Instituto Afro aciona Ministério Público contra shows de Claudia Leitte na Bahia

Pedido de proibição de contratações pelo governo e prefeitura.
A controvérsia teve início quando um vídeo da cantora viralizou nas redes sociais, no qual ela fazia comentários considerados desrespeitosos sobre práticas e símbolos das religiões de matriz africana. As declarações foram interpretadas por muitos como preconceituosas e ofensivas às tradições do candomblé e da umbanda, religiões com forte presença e importância histórica e cultural na Bahia. O caso gerou intensa mobilização de lideranças religiosas, movimentos sociais e entidades de defesa dos direitos da população negra, que exigiram um posicionamento das autoridades e medidas concretas para coibir manifestações de intolerância religiosa. O Idafro, representando esses setores, decidiu acionar o Ministério Público como forma de pressionar o poder público a não compactuar com atitudes consideradas discriminatórias.
Além da proibição de contratações futuras, o instituto pede que sejam cancelados eventuais contratos já firmados com a cantora para apresentações em eventos oficiais do governo estadual e da prefeitura de Salvador. A ação argumenta que o uso de recursos públicos para contratar uma artista que demonstrou desrespeito às religiões afro-brasileiras seria incompatível com o princípio da laicidade do Estado e com as políticas de promoção da igualdade racial. O MPBA, ao instaurar o inquérito civil, solicitou informações às secretarias de cultura do estado e do município sobre contratos existentes ou previstos com Claudia Leitte. Paralelamente, a Promotoria de Justiça de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa analisa se as declarações da cantora configuram crime de intolerância religiosa, podendo resultar em ação penal caso seja constatada a prática delituosa.
O caso reacendeu o debate sobre os limites entre liberdade de expressão e respeito às crenças religiosas, especialmente em um estado com forte herança cultural afro-brasileira como a Bahia. Especialistas em direitos humanos e lideranças religiosas defendem que figuras públicas, como artistas de grande popularidade, têm responsabilidade redobrada em suas manifestações, devendo evitar declarações que possam incitar o preconceito ou a discriminação. A polêmica envolvendo Claudia Leitte deve ter desdobramentos nas próximas semanas, com a expectativa de que o Ministério Público se pronuncie sobre as medidas cabíveis após a conclusão do inquérito civil. O episódio evidencia a crescente mobilização da sociedade civil contra casos de intolerância religiosa e a busca por mecanismos legais para coibir práticas discriminatórias, reafirmando a importância do respeito à diversidade cultural e religiosa no país.