Exército remove homenagens ao golpe militar de quartel em Juiz de Fora

Decisão judicial determina retirada de referências à data de 31 de março de 1964.
O Exército Brasileiro removeu as homenagens públicas ao golpe militar de 1964 que estavam presentes no quartel da 4ª Brigada de Infantaria Leve de Montanha, localizado em Juiz de Fora, Minas Gerais. A ação ocorreu em cumprimento a uma decisão judicial que determinou a retirada de todas as referências à data de 31 de março de 1964, considerada o marco inicial do regime militar que governou o país por 21 anos. A unidade militar, até então conhecida como “Brigada 31 de Março”, era um dos poucos locais que ainda mantinha homenagens explícitas ao golpe. A medida inclui a remoção de placas, monumentos e alterações em documentos oficiais que faziam menção à data ou utilizavam termos como “revolução democrática” para se referir aos eventos daquele período.
O processo de remoção das homenagens teve início após uma ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal (MPF), que argumentou que a manutenção de tais referências era incompatível com o Estado Democrático de Direito estabelecido pela Constituição de 1988. A decisão judicial determinou que a União fosse condenada a modificar o nome da brigada, revogar atos que dispunham sobre a homenagem e suprimir a denominação de sites e documentos oficiais. Além disso, foi ordenada a remoção do monumento onde estava inscrita a data das dependências do Exército. A ação do MPF foi motivada pela publicação de notícias que revelaram a existência de um letreiro em homenagem ao 31 de março na antiga sede da 4ª Região Militar, local de onde partiram as tropas que iniciaram o movimento que culminou no golpe militar.
A retirada das homenagens representa um marco significativo no processo de revisão histórica e reconhecimento dos abusos cometidos durante o regime militar. Os procuradores da República Francisco de Assis Floriano e Thiago Cunha de Almeida, autores da ação, argumentaram que manter a denominação “Brigada 31 de Março” em reverência ao golpe militar era evidentemente incompatível com a Constituição e com o projeto de um Estado Democrático de Direito. Eles enfatizaram que a sociedade brasileira tem o direito de conhecer a verdade e construir sua memória, o que inclui o esclarecimento sobre o caráter inconstitucional e criminoso do golpe de Estado ocorrido em 1964. A decisão judicial também levou em consideração uma norma do próprio Ministério da Defesa que regula o procedimento para denominação de locais e instalações sob sua administração, a qual proíbe a aprovação de nomes relacionados a ações, locais, datas e tradições controversas.
A remoção das homenagens ao golpe militar do quartel em Juiz de Fora sinaliza uma mudança importante na forma como as instituições militares lidam com o legado do regime autoritário. Esta ação pode servir de precedente para que outras unidades militares que ainda mantenham referências semelhantes sejam instadas a removê-las. O cumprimento da decisão judicial pelo Exército demonstra um reconhecimento institucional da necessidade de adequação à ordem democrática vigente e respeito à memória das vítimas do regime militar. Espera-se que este evento contribua para o processo de reconciliação nacional e para uma compreensão mais crítica e abrangente da história recente do Brasil, promovendo um debate saudável sobre o papel das Forças Armadas em uma sociedade democrática e reforçando o compromisso com os valores constitucionais e os direitos humanos.
Impacto da decisão na memória histórica e institucional
A retirada das homenagens ao golpe militar de 1964 do quartel em Juiz de Fora representa um passo significativo no processo de revisão histórica e consolidação democrática do Brasil. Esta ação não apenas cumpre uma determinação judicial, mas também simboliza uma mudança na postura institucional das Forças Armadas em relação a um período controverso da história nacional. A medida abre caminho para uma reflexão mais profunda sobre como as instituições militares e a sociedade como um todo lidam com a memória do regime autoritário, promovendo um debate necessário sobre a importância da preservação da verdade histórica e o respeito aos princípios democráticos consagrados na Constituição de 1988.