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JBS próxima de falhar em seu compromisso contra o desmatamento na Amazônia

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Maior empresa de proteína animal do mundo enfrenta desafios para cumprir meta até o fim de 2025.

A JBS, maior empresa de processamento de carnes do mundo, está prestes a não conseguir cumprir sua promessa de eliminar o desmatamento da Amazônia de sua cadeia de fornecimento até o final de 2025. Segundo relatos de pecuaristas da região amazônica, práticas generalizadas de “lavagem de gado” e contornos das regras ambientais continuam a ocorrer, dificultando os esforços da empresa para atingir suas metas de sustentabilidade. Após pressão sustentada de organizações ambientais, a JBS se comprometeu em 2021 a parar de comprar gado criado em áreas ilegalmente desmatadas na Amazônia até o fim de 2025, mas agora, quando faltam apenas sete meses para o prazo final, pecuaristas da região indicam que será praticamente impossível para a empresa manter a escala atual de suas operações enquanto cumpre com esse compromisso. A situação é agravada pela seca extrema e incêndios florestais que atingiram estados como Rondônia no ano passado, onde grande parte da floresta úmida já foi eliminada para dar lugar a fazendas de gado.

O cenário atual evidencia as dificuldades estruturais enfrentadas pela JBS para rastrear completamente sua cadeia de fornecimento na Amazônia, especialmente quando se trata dos fornecedores indiretos – aquelas fazendas que não vendem diretamente para a empresa, mas fornecem gado para fazendas que o fazem. Investigações recentes demonstraram que mais de 400 hectares de floresta foram destruídos no ano passado em fazendas pertencentes a fornecedores indiretos da JBS, o equivalente a mais de um campo de futebol perdido todos os dias apenas no estado do Pará. Embora a empresa afirme ter uma política de “tolerância zero ao desmatamento” e ter bloqueado 16.000 pecuaristas que não estavam em conformidade com suas regras, como declarado pelo CEO Gilberto Tomazoni, a opacidade da cadeia de suprimentos de gado no Brasil continua sendo um desafio significativo. Em sua defesa, a JBS alega ter implementado uma plataforma de transparência baseada em blockchain e afirma que até o momento cerca de 50% dos fornecedores indiretos estão registrados nesse sistema. Contudo, pecuaristas na região de Rondônia questionam se a empresa conseguirá ter animais suficientes para manter seus abatedouros funcionando caso realmente implemente todas as restrições relativas ao desmatamento.

Em uma tentativa de melhorar a rastreabilidade de sua cadeia de fornecimento, a JBS anunciou em dezembro de 2023, durante a COP 28 em Dubai, um investimento de US$ 9 milhões ao longo de três anos para apoiar pequenos produtores na adoção de identificação animal obrigatória no estado do Pará. A iniciativa, desenvolvida em parceria com o governo estadual, visa alcançar 100% do gado do estado com etiquetas de identificação individual até 2026, garantindo rastreabilidade desde o nascimento até o abate. Além disso, a empresa estabeleceu quatro “Escritórios Verdes” em municípios do Pará, que oferecem expertise técnica e serviços de extensão aos produtores. No entanto, apesar desses esforços, investigações conduzidas por organizações como a Global Witness e a Repórter Brasil continuam a identificar problemas graves na cadeia de fornecimento da empresa. Em um caso recente documentado pela Repórter Brasil, um fornecedor da JBS alterou o perímetro declarado de sua fazenda para excluir interdições ambientais que anteriormente se sobrepunham à propriedade, conseguindo assim vender gado para a empresa em 2024, apesar das interdições ainda estarem válidas. Após questionamentos, a JBS informou que bloqueou preventivamente a propriedade.

