Lula confirma candidatura para 2026 e enfrenta políticos que torcem por Tarcísio candidato

Lula caminha para 2026 ancorado em base com políticos que torcem por Tarcísio candidato.
Presidente reforça intenção de disputar reeleição em diferentes ocasiões.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem manifestado reiteradamente sua intenção de concorrer às eleições presidenciais de 2026, conforme demonstram suas declarações em diferentes encontros com parlamentares e eventos públicos nos últimos meses. Em reunião com líderes do Senado realizada em 2 de abril de 2025, o petista afirmou categoricamente que estará na disputa pelo Palácio do Planalto, demonstrando confiança apesar da alta desaprovação apontada pela última pesquisa Genial/Quaest, que indicou 56% de rejeição ao seu governo. Segundo relatos de senadores presentes no encontro, Lula se mostrou “candidatíssimo”, “alegre” e “disposto” para assumir um novo mandato à frente da Presidência da República. Em fevereiro, durante cerimônia de assinatura da concessão de Terminal do Porto de Itaguaí, o presidente já havia dado sinais nessa direção ao declarar: “A partir de agora quem quiser disputar comigo [em 2026] tem que ir pra rua”. Mais recentemente, em jantar com deputados na casa do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), Lula foi enfático ao afirmar que “se alguém pensa que ele não é candidato, está errado”, reforçando que está bem de saúde e que está se preparando para viver “120 anos”, segundo líderes ouvidos pela imprensa.
A intenção de Lula de concorrer à reeleição representa uma mudança significativa em relação ao discurso adotado durante a campanha eleitoral de 2022, quando o petista havia descartado a possibilidade de disputar um novo mandato. No entanto, desde que assumiu o governo, o presidente tem dado sinais cada vez mais claros de que pretende permanecer no poder. Em declaração a senadores, Lula afirmou que está cuidando da saúde, fazendo exercícios e mantendo a forma para ser candidato. “Ele foi literal: tendo saúde, é candidato. E fez questão de dizer que está forte. Vejo com plenas condições de levar o plano adiante”, relatou um dos presentes ao encontro. O petista tem demonstrado otimismo em relação aos resultados econômicos do país, destacando o crescimento de 3,5% do PIB em 2024, segundo estimativa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgada em fevereiro. Apesar da queda na popularidade, com recuo na aprovação e aumento da rejeição conforme indicam as pesquisas mais recentes, Lula parece considerar essa situação como conjuntural e reversível. Durante encontros com parlamentares, o presidente tem tratado sua crise de popularidade como temporária, demonstrando confiança na capacidade de recuperação de sua imagem pública antes do pleito de 2026. Além disso, o presidente tem buscado fortalecer sua base de apoio no Congresso Nacional, prometendo atenção especial aos senadores que disputarão a reeleição no próximo ano.
Enquanto Lula se movimenta para garantir sua candidatura em 2026, o campo da direita também começa a se articular visando a próxima disputa presidencial. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou em evento recente que a direita deve se unir em torno de um único nome para disputar a eleição presidencial, e que esse arranjo passa pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que está inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Acho que o diferencial da centro-direita é que ela tem uma agenda de país, portanto, tem mais a oferecer para o Brasil. Eu não vejo, até por termos uma agenda, que questões pessoais vão falar mais alto. Não vejo um desafio tão grande [em aglutinar a direita]”, disse Tarcísio durante o evento “Brazil Investment Forum”, promovido pelo Bradesco BBI em São Paulo. O governador paulista destacou ainda a importância da figura de Bolsonaro nesse processo: “Temos uma grande liderança na direita, que é o Bolsonaro, que tem capacidade de aglutinar essas forças. Esse arranjo vai passar por ele”. Embora Tarcísio seja frequentemente apontado como potencial candidato da direita em 2026, ele voltou a negar ter intenção de disputar a Presidência da República, afirmando estar focado na administração de São Paulo. O cenário eleitoral para 2026 começa a se desenhar com Lula demonstrando disposição para buscar a reeleição, enquanto a oposição ainda precisa definir seu candidato, com a influência de Bolsonaro sendo determinante nesse processo, mesmo estando inelegível.
As pesquisas de intenção de voto para 2026, ainda que preliminares, já oferecem alguns indicativos sobre o possível cenário eleitoral. Levantamento do instituto Genial/Quaest divulgado em abril de 2025 mostra que o presidente Lula lidera em projeções de segundo turno contra potenciais candidatos da direita. Esse desempenho nas pesquisas, mesmo diante da queda de popularidade do governo, sugere que o petista mantém uma base eleitoral consistente, o que reforça sua confiança para disputar um novo mandato. Nos próximos meses, a movimentação política deve se intensificar, com Lula buscando recuperar sua popularidade e articular uma base de apoio mais sólida no Congresso Nacional. O presidente já sinalizou que pretende “mergulhar novamente na articulação” política, reconhecendo a importância de fortalecer as alianças para viabilizar sua candidatura e eventual governo. O encontro com deputados na residência do presidente da Câmara foi relatado como “amistoso e proveitoso para melhorar a interlocução entre Executivo e Legislativo”, sendo descrito por um dos participantes como “um jantar para botar os pingos nos i’s”. Nesse contexto de preparação para 2026, questões como a gestão da economia, especialmente o controle da inflação e a redução da taxa de juros, deverão ganhar centralidade no debate político, uma vez que o próprio presidente reconheceu que esses fatores impactam sua popularidade.
