ministros brasileiros, incluindo Rui Costa (Casa Civil), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Frederico de Siqueira Filho (Comunicações) e Alexandre Silveira, além do embaixador do Brasil na China, Marcos Bezerra Abbott Galvão, do presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, e do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. Embora não tenham sido assinados protocolos ou acordos formais durante o encontro, as conversas indicam possíveis caminhos para cooperação em áreas estratégicas, especialmente no setor de segurança pública e defesa, o que pode representar um passo significativo no fortalecimento das relações bilaterais entre Brasil e China, especialmente no que diz respeito à transferência de tecnologia e conhecimento em setores considerados prioritários para o desenvolvimento nacional brasileiro.
A Norinco é um conglomerado industrial de grande porte que atua em diversos setores estratégicos como defesa, automotivo, eletrônicos, maquinário pesado e produtos químicos, e sua possível atuação no Brasil poderá se estender para áreas como segurança pública e infraestrutura, incluindo a construção de rodovias, ferrovias, usinas hidrelétricas e estações de tratamento de água. Este encontro se insere em um contexto mais amplo de fortalecimento das relações comerciais e diplomáticas entre Brasil e China, que desde 2009 é o maior parceiro comercial brasileiro. As relações comerciais entre os dois países têm apresentado um crescimento expressivo ao longo dos anos, especialmente desde a primeira visita de Lula à China em 2004, quando o comércio bilateral cresceu mais de 17 vezes, alcançando em 2023 o recorde de US$ 157,5 bilhões, com exportações brasileiras de US$ 104,3 bilhões, importações de US$ 53,1 bilhões e um superávit para o Brasil de US$ 51,14 bilhões. Este volume de comércio é particularmente significativo quando comparado com outros parceiros comerciais importantes do Brasil, como os Estados Unidos e a União Europeia, uma vez que as exportações brasileiras para a China foram superiores à soma das vendas do país para os Estados Unidos (US$ 36,9 bilhões) e para a União Europeia (US$ 46,3 bilhões), o que demonstra a importância estratégica dessa relação bilateral para a economia brasileira.
Além da reunião com a Norinco, o presidente Lula também se encontrou com representantes de outras empresas chinesas importantes, como Feng Xingya, presidente do Grupo GAC, Lei Zhang, CEO da Envision Group, e executivos da Windey Technology, todas atuantes em setores considerados estratégicos para a agenda de desenvolvimento e transição energética do Brasil. Segundo comunicado do governo brasileiro, estes encontros resultaram no anúncio de investimentos chineses no Brasil que somam aproximadamente R$ 27 bilhões, direcionados para áreas como produção de carros elétricos e híbridos, energia renovável, combustível de aviação sustentável (SAF), tecnologia, defesa e segurança pública. Um aspecto importante destacado pelo governo é que estes investimentos acontecerão em parceria com empresas brasileiras, promovendo pesquisa, transferência de tecnologia e treinamento de mão de obra qualificada, o que está alinhado com as prioridades da nova agenda de transição energética brasileira, incluída na Lei do Combustível do Futuro. A visita do presidente brasileiro ocorre em um momento estratégico, na véspera de um importante fórum diplomático para fortalecer relações com a região latino-americana, e ganha ainda mais relevância em meio às tensões comerciais entre China e Estados Unidos, representando uma oportunidade para o Brasil fortalecer sua posição como parceiro comercial privilegiado da potência asiática.
A agenda intensa do presidente Lula na China, que começou no sábado (10) e deve se estender até quarta-feira (14), inclui ainda a participação no Seminário Empresarial China-Brasil e no Fórum China-CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), eventos que reforçam o caráter estratégico desta visita para a política externa brasileira e para o fortalecimento das relações comerciais com a China. O interesse demonstrado por empresas chinesas em investir no Brasil, especialmente em setores considerados prioritários para a transição energética e o desenvolvimento industrial do país, como energias renováveis e mobilidade elétrica, sinaliza uma convergência de interesses que pode resultar em benefícios mútuos para ambas as nações. Para o Brasil, estes investimentos representam não apenas a entrada de capital estrangeiro, mas também a oportunidade de desenvolvimento tecnológico e industrial em áreas estratégicas, fortalecendo sua posição como referência mundial em transição energética, conforme destacado pelo próprio governo brasileiro. Para a China, o Brasil representa um mercado importante e um parceiro estratégico na América Latina, especialmente em um contexto de disputas geopolíticas e tensões comerciais com os Estados Unidos. A expectativa é que os acordos e parcerias estabelecidos durante esta visita possam se converter em projetos concretos nos próximos anos, contribuindo para o desenvolvimento econômico e tecnológico do Brasil e para o fortalecimento da cooperação Sul-Sul no cenário internacional.
Fortalecimento das relações Brasil-China
A visita oficial do presidente Lula à China representa um capítulo importante na história das relações diplomáticas e comerciais entre os dois países, que tem se caracterizado por um crescimento constante ao longo das últimas décadas. O anúncio de investimentos significativos em áreas estratégicas para o desenvolvimento brasileiro, como energia renovável, mobilidade elétrica e infraestrutura, demonstra o potencial desta parceria para contribuir com os objetivos de desenvolvimento sustentável do Brasil e com sua inserção competitiva na economia global. A presença de empresas chinesas como a Norinco, com sua expertise em setores como defesa e infraestrutura, pode representar uma oportunidade para o Brasil modernizar suas capacidades em áreas consideradas prioritárias, desde que os acordos sejam estabelecidos de forma a garantir a transferência de tecnologia e o desenvolvimento de competências nacionais. O desafio para o governo brasileiro será equilibrar os benefícios dos investimentos estrangeiros com a necessidade de proteger interesses estratégicos nacionais e promover o desenvolvimento da indústria local, garantindo que as parcerias com empresas chinesas resultem em ganhos concretos para a economia e a sociedade brasileira.