Igreja Católica denuncia comércio ilegal de relíquias do futuro santo Carlo Acutis

Igreja Católica denuncia comércio ilegal de relíquias do futuro santo Carlo Acutis
Bispo de Assis recorre à justiça contra venda de supostos cabelos de jovem beato
A Igreja Católica iniciou uma batalha judicial contra a comercialização ilegal de supostas relíquias de Carlo Acutis, o jovem italiano que será canonizado ainda este ano e é considerado o futuro “padroeiro da internet”. O caso veio à tona após o bispo Dom Domenico Sorrentino, da diocese de Assis na região da Úmbria, Itália, denunciar ao Ministério Público de Perugia a venda online de mechas de cabelo atribuídas ao beato. A denúncia, apresentada no final de março de 2025, resultou na abertura imediata de uma investigação pelas autoridades italianas. O item principal que desencadeou a ação judicial foi colocado em leilão na internet por aproximadamente 2 mil euros (cerca de R$ 12.800), valor considerado absurdo pelos representantes da Igreja que ressaltam que, segundo o Direito Canônico, relíquias sagradas não podem ser comercializadas sob hipótese alguma. Em nota oficial divulgada pela diocese, Dom Sorrentino classificou a situação como “uma grande ofensa ao sentimento religioso” e solicitou a imediata apreensão do material, independentemente de sua autenticidade.
A comercialização de relíquias sagradas representa uma violação grave das tradições católicas, que remontam aos primeiros séculos da história cristã. Conforme explicado pelo bispo Sorrentino, as relíquias são tradicionalmente doadas gratuitamente pelos bispos, e, no máximo, podem ser aceitas oferendas voluntárias aos santuários de onde provêm os itens sagrados. A investigação conduzida pelas autoridades italianas busca não apenas verificar a autenticidade das relíquias postas à venda, mas também identificar os responsáveis por esse comércio ilegal. Segundo informações preliminares divulgadas pela diocese de Assis, as supostas mechas de cabelo teriam sido colocadas à venda por um homem identificado apenas pelo sobrenome, que alegava possuir certificados de autenticidade emitidos pela própria postulação da causa de canonização. O caso ganhou ainda mais relevância por ocorrer às vésperas da canonização de Carlo Acutis, marcada para 27 de abril na Praça de São Pedro e adiada depois da morte do papa Francisco. O jovem italiano, que faleceu em 2006 aos 15 anos vítima de leucemia, será o primeiro santo millennial da Igreja Católica, representando um marco importante para a instituição na era digital.
O arcebispo Domenico Sorrentino, responsável pela diocese onde o corpo de Carlo Acutis está sepultado, foi além em suas declarações e chegou a sugerir influências malignas por trás da comercialização das relíquias. “Depois de verificarmos o leilão na internet, decidimos registrar uma reclamação. Temo que Satanás tenha uma mão nisso”, afirmou o religioso, ressaltando a gravidade do ato na perspectiva da fé católica. A indignação da Igreja não se limita apenas às relíquias de Carlo Acutis. Durante a denúncia, o bispo também mencionou a existência de um mercado clandestino mais amplo de relíquias na internet, incluindo itens atribuídos a São Francisco de Assis e outros santos católicos, todos comercializados com tabelas de preços estabelecidas. “Na Internet há um mercado de relíquias de vários santos, como o nosso Francisco, com tabela de preços. Algo inaceitável”, declarou Dom Sorrentino. A investigação aberta pelo Ministério Público de Perugia, liderado por Raffaele Cantone, busca não apenas interromper a venda específica das mechas de cabelo, mas potencialmente desmantelar uma rede maior de comércio ilegal de objetos religiosos. O caso levanta questões importantes sobre a proteção do patrimônio religioso e cultural na era digital, onde a facilidade de acesso a plataformas de comércio eletrônico pode facilitar práticas que violam tradições centenárias.
A canonização iminente de Carlo Acutis representa um momento histórico para a Igreja Católica, que reconhecerá o primeiro santo da geração Y e da era digital. Conhecido por seu trabalho de evangelização online e pela criação de um site que catalogava milagres eucarísticos, Acutis teve seu processo de canonização acelerado após o reconhecimento de dois milagres atribuídos à sua intercessão. O primeiro milagre reconhecido envolveu a cura de uma criança brasileira que tocou uma relíquia do jovem britânico em 12 de outubro de 2010, em Campo Grande. Já o segundo milagre foi a cura de uma jovem da Costa Rica após um acidente de bicicleta, ocorrido em 2022. Beatificado em 2020 pelo Vaticano, a cerimônia que elevaria Carlo Acutis à condição de santo não aconteceu na data prevista. O Vaticano decidiu suspender a canonização que aconteceria no fim do mês, devido ao luto pela morte do papa Francisco, que morreu no dia 21 de abril, aos 88 anos. Enquanto a Igreja se prepara para este momento histórico, as autoridades italianas continuam investigando o comércio ilegal das supostas relíquias, com possíveis desdobramentos legais para os envolvidos nas próximas semanas. A situação serve como um lembrete das tensões entre tradição religiosa e comércio na sociedade contemporânea, especialmente quando se trata de figuras religiosas que despertam grande devoção popular, como é o caso de Carlo Acutis, cuja história de fé e tecnologia ressoa fortemente com as novas gerações de católicos ao redor do mundo.
Processo de canonização segue enquanto autoridades investigam comércio ilegal
Apesar da controvérsia envolvendo a venda ilegal de relíquias, os preparativos para a cerimônia de canonização de Carlo Acutis seguem conforme planejado. A celebração, representará um marco importante para a Igreja Católica contemporânea, que busca estabelecer conexões mais fortes com as novas gerações de fiéis. Enquanto isso, o Ministério Público de Perugia continua suas investigações para identificar todos os responsáveis pelo comércio ilegal e determinar a autenticidade dos itens comercializados. Especialistas em direito canônico ressaltam que, independentemente da veracidade das relíquias, a comercialização desses itens constitui uma violação grave das normas católicas e possivelmente também da legislação civil italiana referente à proteção de sentimentos religiosos e patrimônio cultural. Para a diocese de Assis, o caso serve como oportunidade para educar os fiéis sobre o verdadeiro significado das relíquias na tradição católica e sobre a importância de respeitar as práticas estabelecidas pela Igreja ao longo dos séculos.