O histórico da JBS em relação a compromissos ambientais levanta sérias dúvidas sobre sua capacidade de cumprir a promessa de desmatamento zero na Amazônia até o final de 2025. Após um relatório histórico da Greenpeace em 2009, a empresa assinou acordos com o Ministério Público brasileiro comprometendo-se a garantir que seus produtos estivessem livres de desmatamento após outubro de 2009 e do uso de trabalho forçado ou invasão de terras indígenas. No entanto, 14 anos depois, apesar da JBS afirmar ter eliminado o desmatamento e o trabalho forçado de sua cadeia de fornecimento, ela ainda não conseguiu entregar esses compromissos críticos de forma efetiva. Auditorias oficiais encontraram desmatamento em larga escala entre 2019-2020, contradizendo as afirmações da empresa de ter cumprido seus compromissos ambientais. No estado do Pará, por exemplo, constatou-se que mais de um sexto das compras de gado da JBS – aproximadamente 94.000 cabeças – não estavam em conformidade, principalmente devido ao desmatamento ilegal por seus fornecedores diretos. Os próximos meses serão cruciais para determinar se a empresa conseguirá implementar mudanças significativas em suas práticas de compra ou se, como sugerem os pecuaristas da região, será forçada a fazer escolhas difíceis entre manter sua escala de operações ou realmente eliminar o desmatamento de sua cadeia de fornecimento na Amazônia brasileira.

JBS sobe em auditoria e alcança mais de 98% de confromidade do TAC da carne

A JBS apresentou avanços na auditoria dos compromissos da pecuária na Amazônia Legal, atingindo 98,23% de conformidade em relação ao volume de animais, conforme dados do 2º Ciclo do Protocolo de Monitoramento Boi na Linha, divulgados pelo Ministério Público Federal (MPF) nesta quarta-feira (14). O estudo tem como objetivo assegurar o cumprimento das normas socioambientais e reforçar a origem legal da carne disponível ao consumidor. Esse resultado representa um crescimento de 4,4 pontos percentuais em comparação com a primeira edição e aponta para uma possível conformidade total de 100% no próximo ciclo de auditoria.

“A JBS apoia o trabalho de unificação da auditoria conduzido pelo Ministério Público Federal nos estados da Amazônia e concorda com a necessidade de que todas as empresas signatárias do TAC da Carne sejam auditadas, assim como as indústrias fora desse acordo também devem ser monitoradas”, afirmou a companhia. A seguir, estão os resultados da JBS por estado:

  • Rondônia: 99,23% (+11,22 pontos percentuais em relação ao ciclo anterior)
  • Mato Grosso: 98,19% (+0,34 ponto percentual)
  • Acre: 98,14% (+8,28 pontos percentuais)
  • Tocantins: 98,03% (estreia do estado, sem comparação com a edição anterior)
  • Pará: 97,01% (+3,01 pontos percentuais)

Embora a JBS não possua fábricas de processamento de carne bovina no Amazonas, o desempenho nesse estado também foi divulgado.

“Este desempenho demonstra que estamos muito próximos da meta de 100% de conformidade, um número que reflete todo o esforço da Companhia para a produção sustentável na Amazônia. O avanço observado neste ciclo confirma o que já apontamos anteriormente, de que temos um plano claro para atingir esse objetivo”, afirmou Liège Correia, diretora de Sustentabilidade da JBS Brasil.

Caso não houvesse problemas com a documentação, a taxa de não conformidade da JBS, que atualmente é de 1,77%, teria caído para 0,27%. Todo o processo de auditoria foi conduzido conforme o Protocolo de Auditoria do Boi na Linha, que estabelece as diretrizes e critérios para as avaliações. As auditorias foram realizadas por amostragem, exceto nos casos de arrendamentos e na lista de Trabalho Escravo, que foram analisados para toda a base de GTAs (Guias de Trânsito Animal).

A JBS adota, há 15 anos, um sistema de monitoramento geoespacial para assegurar o cumprimento de seus requisitos socioambientais no Brasil. De acordo com a empresa, seus fornecedores não podem operar em áreas de desmatamento, terras indígenas, unidades de conservação ambiental ou territórios quilombolas, além de não poderem utilizar trabalho escravo ou ter embargos ambientais.

“Uma única empresa não pode resolver as questões socioambientais na Amazônia sozinha. Se as milhares de fazendas eventualmente bloqueadas continuarem a vender gado para quem não faz parte do acordo, haverá uma lacuna significativa. É fundamental que o setor adote regras universais de atuação”, destacou a diretora de Sustentabilidade da JBS Brasil.

A auditoria foi conduzida pela consultoria Grant Thornton entre 20 de setembro do ano passado e 15 de março deste ano, abrangendo as compras realizadas de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2022.

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