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Lua de mel entre PT e Galípolo termina com divergências sobre autonomia do Banco Central

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Lua de mel entre PT e Galípolo chega ao fim com discordâncias sobre autonomia do Banco Central.

Apoio petista ao presidente do BC esfria após defesa da PEC da Autonomia Financeira.

O relacionamento entre o Partido dos Trabalhadores e o atual presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que começou com clima amistoso em janeiro deste ano, já apresenta sinais claros de desgaste após divergências em série sobre temas econômicos fundamentais. Quando Galípolo assumiu o comando da instituição no início de 2025, foi inicialmente aplaudido pelos petistas, que estabeleceram uma espécie de pacto de não agressão, mantendo as críticas direcionadas apenas à gestão anterior de Roberto Campos Neto. No entanto, a situação mudou rapidamente quando Galípolo não promoveu alterações significativas na política monetária e, contrariando as expectativas de lideranças do partido do presidente Lula, passou a defender veementemente a PEC da Autonomia Financeira do Banco Central. Em reunião realizada na terça-feira, 27 de maio, com senadores, o presidente do BC pediu empenho na tramitação da proposta e defendeu que a instituição precisa estar alinhada com os demais bancos centrais das nações mais desenvolvidas, posicionamento que desagradou profundamente a cúpula petista que historicamente se opõe à ampliação da autonomia da autoridade monetária.

A tensão entre o PT e Galípolo sobre a autonomia do Banco Central ocorreu poucos dias após vir a público outra divergência significativa, desta vez entre o presidente do BC e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em relação ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) anunciado recentemente pelo governo federal. O episódio revelou um desalinhamento de estratégia entre as duas autoridades econômicas, após promessas iniciais de ação harmônica na política econômica. Galípolo deixou claro publicamente que não apenas não foi informado da decisão de aumento do imposto, como também se manifestou contrário à medida, expressando sua “antipatia” e “resistência” à utilização da alíquota de IOF como instrumento para perseguir a meta fiscal, destacando os riscos que tal estratégia poderia trazer ao mercado financeiro. Este não foi o primeiro episódio de incômodo na relação, pois o mal-estar já estava presente nas discussões sobre o impacto do atual patamar da taxa básica de juros, a Selic, na economia brasileira. Em fevereiro, declarações da subsecretária de Política Macroeconômica da Fazenda, Raquel Nadal, sobre as projeções de crescimento econômico do Banco Central não foram bem recebidas pela autoridade monetária, sinalizando as primeiras fissuras na relação que parecia promissora.

O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), afirmou que não foi procurado por Galípolo nem por integrantes do governo para tratar da PEC e reforçou que o partido é historicamente contrário a ampliar a autonomia do Banco Central. A declaração explicita o distanciamento entre o dirigente da instituição e o partido que governa o país, frustrando as expectativas iniciais dos petistas. No final do ano passado, a expectativa de integrantes do PT com a chegada de Galípolo era bastante positiva, especialmente após o partido passar anos em conflito com o ex-presidente do BC Roberto Campos Neto. Na ocasião, o próprio Lindbergh avaliava que a principal tarefa do novo presidente seria conter o câmbio com mais intervenções da autoridade monetária. Em paralelo, o deputado esperava que Galípolo “falasse bem” do governo e acreditava que essa retórica positiva tranquilizaria os agentes de mercado e contribuiria para a redução dos juros, o que ainda não aconteceu. Pelo contrário, o ciclo de alta de juros continuou e, nos últimos dias, Galípolo reiterou sua visão de que os indicadores de atividade econômica continuam demonstrando resistência mesmo com o aperto monetário, sugerindo que os canais de transmissão da política monetária estão obstruídos, o que significa que os efeitos de uma Selic mais alta podem não estar chegando ao destino como seria esperado.

O episódio do IOF e a defesa da PEC da Autonomia Financeira representam um ponto de inflexão na relação entre o governo Lula e o Banco Central sob o comando de Gabriel Galípolo. As recentes medidas tomadas pelo BC em relação ao IOF, implementadas entre o final de 2024 e o início de 2025, demonstram uma abordagem cirúrgica para gerenciar os desafios econômicos do Brasil, com aumento nas taxas para empréstimos estrangeiros de curto prazo e operações especulativas de câmbio, enquanto isenta investimentos relacionados à exportação e infraestrutura. Esta estratégia resultou em uma estabilização do real brasileiro, que passou de 6,19 para 5,78 por dólar entre o final de 2024 e o início de 2025. No entanto, apesar dos resultados positivos na estabilização da moeda nacional, a defesa enfática de Galípolo pela autonomia financeira do Banco Central coloca em xeque a continuidade de uma relação harmoniosa com o governo petista. Para tentar amenizar o clima – e considerando que existem alas divergentes dentro do próprio PT sobre o tema – há tentativas de ajustar o texto da PEC no Senado de forma a contemplar demandas petistas. O desfecho desse embate poderá definir não apenas o futuro da relação entre o Banco Central e o governo, mas também os rumos da política econômica brasileira nos próximos anos, especialmente no que diz respeito à condução da política monetária e fiscal, temas cruciais para a recuperação econômica do país após períodos de instabilidade.

Os bastidores do desgaste na relação entre BC e governo federal

Durante a reunião com senadores, Galípolo relatou a mudança de cenário na última década que trouxe novas demandas ao Banco Central, destacando o aumento dos bancos digitais enquanto a instituição perdeu metade dos seus colaboradores. O presidente do BC também fez uma defesa técnica sobre a necessidade de uma gestão mais eficiente do orçamento e chegou a brincar com o tempo de vida da frota de carros do Banco Central, que data da década de 1980 e tem a mesma idade dele, lembrando que, sem a autonomia financeira, não consegue sequer trocar os veículos. Essa postura pragmática de Galípolo, embora compreensível do ponto de vista da gestão da instituição, colide frontalmente com posicionamentos históricos do PT, criando um cenário de divergência que parece cada vez mais difícil de ser contornado e que pode comprometer a coordenação da política econômica brasileira nos próximos meses, justamente em um momento em que o país precisa de estabilidade para consolidar sua recuperação econômica.

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