Lula desembarca na Rússia para participar de desfile militar comemorativo ao Dia da Vitória

Presidente brasileiro se encontra com Putin em Moscou durante visita oficial.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a Moscou na quarta-feira (7) para participar das comemorações do 80º aniversário da vitória soviética sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. O petista acompanhará o tradicional desfile militar na Praça Vermelha, que acontecerá nesta sexta-feira (9) de maio, data que representa o feriado mais importante no calendário russo. A visita marca o primeiro encontro de Lula com o presidente russo Vladimir Putin desde que o brasileiro retornou ao Palácio do Planalto para seu terceiro mandato. Segundo a agenda oficial, os líderes teriam um jantar nesta quinta-feira (8), além de reuniões bilaterais onde está prevista a assinatura de acordos sobre o desenvolvimento de ciência e tecnologia entre ambos os países. O evento em Moscou contará com exibição de tropas, veículos militares e sistemas de armas no tradicional desfile, que o Kremlin espera reunir 29 líderes internacionais, conforme anunciado pelo conselheiro de Política Externa russo, Yuri Ushakov. A participação do presidente brasileiro ocorre em meio a um contexto geopolítico complexo, uma vez que o evento, nos últimos anos, passou a ser visto como uma demonstração de força da Rússia, especialmente após a ofensiva contra a Ucrânia.
O desfile do Dia da Vitória, que neste ano comemora oito décadas desde o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa, tornou-se uma plataforma significativa para a diplomacia russa, especialmente no atual cenário internacional. O Kremlin anunciou que, além do presidente Lula, estarão presentes figuras proeminentes como o presidente chinês Xi Jinping, o líder venezuelano Nicolás Maduro, o presidente cubano Miguel Díaz-Canel, além de representantes de ex-repúblicas soviéticas e de países africanos que mantêm relações próximas com a Rússia. Do continente europeu, apenas o primeiro-ministro eslovaco Robert Fico e o presidente sérvio Aleksandar Vucic foram anunciados como participantes, evidenciando o distanciamento entre Moscou e a maioria das nações europeias. O assessor diplomático de Putin, Yuri Ushakov, informou que formações militares de 13 países desfilarão no evento, incluindo tropas da China, Egito, Vietnã, Mianmar e várias ex-repúblicas soviéticas. Esta demonstração militar ocorre em um momento delicado, tendo em vista que Kiev alertou tropas de terceiros países para não marcharem ao lado de soldados russos, afirmando que isso equivaleria a “compartilhar a responsabilidade” pelas ações de Moscou na Ucrânia. A participação brasileira neste contexto tem gerado análises divergentes sobre o posicionamento do país no cenário geopolítico atual, com especialistas questionando as implicações diplomáticas da presença de Lula em um evento que ganhou novas conotações após o início do conflito russo-ucraniano.
A visita de Lula à Rússia busca sinalizar a independência da política externa brasileira, segundo fontes oficiais, embora analistas apontem que o gesto pode ter o efeito contrário, potencialmente reforçando a percepção de um alinhamento ideológico com Moscou. O perfil dos participantes do evento revela um panorama interessante das atuais alianças diplomáticas russas, com presença majoritária de líderes de nações que mantêm posições divergentes do bloco ocidental em relação ao conflito ucraniano. Entre os confirmados estão representantes da Indonésia, Burkina Faso, Bósnia, Vietnã, Egito, Zimbábue, Iraque, Congo, Mianmar, Etiópia e Guiné Equatorial, além dos tradicionais aliados da Rússia na Ásia Central. A agenda brasileira durante a visita também contempla uma reunião bilateral com o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, que tem adotado posições que desafiam o consenso da União Europeia em relação à Rússia. Este encontro sinaliza a busca por diálogo com diferentes atores internacionais, reforçando a tradição brasileira de manter canais abertos com diversos blocos geopolíticos. A participação no desfile militar russo, no entanto, ocorre em um momento em que o evento adquiriu conotações mais complexas, sendo interpretado por observadores ocidentais não apenas como uma comemoração histórica, mas também como uma plataforma de propaganda que o governo russo utiliza para demonstrar força militar e buscar legitimação internacional para suas políticas atuais, incluindo suas ações na Ucrânia, que completaram recentemente três anos.
As implicações diplomáticas da presença de Lula nesta celebração deverão repercutir nos próximos meses nas relações do Brasil com parceiros ocidentais, especialmente Estados Unidos e União Europeia, que têm mantido posições críticas em relação à Rússia. A visita a Moscou representa um movimento significativo na estratégia de política externa do atual governo brasileiro, que tem buscado reafirmar o princípio de não-alinhamento automático e a defesa do multilateralismo. Após as cerimônias na Rússia, o presidente brasileiro seguirá sua agenda internacional, evidenciando o esforço de manter diálogos ativos em múltiplas frentes diplomáticas. O desfile do Dia da Vitória, com sua mistura de comemoração histórica e demonstração contemporânea de poder, serve como um palco onde se desenrolam as complexas dinâmicas geopolíticas atuais, colocando o Brasil em uma posição de observação privilegiada, mas também de escrutínio internacional quanto aos sinais que sua participação emite. Para além do simbolismo da celebração dos 80 anos do fim da Segunda Guerra na Europa, o evento de 2025 cristaliza as divisões do atual sistema internacional, com a presença ou ausência de líderes mundiais servindo como um mapa das alianças e rupturas que caracterizam a ordem global contemporânea. A participação brasileira neste contexto reflete os desafios de uma política externa que busca manter autonomia e relevância em um mundo cada vez mais polarizado, onde gestos diplomáticos ganham interpretações múltiplas e por vezes contraditórias.
Visita reforça política externa independente em cenário internacional complexo
A visita do presidente brasileiro à Rússia para as celebrações do Dia da Vitória se insere em um contexto mais amplo da atual política externa brasileira, que busca reafirmar a tradição de independência diplomática do país. Ao participar de um evento que reúne diversos líderes mundiais, especialmente aqueles com posições divergentes do eixo ocidental, Lula sinaliza a disposição do Brasil em manter diálogo com diferentes blocos geopolíticos, mesmo em momentos de tensão internacional. A presença brasileira no desfile militar de Moscou, ao lado de figuras como Xi Jinping, evidencia a busca por um equilíbrio nas relações internacionais que, embora possa gerar críticas de parceiros ocidentais, reforça o posicionamento brasileiro como um ator global com capacidade de interlocução em diversos cenários. Os próximos meses serão cruciais para avaliar como esta visita influenciará as relações do Brasil com outros parceiros estratégicos e qual será seu impacto na percepção internacional sobre o posicionamento brasileiro diante dos principais conflitos contemporâneos. O desafio para a diplomacia brasileira será demonstrar que a participação em eventos como o Dia da Vitória em Moscou não representa um alinhamento ideológico, mas sim a continuidade de uma tradição diplomática de diálogo universal e busca por soluções multilaterais para os desafios globais.