Freira brasileira Inah Canabarro morre aos 116 anos e deixa legado de longevidade e fé

Uma vida centenária dedicada à religião e ao ensino.
A freira brasileira Inah Canabarro Lucas, reconhecida oficialmente como a pessoa mais velha do mundo, faleceu na quarta-feira, 30 de abril de 2025, em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, aos 116 anos e 326 dias de idade. Nascida em 8 de junho de 1908 no município de São Francisco de Assis, no interior gaúcho, Inah estava prestes a completar 117 anos no próximo dia 27 de maio. A Companhia de Santa Teresa de Jesus, congregação religiosa à qual pertencia, informou que ela morreu em casa, de causas naturais. O velório foi realizado na quinta-feira em Porto Alegre, reunindo familiares, amigos e membros da comunidade católica que acompanharam sua trajetória centenária. Sua morte representa o fim de uma era para os registros mundiais de longevidade, já que Inah havia assumido o posto de pessoa mais idosa do planeta em janeiro deste ano, após o falecimento da japonesa Tomiko Itooka, que também faleceu com 116 anos. Com sua partida, o título de pessoa mais velha do mundo passa agora para a britânica Ethel Caterham, de 115 anos e 252 dias, residente em Surrey, Inglaterra, segundo dados do Grupo de Pesquisa Gerontológica (GRG) dos Estados Unidos e da base de dados LongeviQuest, organizações especializadas no rastreamento e verificação de supercentenários em todo o mundo.
A trajetória de Inah Canabarro foi marcada por uma dedicação profunda à vida religiosa e ao ensino. Iniciou sua jornada espiritual aos 16 anos, quando ingressou no internato Santa Teresa de Jesus, em Santana do Livramento, também no Rio Grande do Sul. Foi batizada na mesma cidade em 21 de abril de 1926, aos 17 anos, consolidando sua conexão com a fé católica que a acompanharia por mais de um século. Sua formação religiosa continuou no exterior, quando se mudou para Montevidéu, no Uruguai, onde foi confirmada na Igreja Católica em 1929, aos 21 anos de idade. O compromisso com a educação marcou sua vida adulta, quando em 1930 retornou ao Brasil para lecionar português e matemática em uma escola na Tijuca, bairro tradicional do Rio de Janeiro. O marco definitivo de sua consagração religiosa ocorreu em 27 de julho de 1934, quando, aos 26 anos, fez seus votos perpétuos e tornou-se oficialmente freira da Companhia de Santa Teresa de Jesus. Ao longo de décadas, Inah dedicou-se ao magistério e às atividades religiosas, construindo um legado de serviço e devoção. Segundo a LongeviQuest, organização especializada na verificação e documentação de pessoas extremamente longevas, Inah Canabarro foi classificada como a 20ª pessoa mais velha já documentada a ter vivido na história da humanidade, em uma lista liderada pela francesa Jeanne Calment, que detém o recorde mundial de longevidade, tendo falecido em 1997 aos 122 anos. Inah também conquistou o posto de segunda freira mais velha alguma vez documentada, ficando atrás apenas de Lucile Randon, que foi a pessoa mais velha do mundo até sua morte, em 2023, aos 118 anos.
Os últimos anos da vida de Inah Canabarro foram marcados por desafios físicos naturais da idade extremamente avançada, mas também por reconhecimentos significativos e pela preservação de alguns hábitos e paixões pessoais. Aos 110 anos, a freira começou a apresentar dificuldades de mobilidade, passando a utilizar um andador para se locomover. Nesse mesmo ano, em 2018, recebeu uma homenagem especial do Papa Francisco, que lhe enviou uma bênção apostólica acompanhada de um certificado, documento que passou a ser exibido com orgulho no espaço de recordações da comunidade onde residia. Durante a pandemia de COVID-19, Inah demonstrou sua extraordinária resistência: aos 112 anos, em janeiro de 2021, recebeu a primeira dose da vacina contra o coronavírus, tornando-se uma das pessoas mais idosas do mundo a ser imunizada. Sua força vital foi novamente colocada à prova em outubro de 2022, quando contraiu COVID-19 enquanto estava hospitalizada, mas conseguiu se recuperar completamente da doença em novembro do mesmo ano, tornando-se um dos casos mais notáveis de sobrevivência à enfermidade em idade tão avançada. Quando questionada sobre o segredo de sua longevidade excepcional, Inah não hesitava em atribuí-la à sua fé inabalável: “Deus é o segredo da vida. Ele é o segredo de tudo”, costumava afirmar. Além de sua devoção religiosa, a freira mantinha uma rotina disciplinada, acordando cedo, realizando suas orações diárias e fazendo refeições sempre nos mesmos horários. Uma curiosidade sobre sua vida pessoal que encantava a muitos era sua paixão pelo futebol: torcedora dedicada do Sport Club Internacional de Porto Alegre, Inah explicava sua escolha pelo time dizendo que ele representava verdadeiramente o povo: “Seja rico ou pobre, não importa, é para o povo”, afirmava com convicção.
O Brasil continua no mapa mundial da longevidade
Com o falecimento de Inah Canabarro, o Brasil perde a representante mais idosa do país, mas continua presente no mapa mundial da longevidade extrema. A mineira Izabel Rosa Pereira, de 114 anos, passa a ser agora a pessoa mais velha do Brasil, assumindo o posto anteriormente ocupado pela freira gaúcha. Além disso, o país mantém outro título significativo no âmbito da longevidade global: o cearense João Marinho Neto, de 112 anos, foi confirmado pelo Guinness Book of Records como o homem mais velho do mundo, fato que evidencia a presença brasileira nos registros internacionais de supercentenários. A morte de Inah ocorre em um momento particular para a Igreja Católica, apenas uma semana após o falecimento do Papa Francisco, aos 88 anos, pontífice que havia lhe concedido uma bênção especial em seu 110º aniversário. A história de Inah Canabarro representa não apenas um caso extraordinário de longevidade humana, mas também um exemplo de vida dedicada à fé, ao ensino e à disciplina. Sua trajetória centenária atravessou praticamente todo o século XX e adentrou o XXI, testemunhando transformações históricas, tecnológicas e sociais profundas. O Sport Club Internacional, time do coração da freira, prestou-lhe homenagem em suas redes sociais, celebrando o “legado de espiritualidade e compaixão” deixado por ela. Para a comunidade científica que estuda a longevidade humana, casos como o de Inah são particularmente valiosos para a compreensão dos fatores que contribuem para uma vida excepcionalmente longa e saudável, incluindo aspectos genéticos, ambientais, psicológicos e sociais. O Brasil se despede assim de uma de suas figuras mais extraordinárias, cuja vida atravessou mais de um século de história e cujo legado permanecerá como inspiração para gerações futuras.