Ligações automáticas silenciosas aumentam golpes e preocupam brasileiros

Ligações mudas identificam alvos para golpes crescentes.
O aumento das ligações automáticas que ficam em silêncio logo após serem atendidas tem provocado preocupação entre brasileiros de todas as regiões. Conhecidas como “ghost calls” ou chamadas fantasmas, essas ligações ocorrem quando o telefone toca, a pessoa atende, mas não ouve nada do outro lado da linha, sendo interrompida poucos segundos depois. O fenômeno tem se intensificado em 2025 e afeta tanto áreas urbanas quanto rurais, sendo estimulado pela popularização das tecnologias VoIP e pela ação de empresas de telemarketing e golpistas. O objetivo central dessas chamadas é identificar números ativos e traçar o perfil de quem está atendendo, muitas vezes utilizando softwares automatizados capazes de realizar milhares de contatos em questão de minutos. O problema é agravado pelo uso de terceiros em setores de vendas que terceirizam robôs discadores, facilitando o disparo em massa dessas chamadas e dificultando o rastreamento de sua origem. Para os especialistas em segurança digital, o silêncio na ligação não é mero acaso: trata-se de um teste para confirmar que o telefone pertence a alguém acessível e disposto a atender, tornando essa pessoa um potencial alvo em futuros golpes que podem envolver tentativas de fraude financeira, pedidos de dados pessoais ou até ataques de engenharia social cada vez mais sofisticados.
A proliferação dessas chamadas automáticas silenciosas tem raízes em uma combinação de incentivos comerciais e facilidades tecnológicas. O desenvolvimento de sistemas VoIP, que transmitem voz pela internet, permitiu que empresas de telemarketing reduzissem custos e aumentassem exponencialmente o número de contatos diários, promovendo o incômodo para milhões de consumidores. O sistema, no entanto, é explorado por criminosos que veem na automatização uma oportunidade de trabalho em larga escala para identificar linhas habilitadas e perfis vulneráveis. Dados divulgados pela Anatel estimam que, só no Brasil, mais de 20 bilhões de ligações desse tipo são feitas por mês, e pelo menos metade vem de robôs. O silêncio dessas ghost calls não significa erro, mas sim uma triagem que visa atualizar bases de dados de telefones válidos para abordagens futuras – sejam elas comerciais ou criminosas. Ao identificar padrões de resposta e o perfil do usuário pela voz ou ausência dela, os fraudadores conseguem refinar suas estratégias, preparando tentativas mais personalizadas de golpe em ligações subsequentes. A prática, embora não seja ilegal em sua totalidade quando utilizada por call centers, torna-se criminosa ao ser empregada para fins de fraude ou obtenção irregular de informações pessoais.
Os desdobramentos desse fenômeno são alarmantes, principalmente diante da dificuldade do usuário comum em distinguir uma ligação automática inofensiva de um primeiro passo para um golpe. As estratégias de criminosos evoluíram para incluir, após uma chamada silenciosa, o contato posterior com discursos mais convincentes, como alegações de problemas bancários, solicitações de atualização cadastral ou até tentativas de confirmação de dados pessoais, muitas vezes utilizando elementos coletados na ligação anterior. Ao validar que um número está ativo, os fraudadores ganham um mapa de possíveis vítimas, tornando suas abordagens mais precisas e perigosas. Enquanto isso, empresas de telemarketing afirmam que o volume de ligações mudas ocorre porque o número de robôs discando simultaneamente supera o número de atendentes disponíveis, causando quedas automáticas. A Anatel, pressionada por consumidores e órgãos de defesa do consumidor, passou a monitorar e multar empresas responsáveis por excesso de chamadas automáticas – com a criação de canais como o aplicativo Anatel Consumidor e o atendimento via WhatsApp para denúncias. Mesmo assim, o desafio de fiscalização é enorme, pois golpistas continuam explorando brechas tecnológicas, e o incômodo para o cidadão permanece alto, com consequências diretas na qualidade de vida e na segurança digital do brasileiro.
Diante desse cenário, a recomendação dos especialistas é que os brasileiros adotem postura vigilante ao receber ligações silenciosas ou de números desconhecidos. O ideal é não retornar chamadas para números suspeitos, evitar fornecer qualquer informação pessoal e, sempre que possível, registrar reclamações nos canais oficiais da Anatel. Ferramentas de bloqueio de chamadas e aplicativos de identificação de spam telefônico também ajudam a reduzir o número de contatos indesejados. As expectativas para o futuro incluem o avanço das regulamentações do setor e melhorias nos sistemas de rastreamento das ligações automáticas, exigindo colaboração entre prestadoras, órgãos de fiscalização e sociedade civil. Enquanto soluções definitivas não chegam, a conscientização permanece como a principal aliada na prevenção a golpes telefônicos que começam, muitas vezes, com um simples e enganoso silêncio do outro lado da linha.
Medidas de proteção e perspectivas para o combate aos golpes telefônicos
Diante do cenário crescente de ligações automáticas silenciosas, torna-se fundamental que os brasileiros adotem boas práticas para proteger seus dados e evitar cair em golpes sofisticados. Especialistas recomendam, em primeiro lugar, o bloqueio de números suspeitos e o uso de aplicativos que identificam e filtram chamadas automáticas. Além disso, nunca se deve compartilhar informações pessoais ou bancárias por telefone, principalmente quando a origem da ligação é desconhecida. Outra dica é desconfiar de qualquer tentativa de coagir o usuário a fornecer dados sob pretexto de segurança ou atualização de cadastro. As iniciativas da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) têm papel importante nesse contexto: a regulamentação mais rígida de robocalls, a criação de plataformas para denúncias e o incentivo ao uso do aplicativo Anatel Consumidor ajudam na proteção do usuário e na identificação de práticas irregulares.
O papel das operadoras e das empresas de tecnologia crescerá ainda mais nos próximos anos, com a implementação de filtros inteligentes e sistemas de autenticação capazes de barrar disparos automáticos feitos por fraudadores. No entanto, mesmo diante dessas ferramentas, a conscientização do público sobre as dinâmicas das ligações silenciosas segue sendo determinante na prevenção do crime. Famílias podem se beneficiar de conversas francas sobre o risco de golpes por telefone, especialmente idosos e pessoas menos familiarizadas com recursos digitais. Ações educativas, aliadas à pressão por medidas mais rigorosas das autoridades, são fundamentais para mitigar o incômodo causado pelas ghost calls e reduzir o número de vítimas. A longo prazo, espera-se que a combinação de tecnologia, legislação eficiente e informação torne esse tipo de golpe cada vez mais raro, devolvendo ao brasileiro a tranquilidade de atender o telefone sem medo.
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