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Humanos não conseguirão fiscalizar a IA, será preciso outra IA para isso, diz ex-CEO do Google

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Eric Schmidt alerta sobre avanço rápido da inteligência artificial.

O ex-CEO do Google, Eric Schmidt, fez um alerta contundente sobre o futuro da inteligência artificial durante uma recente discussão no podcast NatSec Tech da Special Competitive Studies Project. De acordo com Schmidt, o mundo está a apenas três a cinco anos de desenvolver o que os especialistas chamam de “inteligência artificial geral” (AGI), que terá capacidade cognitiva equivalente ou superior aos humanos mais brilhantes em diversas áreas como matemática, física, artes e política. Este desenvolvimento acelerado ocorre por meio do processo de “melhoria recursiva autônoma”, no qual algoritmos de IA aprendem por conta própria e aumentam suas capacidades sem intervenção humana direta. Schmidt destacou que este processo já está em andamento, com equipes de pesquisa em empresas líderes do setor como OpenAI e Anthropic relatando que entre 10% e 20% do código de seus programas de pesquisa já está sendo escrito pela própria inteligência artificial, o que pode levar à concretização da AGI mais rapidamente do que muitos antecipam. Este cenário apresenta desafios significativos para indústrias criativas, incluindo a música e outras áreas artísticas, uma vez que sistemas de IA poderão competir diretamente com criadores humanos.

A preocupação de Schmidt vai além do impacto nas indústrias criativas, estendendo-se também à infraestrutura necessária para suportar o crescimento exponencial da IA. Em uma declaração viral recente, Schmidt soou o alarme sobre a crescente demanda energética dos centros de dados de inteligência artificial, que ameaça sobrecarregar a rede elétrica americana. Como presidente do think tank pró-IA Special Competitive Studies Project, ele enfatizou a urgência da situação ao afirmar: “Precisamos de energia em todas as formas… e precisamos dela rapidamente”. A comparação feita por Schmidt é alarmante: um único centro de dados planejado pode exigir 10 gigawatts de energia, o equivalente a dez usinas nucleares, enquanto a usina média dos EUA gera apenas um gigawatt. Ele estima que até 2030, os centros de dados poderão necessitar de até 96 gigawatts adicionais de energia, ameaçando consumir quase toda a geração energética nacional. Este cenário se torna ainda mais crítico quando consideramos a infraestrutura elétrica americana que, segundo Brad Smith da Microsoft, é “antiga—com 50 anos de idade” e mal equipada para lidar com a demanda insaciável de energia da IA. Schmidt caracteriza esta situação como “uma escala de indústria que nunca vi na minha vida”, indicando a magnitude sem precedentes do desafio energético que acompanha o desenvolvimento acelerado da inteligência artificial.

Schmidt tem adotado posturas multifacetadas em relação à IA ao longo dos anos, refletindo as complexas implicações desta tecnologia. Recentemente, em março de 2025, ele co-autorizou um artigo alertando sobre os perigos de um “Projeto Manhattan” para inteligência artificial nos Estados Unidos, fazendo uma comparação direta com a corrida armamentista nuclear. No documento, Schmidt e seus co-autores, Dan Hendrycks do Center for AI Safety e Alexandr Wang, CEO da Scale AI, defendem uma estratégia mais cautelosa para o desenvolvimento da IA, argumentando contra uma busca agressiva por inteligência artificial avançada que poderia provocar retaliação internacional. Eles notam especificamente que a China “não permaneceria passiva” enquanto os EUA buscassem realizar a AGI, temendo uma “perda de controle”. Esta posição contrasta com o entusiasmo de alguns legisladores bipartidários que, em novembro de 2024, defenderam uma iniciativa “estilo Projeto Manhattan” para canalizar recursos para projetos que garantissem a supremacia americana na corrida pela AGI. As preocupações de Schmidt sobre privacidade também evoluíram ao longo do tempo. Embora tenha anteriormente defendido maior transparência e o fim do anonimato na internet, em 2013 ele expressou preocupação de que o compartilhamento excessivo de informações pessoais poderia ter efeitos negativos, especialmente para adolescentes, declarando que “nunca tivemos uma geração com um registro fotográfico e digital completo do que fizeram”.

O avanço acelerado da inteligência artificial levanta questões cruciais sobre governança, ética e regulamentação que ainda não foram adequadamente abordadas pelas propostas regulatórias atuais. Como Schmidt sugere, o desenvolvimento da AGI nos próximos três a cinco anos representa um ponto de inflexão tecnológico que exigirá novas abordagens para supervisão e controle. Paradoxalmente, pode ser necessário desenvolver sistemas de IA específicos para monitorar e regular outras inteligências artificiais, criando um cenário onde apenas a IA será capaz de fiscalizar efetivamente outra IA. Esta situação é particularmente preocupante no contexto de direitos autorais e trabalhistas, como exemplificado pelas recentes greves em Hollywood, onde atores e roteiristas protestaram contra o uso não autorizado de suas interpretações e textos originais para gerar novas criações digitais através da IA generativa. As implicações se estendem também a áreas sensíveis como o sistema judiciário, onde o uso de IA requer diretrizes éticas rigorosas que abranjam todo o ciclo de vida dessas ferramentas, desde o design até a avaliação de impacto. O Brasil já iniciou esforços nesse sentido através de atos normativos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Olhando para o futuro, será fundamental desenvolver estruturas de governança internacional que possam acompanhar o ritmo acelerado do desenvolvimento da IA, considerando tanto os benefícios potenciais quanto os riscos existenciais que a AGI representa para a humanidade. A visão de Schmidt sobre o futuro próximo da IA serve como um alerta importante para sociedades e governos se prepararem adequadamente para uma era em que inteligências não-humanas poderão igualar ou superar capacidades humanas em praticamente todos os domínios intelectuais e criativos.

Desafios regulatórios exigem novas abordagens para fiscalização da IA

A expectativa de que a inteligência artificial geral chegue nos próximos cinco anos, conforme previsto por Eric Schmidt, representa um ponto de inflexão para reguladores globais. As atuais propostas regulatórias nascem já defasadas diante da velocidade do avanço tecnológico e da complexidade crescente dos sistemas de IA. A demanda energética sem precedentes, os desafios de propriedade intelectual e as implicações éticas do uso da IA em setores sensíveis como o judiciário exigirão abordagens inovadoras. Para Schmidt, a solução poderá estar no desenvolvimento de sistemas de IA específicos para monitorar outras inteligências artificiais, criando um ecossistema de supervisão tecnológica que os humanos sozinhos não conseguirão realizar. Este cenário de “IA fiscalizando IA” levanta questões fundamentais sobre governança tecnológica e soberania digital que precisarão ser enfrentadas com urgência por governos, empresas e sociedade civil nos próximos anos.