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Deputado defende programa de saúde mental para pais de bebês reborn

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Rodrigo Amorim discursou na Alerj sobre proposta que visa prevenir dependência emocional.

A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) está analisando o Projeto de Lei n° 5357/2025, de autoria do deputado Rodrigo Amorim (União), que propõe a criação de um programa especializado de saúde mental voltado para pessoas que se consideram mães e pais de “bebês reborn”. Durante sessão realizada na tarde de quarta-feira, 14 de maio de 2025, o parlamentar defendeu a iniciativa em plenário, classificando o apego excessivo a esses bonecos como “um transtorno mental que deve ser tratado e encarado pelo poder público”. Os bebês reborn, como são conhecidos, são bonecos artísticos hiper-realistas que reproduzem com extrema fidelidade as características físicas de bebês reais, incluindo textura da pele, temperatura corporal, peso, cabelos implantados fio a fio e até mesmo batimentos cardíacos simulados. O projeto visa proporcionar auxílio psicológico e orientações específicas sobre os riscos potenciais da utilização desses bonecos como mecanismo de fuga da realidade, especialmente quando se tornam substitutos emocionais para pessoas que enfrentam lutos não elaborados ou traumas relacionados à maternidade e paternidade frustradas.

O fenômeno dos bebês reborn tem crescido significativamente no Brasil nos últimos anos, com preços que podem variar de mil a dez mil reais, dependendo do nível de realismo e personalização. Criados inicialmente como peças de colecionadores, esses bonecos ganharam nova dimensão quando começaram a ser adotados por pessoas que desenvolvem vínculos afetivos intensos com os objetos, tratando-os como filhos verdadeiros. O projeto de Amorim surge em um contexto de crescente preocupação com a saúde mental no país, tema que tem recebido maior atenção legislativa em 2025, com diversas proposições em tramitação. Em março deste ano, foi apresentado o Projeto de Lei 1152/2025, que institui a Política Nacional de Saúde Mental no Trabalho (PNSMT), visando prevenir riscos psicossociais no ambiente laboral. Também está em análise o PL 1035/2025, que dispõe sobre a criação da Política Nacional de Prevenção e Tratamento da Depressão e Outros Transtornos Mentais, estabelecendo inclusive um Vale Saúde Mental. No caso específico do projeto sobre bebês reborn, a preocupação central está no que especialistas chamam de “deslocamento afetivo patológico”, quando o apego ao boneco ultrapassa a fronteira do hobby ou da coleção e passa a substituir relações humanas reais, podendo levar ao isolamento social e agravamento de quadros depressivos.

O projeto do deputado Rodrigo Amorim prevê que o programa seja desenvolvido por meio de convênios e parcerias com organizações não-governamentais, universidades, instituições de ensino públicas e privadas, órgãos governamentais e demais setores da sociedade civil. A proposta se alinha a outras iniciativas no campo da saúde mental que têm ganhado força no legislativo brasileiro em 2025. Em abril, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que cria um programa de saúde mental voltado para pessoas idosas, reconhecendo que, segundo dados do IBGE e da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, os idosos representavam a faixa etária com maior índice de diagnóstico de depressão, somando 35%. A atenção à saúde mental também chegou ao ambiente corporativo, com a recente atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), realizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, que a partir de 26 de maio de 2025 obrigará todas as empresas no Brasil a implementarem medidas específicas para promover a saúde mental de seus colaboradores, incluindo a avaliação e gestão de riscos psicossociais no ambiente de trabalho. No caso específico dos bebês reborn, psicólogos consultados apontam que o comportamento pode ser considerado patológico quando interfere nas atividades cotidianas, gera gastos excessivos, provoca isolamento social ou quando a pessoa desenvolve rituais elaborados e inflexíveis de cuidado com o boneco.

As perspectivas para a aprovação do projeto na Alerj ainda são incertas, mas o tema tem provocado debates acalorados entre parlamentares e especialistas em saúde mental. Defensores da proposta argumentam que o poder público deve oferecer apoio psicológico para prevenir que o apego aos bebês reborn evolua para quadros mais graves de transtornos mentais, especialmente em pessoas que já apresentam vulnerabilidades emocionais prévias. Por outro lado, críticos questionam se a iniciativa não poderia estigmatizar colecionadores e artesãos que trabalham com os bonecos sem qualquer conotação patológica. Se aprovado, o Rio de Janeiro seria o primeiro estado brasileiro a implementar um programa específico voltado para esta questão, podendo servir de modelo para iniciativas semelhantes em outras unidades da federação. O deputado Rodrigo Amorim defende que o projeto não visa criminalizar ou julgar as pessoas que se apegam aos bebês reborn, mas oferecer suporte psicológico para aqueles que possam estar utilizando os bonecos como mecanismo disfuncional de enfrentamento de traumas ou perdas. A matéria seguirá para votação nas comissões temáticas da Alerj antes de ir a plenário, onde precisará de maioria simples dos votos para ser aprovada e seguir para sanção do governador, que terá 15 dias úteis para decidir sobre a promulgação ou veto do texto.

Programa prevê parcerias com universidades e ONGs para atendimento especializado

O texto do projeto estabelece que, além do atendimento psicológico direto, o programa deverá desenvolver campanhas educativas sobre os riscos do apego excessivo aos bebês reborn, capacitar profissionais de saúde para identificar casos que necessitem de intervenção e criar grupos de apoio para pessoas que desejam reduzir sua dependência emocional dos bonecos. A iniciativa se soma a outros esforços legislativos recentes no campo da saúde mental, demonstrando uma tendência crescente de reconhecimento da importância do tema para a saúde pública brasileira. Especialistas consultados pela reportagem ressaltam que o fenômeno dos bebês reborn, quando associado a comportamentos patológicos, pode ser um sintoma de questões emocionais mais profundas que merecem atenção profissional qualificada e empática, evitando abordagens estigmatizantes que possam afastar ainda mais essas pessoas de um tratamento adequado.

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