Estudo brasileiro revela avanços para vacinas mais eficazes contra a COVID-19

Pesquisa brasileira aponta progressos para vacinas mais eficazes contra a COVID-19.
Pesquisadores apontam novas estratégias para imunizantes de última geração.
Um importante estudo científico publicado recentemente na revista Pathogens está trazendo novas perspectivas para o desenvolvimento de vacinas ainda mais eficazes contra a COVID-19. A pesquisa, conduzida por cientistas brasileiros, faz um balanço completo dos avanços na vacinação contra o coronavírus e apresenta estratégias inovadoras que podem revolucionar a próxima geração de imunizantes. Entre as descobertas mais significativas está a utilização da proteína Nucleocapsídeo, que se mostrou mais estável e menos suscetível a mutações do que a proteína Spike, tradicionalmente utilizada nas formulações atuais. Esta característica pode conferir uma proteção mais duradoura contra o SARS-CoV-2 e reduzir consideravelmente a necessidade de atualizações frequentes das vacinas, um problema que tem desafiado cientistas desde o surgimento das diversas variantes do vírus. Os experimentos realizados indicam que a vacina BCG recombinante não apenas induz a produção de anticorpos neutralizantes, mas também ativa uma resposta imune celular mais ampla, elemento fundamental para a eliminação efetiva do vírus no organismo humano. A pesquisa atualmente encontra-se na fase de otimização e ajustes técnicos, com testes sendo conduzidos em laboratórios de biossegurança nível três no Instituto de Patologia de São Paulo.
O cenário atual de desenvolvimento de vacinas contra a COVID-19 no Brasil mostra um avanço significativo em múltiplas frentes tecnológicas. Paralelamente ao estudo sobre a proteína Nucleocapsídeo, outras iniciativas nacionais estão progredindo rapidamente. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) acaba de anunciar resultados promissores de sua vacina com tecnologia de RNA mensageiro, que apresentou excelente eficácia nos testes em animais. Segundo a coordenadora de Implantação do Hub Regional de Desenvolvimento e Produção de Produtos RNA do Instituto Bio-Manguinhos, Patrícia Neves, os resultados foram semelhantes aos demonstrados pelas vacinas de mRNA já disponíveis no mercado, como as da Pfizer e da Moderna. Os testes laboratoriais de segurança estão em andamento e devem ser concluídos em julho de 2025, representando um passo importante para a autonomia brasileira nesta tecnologia de ponta. Outro marco histórico para a ciência brasileira é o desenvolvimento da vacina SpiN-TEC, a primeira contra a COVID-19 desenvolvida com tecnologia e insumos totalmente nacionais, que recentemente avançou para a fase 3 dos testes clínicos – a última etapa antes da submissão para aprovação final pela Anvisa. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) investiu R$ 140 milhões no desenvolvimento desta vacina, por meio da RedeVírus, apoiando todas as etapas de testes, desde os ensaios pré-clínicos até as fases clínicas. A nova fase de testes será coordenada pelo CT-Vacinas e pelo Centro de Pesquisas Clínicas do Hospital das Clínicas da UFMG, com a participação de cerca de 5.300 voluntários de todas as regiões do Brasil.
O estudo publicado na Pathogens também destaca que vacinas de mucosas administradas por via intranasal representam uma alternativa extremamente promissora para futuras formulações contra a COVID-19. Esta abordagem inovadora estimula a resposta imunológica diretamente nas vias respiratórias, que representam a principal porta de entrada para o SARS-CoV-2, podendo não apenas proteger contra a doença, mas também reduzir significativamente a transmissão do vírus e conferir uma imunidade mais eficiente contra novas variantes. “A inclusão da proteína Nucleocapsídeo na formulação é um dos diferenciais dessa abordagem, pois a N é mais conservada entre variantes, garantindo maior estabilidade da resposta imunológica e reduzindo a necessidade de reformulações constantes”, destacou o professor responsável pela pesquisa. Em paralelo a esses avanços nacionais, o cenário internacional também apresenta inovações significativas, como a recente vacina multicomponente da Moderna, batizada de mRNA-1083, que combina proteção contra a COVID-19 e a gripe em uma única aplicação. De acordo com dados de um ensaio clínico de fase 3 publicados na revista JAMA, esta vacina demonstrou ser superior às vacinas aplicadas separadamente, com níveis de anticorpos entre 20% e 40% maiores entre os que tomaram a vacina combinada, em comparação aos que receberam imunizantes separados. Esta abordagem representa um avanço importante na simplificação das campanhas de vacinação e pode aumentar significativamente a adesão da população, especialmente entre pessoas com 50 anos ou mais, que são mais suscetíveis a complicações de ambas as doenças.
Futuro da imunização contra COVID-19 no Brasil
Os avanços científicos brasileiros no desenvolvimento de vacinas contra a COVID-19 representam não apenas uma conquista para a saúde pública nacional, mas também um importante passo para a soberania tecnológica do país neste setor estratégico. A próxima etapa prevista para a pesquisa com a proteína Nucleocapsídeo inclui estudos mais avançados para avaliar a eficácia da vacina contra as variantes mais atuais do SARS-CoV-2, um passo crucial antes dos testes em humanos. Se os resultados continuarem promissores, essa abordagem pode se tornar uma alternativa importante para as futuras campanhas de vacinação, especialmente considerando a menor necessidade de atualizações frequentes. Enquanto isso, a vacina SpiN-TEC, desenvolvida pela UFMG em parceria com a Fiocruz Minas, deve iniciar sua fase 3 de testes no início de 2026, com voluntários de todas as regiões do país. Esta fase é crucial para confirmar a eficácia em uma população diversificada, em condições reais, considerando diferentes faixas etárias, etnias e condições de saúde. Se aprovada, a vacina poderá ser submetida à Anvisa para registro e disponibilização à população brasileira, marcando um feito histórico para a ciência nacional. Já a vacina de RNA mensageiro da Fiocruz representa outro caminho promissor, com a vantagem de utilizar uma tecnologia que já provou sua eficácia durante a pandemia e a possibilidade de adaptação rápida para novas variantes. Com a conclusão dos testes de segurança prevista para julho de 2025, o próximo passo será a solicitação à Anvisa para iniciar os testes em humanos, estabelecendo o Brasil como o primeiro país da América Latina a dominar completamente esta tecnologia avançada para a produção de vacinas.