Haddad se reúne com secretário do Tesouro americano para diálogo sobre tarifas

Ministro da Fazenda recebe sinalizações positivas do governo Trump.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, revelou segunda-feira (05/05/2025) que realizou sua primeira reunião com Scott Bessent, secretário do Tesouro da administração de Donald Trump. Durante pronunciamento, Haddad informou que o representante americano demonstrou interesse em estabelecer um canal de comunicação com o Brasil para discutir temas econômicos e comerciais, incluindo possíveis tarifas que possam ser aplicadas a produtos brasileiros. O encontro ocorreu em Los Angeles, para onde o ministro viajou nesta semana para buscar investimentos em data centers (centro de dados) no Brasil. É a primeira conversa oficial entre representantes das áreas econômicas dos dois países desde que Trump assumiu seu novo mandato, substituindo a gestão anterior em que Janet Yellen ocupava o cargo de secretária do Tesouro americano e mantinha diálogo frequente com autoridades brasileiras sobre temas como sustentabilidade fiscal, cooperação econômica e relações comerciais bilaterais.
Haddad confirma possível encontro com secretário do Tesouro americano para diálogo sobre tarifas
Inicialmente, a reunião não estava prevista na agenda oficial de Haddad porque o ministro apenas passaria pela Califórnia, antes de ir para o México, na noite de terça-feira (6). No entanto, na última quarta-feira (30), o ministro da Fazenda anunciou a possibilidade de uma reunião com o secretário do Tesouro norte-americano. Embora o ministro brasileiro tenha mencionado que o tema das tarifas seria abordado durante o encontro, ele ponderou que esta pauta específica é conduzida principalmente pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). “Nós temos muitos assuntos a tratar com o secretário do Tesouro, que já eram da agenda da Fazenda quando Janet Yellen era secretária, e desde a posse do Trump ainda não houve um primeiro contato”, explicou Haddad, destacando a importância de reestabelecer os canais de comunicação entre as equipes econômicas dos dois países. A gestão anterior do Tesouro americano, sob comando de Yellen, havia mantido posições divergentes em relação a tarifas comerciais, especialmente em discussões internas do governo Biden sobre medidas protecionistas contra a China, o que gerava expectativas sobre como a nova administração lidaria com parceiros comerciais tradicionais como o Brasil. A postura de Bessent, que ainda não havia se manifestado publicamente sobre o Brasil desde sua nomeação, pareceu indicar uma abertura ao diálogo que não estava garantida no início do novo mandato de Trump.
As conversas entre Brasil e Estados Unidos ocorrem em um cenário econômico complexo para ambos os países. Os EUA enfrentam desafios fiscais significativos, com o restabelecimento do teto da dívida americana em janeiro de 2025, conforme havia sido alertado pela então secretária Janet Yellen ainda em dezembro de 2024. A política fiscal americana tem sido tema de debates intensos, com Yellen defendendo, antes de deixar o cargo, a urgência de garantir uma trajetória fiscal sustentável para o país, especialmente considerando os juros elevados que aumentaram o custo do serviço da dívida americana. Do lado brasileiro, o Ministério da Fazenda busca não apenas manter boas relações comerciais com os Estados Unidos, um dos principais parceiros do Brasil, mas também discutir temas de interesse comum como sustentabilidade fiscal, cooperação econômica e estabilidade financeira global. A possível implementação de tarifas pelos Estados Unidos poderia impactar significativamente as exportações brasileiras, justamente em um momento em que o país busca ampliar sua presença no mercado internacional. O encontro entre Haddad e Bessent, portanto, representa não apenas uma oportunidade de apresentar a posição brasileira sobre temas comerciais, mas também de estabelecer um canal de diálogo permanente que possa prevenir medidas unilaterais que afetem negativamente a economia brasileira.
As perspectivas para o diálogo entre Brasil e Estados Unidos permanecem cautelosamente otimistas, com Haddad sinalizando que a abertura demonstrada por Bessent representa um passo importante para o estabelecimento de relações construtivas entre as equipes econômicas dos dois países. Analistas econômicos observam que, apesar da retórica protecionista que marcou a campanha de Trump, as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos têm potencial para se manter estáveis, desde que haja um canal efetivo de comunicação entre os responsáveis pelas políticas econômicas. O timing do possível encontro foi considerado estratégico, ocorrendo antes que qualquer medida concreta de imposição de tarifas seja anunciada, permitindo ao Brasil apresentar seus argumentos e buscar exceções ou tratamento diferenciado para produtos brasileiros. A expectativa é que este primeiro contato possa resultar em uma agenda bilateral mais ampla, que aborde não apenas questões comerciais imediatas, mas também temas de cooperação de longo prazo em áreas como infraestrutura, energia e finanças globais. Para o Ministério da Fazenda brasileiro, estabelecer uma relação produtiva com o novo secretário do Tesouro americano é considerado prioritário, especialmente diante dos desafios econômicos globais que ambos os países enfrentam, incluindo pressões inflacionárias, necessidade de ajustes fiscais e adaptação às transformações tecnológicas e ambientais que impactam as economias mundiais.
Agenda econômica bilateral ganha novos contornos
A continuidade do diálogo entre as autoridades econômicas do Brasil e dos Estados Unidos representa um ponto crucial para a estabilidade das relações comerciais entre os dois países. Com a mudança de governo nos Estados Unidos e a indicação de Scott Bessent para a Secretaria do Tesouro, observadores econômicos aguardavam sinais sobre como seria conduzida a política econômica internacional da nova administração Trump. A abertura para um encontro com o ministro brasileiro Fernando Haddad sugere que, apesar das diferenças ideológicas, há espaço para um diálogo pragmático focado em interesses econômicos mútuos. As próximas semanas serão determinantes para definir não apenas a data deste primeiro encontro, mas também a amplitude dos temas a serem discutidos e os possíveis resultados práticos que poderão emergir dessa reaproximação entre as equipes econômicas das duas maiores economias das Américas.