Cinco partidos de centro e de direita que compõem sua coalizão, são fontes constantes de instabilidade
Os cinco partidos de centro e de direita que compõem sua coalizão – União Brasil, PSD, MDB, PP e Republicanos – são fontes constantes de instabilidade, não asseguram apoio à possível tentativa do petista de tentar um quarto mandato e, mais do que isso, são entusiastas da possível candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A Folha ouviu congressistas e dirigentes das cinco legendas, que somam quase metade do tamanho da Câmara – 240 deputados. Uma situação simboliza o grau de dificuldades: o fato de a prometida reforma ministerial se arrastar há seis meses sem sair do papel.
Em 2024, aliados de Lula pregavam a necessidade de dança de cadeiras após as eleições municipais, cotejando a força demonstrada por cada um e privilegiando os que se comprometessem a cerrar fileiras na campanha do PT em outubro de 2026. O presidente, que estará para completar 81 anos na eleição, tentará mesmo um quarto mandato?
Apesar de ter se classificado como “candidatíssimo” em abril, dois meses antes ele mesmo já citou a própria idade e disse que não sabia se será candidato ou não. “Eu tenho 79 anos, não posso mentir para ninguém nem para mim. Se eu tiver 100% de saúde, como estou hoje?”
Passados seis meses, só peças do próprio PT foram trocadas, além de duas que não têm relação com acomodação da base: Carlos Lupi (Previdência), do PDT, pelo escândalo do INSS, e Juscelino Filho (Comunicações), do União Brasil, pela denúncia contra ele da Procuradoria-Geral da República. Essa última se deu ainda em meio a um bate-cabeça adicional. O líder da bancada na Câmara, Pedro Lucas Fernandes (MA), foi escolhido pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), se reuniu-se com o governo, recebeu o convite, aceitou e foi anunciado pela ministra Gleisi Hoffmann, responsável pela articulação política do Palácio do Planalto.
Dias depois, recuou devido à artilharia interna contra o governo, um sintoma, de resto, que em maior ou menor grau está em todos os outros quatro partidos da aliança.Segundo, o PT não dispõe de força no Congresso Nacional para prescindir dessas alianças, mesmo que indigestas. O prazo para definições mais cabais em relação a 2026 é em outubro, dizem uns – ou seja, um ano antes da eleição -, ou o primeiro semestre do ano que vem, dizem outros. Há também muitas variáveis.
Entre elas: Tarcísio irá se candidatar à Presidência ou tentará a reeleição em São Paulo? Jair Bolsonaro (PL) conseguirá recuperar a elegibilidade? Se não, apoiará ou pressionará Tarcísio a se lançar? Ou escolherá alguém da própria família, como os filhos Flávio e Eduardo? A economia, incluída a inflação de alimentos, estará no mesmo patamar, irá piorar ou melhorar? A popularidade de Lula, que atingiu o pior nível em fevereiro, irá se recuperar?
Tão preocupante quanto para o governo é o fato, também disseminado entre essas legendas, de que uma possível candidatura de Tarcísio teria o condão de unir as forças políticas fora da esquerda.
O que é dito abertamente pelo presidente do PSD, Gilberto Kassab, figura simbólica dessa “base infiel”, já que comanda legenda com três ministérios ao mesmo tempo em que é secretário e entusiasta do governador de São Paulo.
O partido, que tem três ministérios, é fruto da fusão em 2022 de DEM e PSL. O primeiro é o ex-PFL, sigla com origem no partido de apoio à ditadura militar e que por 40 anos foi, ao lado do PSDB, o principal adversário do PT e da esquerda. Já o PSL era um partido nanico que só cresceu devido à filiação de Bolsonaro em 2018, atualmente o principal antípoda eleitoral de Lula.
O MDB também está alinhado a Tarcísio em São Paulo e embora tenha importantes quadros muito próximos a Lula – como o governador Helder Barbalho (PA) e o senador Renan Calheiros (AL) -, abriga expressiva ala de oposição no Sul e Sudeste, além de ter sido o partido que, não esquece o PT, comandou o impeachment de Dilma Rousseff em 2016.
O PP controla a pasta dos Esportes e a Caixa Econômica Federal, que virou feudo do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira. Apesar disso, é presidido pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI), um dos principais críticos de Lula. Nos bastidores, integrantes do partido dizem considerar muito pouco o que controlam tendo em vista o tamanho do PP no Congresso.
Já o Republicanos, além de ser o partido de Tarcísio, é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, importante foco do antipetismo. Assim como os outros partidos, tem mais simpatizantes a Lula no Nordeste e abriga forte oposição entre parlamentares do Sul e Sudeste.
Perspectivas para a disputa presidencial
Com mais de um ano até o início oficial da campanha eleitoral, o tabuleiro político para 2026 começa a ser desenhado com Lula posicionando-se como candidato à reeleição e a direita buscando convergência em torno de um nome competitivo. A capacidade do atual presidente de reverter a queda de popularidade e entregar resultados econômicos positivos será determinante para suas chances de conquistar um novo mandato, enquanto a oposição enfrenta o desafio de superar divergências internas e encontrar uma candidatura capaz de unificar o campo conservador, mesmo com a inelegibilidade de sua principal liderança, o ex-presidente Bolsonaro. O cenário econômico e a governabilidade no Congresso serão fatores cruciais nessa equação política que definirá os rumos do país nos próximos anos.