Desemprego entre jovens da Geração Z diminui mas ainda preocupa especialistas

Estudo mostra redução no desemprego juvenil mas aponta desafios persistentes.
A quantidade de jovens e adolescentes brasileiros entre 14 e 24 anos que não estavam inseridos no mercado de trabalho apresentou uma significativa redução, caindo de 25,2% para 14,3% entre o quarto trimestre de 2019 e o último trimestre de 2024, de acordo com o levantamento “Empregabilidade Jovem Brasil”, realizado pelo Ministério do Trabalho em parceria com o CIEE. Esta diminuição representa uma queda de quase 2,5 milhões de jovens fora do mercado de trabalho, conforme apresentado nesta terça-feira (29) em evento online. Apesar desta melhora significativa, especialistas ainda apontam que o desemprego entre pessoas de 18 até 29 anos mantém uma taxa maior que o dobro do que a faixa dos 30 a 59 anos. Enquanto os adultos fecharam o ano de 2024 com uma taxa de 4,5%, os mais jovens encerraram o mesmo período em 10,1%, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas. O cenário atual revela que, mesmo com os avanços, a chamada Geração Z ainda enfrenta obstáculos consideráveis para sua plena inserção no mercado de trabalho, incluindo questões como informalidade elevada, renda média estagnada e dificuldades específicas enfrentadas por mulheres jovens com filhos pequenos, que representam a maior parte do grupo que não estuda nem trabalha.
A situação do desemprego juvenil no Brasil segue um padrão preocupante, apesar das melhorias recentes. De acordo com dados do IBGE, 21,3% dos jovens brasileiros entre 15 e 29 anos estão na categoria apelidada de “nem-nem”, ou seja, nem estudam e nem trabalham, o que representa aproximadamente 10,3 milhões de jovens da Geração Z desempregados no Brasil. Esta estatística coloca o país como o segundo com maior número de pessoas nessa situação, atrás apenas da África do Sul. Ao analisar regionalmente, o estudo do Ministério do Trabalho aponta que Sergipe foi o estado com a maior queda no número de jovens fora do mercado de trabalho, onde a quantidade passou de 26,5% para 14%. Entre as regiões, a Sul registrou a maior redução do desemprego juvenil, com queda de 9,3 pontos percentuais, seguida pelo Centro-Oeste, com redução de 11 pontos percentuais. Em contrapartida, as regiões Norte e Nordeste foram as que tiveram a menor inserção de jovens no mercado. Outro dado relevante é que atualmente 7,7 milhões de jovens de até 24 anos estão empregados com carteira assinada, sendo as ocupações mais comuns entre eles as de auxiliar de escritório, vendedor no comércio varejista e assistente administrativo, com valor médio dos salários de pouco mais de 67% dos contratados sendo de até R$1.854, valor que está abaixo da média nacional de R$ 3,63 mil, evidenciando a disparidade salarial que afeta esta geração.
Especialistas apontam que o fenômeno do desemprego juvenil não está ocorrendo exclusivamente por características comportamentais desta geração, mas por falhas estruturais no sistema educacional e no mercado de trabalho. Segundo o jornalista e autor Peter Hitchens, “em muitos casos, os jovens foram enviados para universidades por diplomas inúteis que não produziram nada para eles”, sugerindo que diplomas mais direcionados para áreas específicas tendem a garantir que os estudantes consigam empregos com mais facilidade. Esta análise é corroborada pela subsecretária de Estatísticas e Estudos do Ministério do Trabalho, Paula Montagner, que afirmou que, apesar da diminuição do desemprego entre os jovens, ainda existe a necessidade de maior apoio e implementação de melhorias por parte das empresas. A pesquisa revela que 18% dos jovens de 18 a 24 anos pede desligamento por problemas com a chefia e a falta de benefícios monetários, destacando que “a valorização do trabalho é algo que todo mundo gostaria de ter”. Além disso, o estudo da Deloitte Global 2023 Gen Z e Millennial mostrou que ambos os grupos têm grandes expectativas em relação ao trabalho, mas que nem sempre são atendidas. Menos da metade dos Zs (48%) e dos millennials (44%) acreditam que os negócios têm um impacto social positivo na sociedade, e apenas 34% dos gen Z estão satisfeitos com o trabalho e equilíbrio de vida, enquanto entre os millenials essa satisfação cai para 31%.
A expectativa para o futuro do mercado de trabalho para os jovens da Geração Z apresenta um cenário misto de desafios e oportunidades. Por um lado, áreas específicas como a saúde demonstram potencial de crescimento, com a projeção de criação de um milhão de vagas na próxima década nos Estados Unidos, incluindo auxiliares de saúde domiciliar, enfermeiros registrados e profissionais de enfermagem, tendência que pode se refletir em outros países, incluindo o Brasil. Por outro lado, o avanço da inteligência artificial e a persistente informalidade no mercado de trabalho continuam sendo fatores de preocupação para especialistas e formuladores de políticas públicas. A situação das mulheres jovens merece atenção especial, pois elas representam a maior parte do grupo que não estuda nem trabalha, somando mais de 3,3 milhões, muitas delas com filhos pequenos, o que evidencia a necessidade de políticas específicas que facilitem a conciliação entre maternidade e carreira profissional. Para enfrentar esses desafios, especialistas recomendam uma reformulação do sistema educacional, com maior ênfase em formação profissionalizante alinhada às demandas reais do mercado, além de incentivos para empresas que contratem e desenvolvam jovens profissionais. O Brasil encerrou 2023 com uma taxa média de desemprego de 7,8%, a menor em quase dez anos, o que sugere uma tendência de recuperação do mercado de trabalho após os impactos da pandemia. Se essa tendência se mantiver e for acompanhada de políticas específicas para a juventude, é possível vislumbrar uma melhora gradual na empregabilidade dos jovens da Geração Z nos próximos anos.
Transformações necessárias para inclusão juvenil no mercado de trabalho
A redução do desemprego entre jovens e adolescentes brasileiros representa um avanço significativo, mas os números ainda indicam desafios estruturais que precisam ser enfrentados. A disparidade entre as taxas de desemprego juvenil e adulto, a informalidade elevada e a estagnação da renda média são sintomas de um mercado de trabalho que ainda não está plenamente adaptado às necessidades e expectativas da Geração Z. Para reverter completamente este cenário, será necessário um esforço conjunto entre governo, empresas e instituições de ensino para desenvolver programas educacionais mais alinhados às demandas do mercado, criar mecanismos de apoio específicos para mulheres jovens com filhos e incentivar a formalização e melhoria das condições de trabalho oferecidas aos jovens profissionais.