IA pode reverter estagnação no desenvolvimento humano global, afirma relatório da ONU

Índice de Desenvolvimento Humano atinge desaceleração histórica.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) divulgou na última terça-feira (6) um alarmante relatório que revela a estagnação do progresso humano global em níveis não vistos nos últimos 35 anos. O documento intitulado “Uma questão de escolha: pessoas e possibilidades na era da Inteligência Artificial” apresenta dados preocupantes sobre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mundial, que analisa indicadores de saúde, educação e renda em diferentes nações. De acordo com o levantamento, o desenvolvimento humano registrou em 2024 sua menor taxa de crescimento desde 1990, contradizendo expectativas de recuperação pós-pandemia. Achim Steiner, administrador do PNUD, alertou que, se este ritmo lento se tornar o padrão, as metas de desenvolvimento estabelecidas para 2030 poderão ser adiadas por décadas, resultando em um mundo menos seguro, mais dividido e mais vulnerável a choques econômicos e ecológicos. A boa notícia, segundo o relatório, é que a inteligência artificial surge como uma possível alavanca para retomar o progresso estagnado, desde que implementada com foco nas pessoas e não apenas em ganhos econômicos imediatos. O estudo também constatou um aumento preocupante da desigualdade entre países ricos e pobres pelo quarto ano consecutivo, revertendo uma tendência de redução que parecia consolidada nas últimas décadas.
Os resultados do IDH em 2024 foram descritos como alarmantes, com estagnação observada em todas as regiões do mundo. Excluindo-se os anos de crise aguda relacionados à pandemia de Covid-19 (2020-2021), o crescimento projetado para este ano é o mais fraco desde que o índice começou a ser medido. Diversos fatores contribuem para essa desaceleração sem precedentes, incluindo tensões comerciais internacionais, crises de dívida pública e o fenômeno da “industrialização sem empregos”, que tem comprometido especialmente os caminhos tradicionais de desenvolvimento em países com IDH baixo. O relatório elaborado pelo PNUD buscou compreender os efeitos disruptivos da transformação digital e da inteligência artificial em aspectos essenciais da evolução humana, incluindo saúde, educação, dinâmicas sociais, conexões interpessoais, mercado de trabalho e independência econômica. Os pesquisadores identificaram que, embora a tecnologia avance em ritmo acelerado, o desenvolvimento humano não consegue acompanhar, criando uma discrepância preocupante entre inovação tecnológica e avanço social. Esta disparidade coloca a sociedade diante de um dilema fundamental sobre como regular e incorporar essas novas ferramentas de maneira que beneficiem a humanidade como um todo, e não apenas grupos privilegiados que já possuem acesso a recursos tecnológicos avançados.
Apesar do cenário desafiador, o relatório apresenta uma visão esperançosa sobre o potencial da inteligência artificial como catalisadora de um novo ciclo de desenvolvimento humano. Os especialistas do PNUD apontam que a IA tem a capacidade de revolucionar positivamente áreas cruciais como saúde, educação e produtividade econômica, desde que seja implementada com foco nas pessoas e não apenas em ganhos de eficiência. No entanto, o estudo também alerta para o risco de que, sem regulamentação adequada, a tecnologia possa ampliar disparidades existentes, favorecendo aqueles que já possuem vantagens socioeconômicas e criando novas formas de marginalização para grupos vulneráveis. O documento ressalta a importância de decisões estratégicas sobre o desenvolvimento, aplicação e regulamentação da IA, enfatizando que as escolhas feitas hoje terão impacto determinante sobre como a tecnologia moldará o futuro da humanidade. Segundo o relatório, três áreas críticas devem ser priorizadas na implementação da inteligência artificial: garantia de acesso equitativo à tecnologia, desenvolvimento de competências digitais para todos os segmentos da população e criação de marcos regulatórios que protejam direitos fundamentais sem impedir a inovação. A análise também traz dados sobre a percepção pública da IA em diferentes contextos culturais e econômicos, mostrando que existe uma combinação de esperança e apreensão quanto aos impactos da tecnologia na vida cotidiana, no trabalho e nas relações sociais.
O futuro do desenvolvimento humano na era digital
O relatório do PNUD conclui que estamos em um momento decisivo para o futuro do desenvolvimento humano global. A estagnação do progresso, evidenciada pelos dados alarmantes do IDH, demanda novas abordagens que possam superar as limitações dos modelos tradicionais de desenvolvimento. A inteligência artificial representa tanto um desafio quanto uma oportunidade neste contexto, podendo tanto exacerbar desigualdades existentes quanto abrir novos caminhos para o avanço coletivo. A implementação responsável da IA, centrada no bem-estar humano conforme proposto pelo conceito de Sociedade 5.0 mencionado no estudo, pode transformar a tecnologia em aliada para desenvolver qualidade de vida, sustentabilidade e inclusão social. No entanto, este potencial só será concretizado mediante escolhas conscientes que priorizem o valor social do trabalho, a dignidade humana e a distribuição equitativa dos benefícios tecnológicos. Como destacou Achim Steiner, administrador do PNUD, o caminho para retomar o progresso humano passa necessariamente por decisões coletivas sobre como queremos que a tecnologia molde nosso futuro. A mensagem central do relatório é que a IA pode ajudar a recuperar o ritmo do desenvolvimento humano, mas apenas se for direcionada para servir às pessoas e não o contrário. Nesse sentido, o documento representa um chamado à ação para governos, empresas e sociedade civil trabalharem juntos na construção de um futuro onde a tecnologia amplie, em vez de restringir, as possibilidades humanas.