Gordura no fígado preocupa 62% dos brasileiros mas maioria desconhece diagnóstico

Gordura no fígado alarma 62% dos brasileiros, mas a maioria desconhece o diagnóstico.
Estudo revela alarmante desconhecimento sobre esteatose hepática.
Um levantamento recente realizado pelo Instituto Datafolha em parceria com a farmacêutica Novo Nordisk revelou que 62% dos brasileiros ficariam muito ou extremamente preocupados com um diagnóstico de esteatose hepática, popularmente conhecida como “gordura no fígado”. A pesquisa, conduzida entre 11 e 13 de fevereiro de 2025 com 2.013 brasileiros com idade média de 43 anos, trouxe à tona um cenário preocupante: apesar do temor generalizado sobre a condição, existe uma lacuna significativa no conhecimento da população brasileira sobre esta doença silenciosa. O estudo demonstrou que 61% dos entrevistados nunca realizaram exames para detectar a condição ou sequer sabem quais procedimentos são necessários para o diagnóstico. A esteatose hepática atinge aproximadamente 30% da população mundial, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), e pode evoluir para condições mais graves como cirrose e câncer de fígado, além de aumentar o risco de doenças cardiovasculares. Em casos extremos, a única solução pode ser o transplante hepático, procedimento que foi realizado mais de 2.300 vezes no Brasil apenas em 2023.
A falta de familiaridade com a condição fica evidente quando apenas 19% dos entrevistados reconhecem o nome técnico “esteatose hepática”, enquanto aproximadamente 44% dos brasileiros não conhecem nenhum termo médico para se referir ao acúmulo de gordura no órgão. O desconhecimento se aprofunda quando se trata de termos mais específicos relacionados à condição: apenas 11% dos participantes já ouviram falar de “esteato-hepatite”, somente 8% sabem o que é “fibrose”, e menos de 2% estão familiarizados com siglas como MASH ou NASH, que se referem a tipos mais graves da doença. A hepatologista Claudia Oliveira, professora da Faculdade de Medicina da USP, considera alarmante que 41% dos entrevistados desconheçam termos básicos relacionados à saúde hepática, incluindo “cirrose”. Segundo a especialista, esta já é a doença mais comum do fígado em escala mundial, podendo não apenas evoluir para cirrose e câncer hepático, mas também agravar condições metabólicas preexistentes, como problemas renais e cardiovasculares. A gordura no fígado é caracterizada pela infiltração de células gordurosas nas células hepáticas, sendo considerada patológica quando atinge 5% ou mais do órgão, conferindo-lhe um aspecto amarelado e aumento de tamanho.
O estudo também evidenciou um preocupante desconhecimento sobre os métodos de diagnóstico da doença. Enquanto 52% dos entrevistados mencionaram corretamente os exames de sangue como uma forma de identificar a esteatose hepática, apenas 28% citaram exames de imagem, que são fundamentais para a detecção precisa da condição. Aproximadamente 60% dos brasileiros não sabem qual exame é capaz de diagnosticar a gordura no fígado, o que revela não apenas uma falha na educação em saúde da população, mas também sugere possíveis lacunas na abordagem médica. Segundo a Dra. Claudia Oliveira, “a população desconhece o tema e, às vezes, os próprios médicos não valorizam a importância de rastrear a esteatose e encaminhar o paciente a um especialista quando necessário”. Esta realidade é particularmente alarmante considerando que a doença hepática gordurosa está associada a um aumento significativo do risco de mortalidade. Segundo estudo publicado na revista científica Journal of Hepatology em março de 2025, a taxa de mortalidade geral para pessoas com gordura acumulada no fígado é quase duas vezes maior que a população em geral. O risco é especialmente elevado para morte por doença hepática (27 vezes maior) e câncer de fígado (35 vezes maior). No entanto, as causas mais comuns de morte entre esses pacientes são doenças cardiovasculares e cânceres não hepáticos, com taxas de mortalidade 54% e 47% mais altas, respectivamente.
A discrepância entre a preocupação manifestada pelos brasileiros e sua falta de conhecimento sobre a esteatose hepática revela um desafio significativo para a saúde pública no país. Como observou Priscila Mattar, endocrinologista e vice-presidente da área médica da Novo Nordisk no Brasil, “a discrepância nos dados revela uma lacuna alarmante entre o conhecimento sobre os riscos e a falta de ação preventiva”. A especialista enfatiza que a pesquisa evidencia os desafios enfrentados pela população brasileira em relação às doenças crônicas, reforçando a importância de ampliar o conhecimento e conscientizar que qualquer nível de gordura no fígado já é um sinal de alerta para a saúde. Os profissionais de saúde destacam a necessidade de uma abordagem holística no tratamento de pacientes com doença hepática gordurosa. Segundo Hannes Hagström, professor adjunto do Departamento de Medicina do Huddinge, Instituto Karolinska e médico sênior do Hospital Universitário Karolinska, “é importante que não nos concentremos apenas no fígado ao tratar pacientes com doença hepática gordurosa. Uma abordagem holística e intervenção precoce envolvendo diferentes especialidades médicas podem ser cruciais para melhorar o prognóstico desses pacientes”. Felizmente, a esteatose hepática é uma condição reversível mediante mudanças no estilo de vida, incluindo melhorias na alimentação e aumento da atividade física, sempre com o acompanhamento médico adequado. Especialistas recomendam que pessoas com fatores de risco para a doença, como obesidade, diabetes tipo 2 e síndrome metabólica, realizem check-ups regulares para monitorar a saúde hepática, permitindo intervenções precoces quando necessário.
Campanhas educativas e diagnóstico precoce são essenciais
Diante do cenário revelado pela pesquisa Datafolha, especialistas defendem a urgência de campanhas educativas mais abrangentes sobre saúde hepática no Brasil. O Ministério da Saúde alerta que o fígado é responsável por mais de 500 funções fundamentais no organismo humano, e a esteatose hepática representa uma ameaça silenciosa que pode comprometer severamente a qualidade de vida e a longevidade da população. A ampliação do acesso a exames de diagnóstico, a capacitação continuada dos profissionais de saúde para identificação precoce da condição e a implementação de programas de prevenção focados em hábitos saudáveis são consideradas medidas essenciais para enfrentar este desafio de saúde pública. A conscientização sobre os fatores de risco e a importância do diagnóstico precoce pode significar a diferença entre um tratamento simples baseado em mudanças no estilo de vida e a necessidade de intervenções mais drásticas, como o transplante hepático.