Como o criador de Succession usou a série como inspiração para o filme Mountainhead

Como Jesse Armstrong transformou os temas de poder e riqueza de Succession na sátira distópica de Mountainhead.
Em Mountainhead, novo filme da HBO Max assinado por Jesse Armstrong, criador de Succession, três bilionários e um multimilionário do universo da tecnologia planejam um fim de semana de relaxamento, drinks e poker em um luxuoso chalé. Mas o encontro toma rumos inesperados. Longe de ser apenas uma comédia, a trama expõe os perigos do poder desmedido nas mãos de magnatas, especialmente quando um deles lança um programa de inteligência artificial capaz de criar vídeos hiper-realistas, desencadeando uma crise humanitária global.
Embora Armstrong quisesse se afastar do universo dos super-ricos após Succession, sua extensa pesquisa para a série o levou a criar Mountainhead. A semelhança com a realidade é gritante – e não totalmente acidental. Curiosamente, o filme estreou dias antes do Google anunciar o Veo 3, uma ferramenta de IA que gera vídeos de qualidade impressionante, reforçando o caráter profético da obra.
Os Bilionários Reais que Inspiraram Mountainhead, Novo Filme da HBO do Criador de Succession
O recém-lançado Mountainhead, filme original da HBO disponível na Max, é uma sátira mordaz sobre bilionários e inteligência artificial, criada por Jesse Armstrong, mente por trás do sucesso Succession. A trama mergulha no universo de magnatas da tecnologia que detêm imenso poder sobre o mundo, ecoando figuras reais do nosso tempo. Confira as possíveis inspirações por trás dos personagens dessa paródia afiada!
Uma Sátira sobre Poder e Tecnologia
Mountainhead acompanha quatro bilionários, melhores amigos, reunidos em um luxuoso chalé isolado que dá nome ao filme. Enquanto desfrutam de sua opulência, crises globais – influenciadas por suas próprias ações – se intensificam. A trama explora temas como poder, riqueza e política, refletindo questões do mundo real. Embora Armstrong não revele diretamente suas inspirações, os paralelos com figuras conhecidas são inevitáveis. Veja quem podem ser os bilionários por trás dos personagens!
Venis – Elon Musk, Sam Altman ou Mark Zuckerberg?
Interpretado por Cory Michael Smith, Venis é o CEO de uma empresa de tecnologia que lança inovações em inteligência artificial, diretamente ligadas a um colapso social global. Sua postura arrogante e crença em reverter desastres com mais tecnologia remetem a Elon Musk. A aquisição do Twitter (agora X) por Musk, a integração do Grok (sua IA) à plataforma e até seus maneirismos são espelhados na atuação de Smith.
Por outro lado, Venis também pode ser inspirado em Sam Altman, CEO da OpenAI, criadora do ChatGPT. No filme, o personagem enfrenta críticas por ferramentas de deepfake que geram conflitos globais, algo que ecoa debates sobre os riscos da IA. Outra possibilidade é Mark Zuckerberg, já que Venis lidera uma rede social acusada de ignorar danos sociais em prol do lucro, lembrando acusações reais contra a Meta, como as violações de direitos humanos contra os Rohingya em Mianmar.
Randall – Peter Thiel com toques de Marc Andreessen
Steve Carell dá vida a Randall, o bilionário mais velho e líder informal do grupo. Como investidor de risco e entusiasta da transferência de consciência para a tecnologia, Randall parece inspirado em Peter Thiel, ex-CEO do PayPal, conhecido por seu interesse em tecnologias de extensão da vida. Há também traços de Marc Andreessen, investidor que defende o avanço da IA nos EUA para conter a influência chinesa, uma visão compartilhada pelo personagem.
Jeff e Souper – Uma Mistura de Magnatas
Jeff, interpretado por Ramy Youssef, combina características de vários bilionários. Sua juventude e personalidade lembram Mark Zuckerberg e Sam Altman, enquanto seu trabalho com IA para combater doenças e mudanças climáticas ecoa Demis Hassabis, CEO do DeepMind e Nobel de Química em 2024, além de Dario Amodei, CEO da Anthropic. Já Souper (Jason Schwartzman) é o mais fictício do grupo, uma paródia genérica de bilionários excêntricos, menos rico, mas igualmente carismático.
Mountainhead: Um Espelho do Nosso Tempo
Com um elenco estelar que inclui Steve Carell, Cory Michael Smith, Ramy Youssef, Jason Schwartzman, Hadley Robinson e Andrew Daly, Mountainhead consolida Jesse Armstrong como mestre em retratar as dinâmicas de poder. Assim como Succession, o filme usa humor e crítica para refletir sobre a influência desmedida de bilionários na sociedade, especialmente no campo da tecnologia.
Como o criador de Succession transformou a série em referência para análise sobre poder e ambição
Drama familiar da HBO conquistou público e crítica ao retratar as complexas relações em uma família de bilionários
Jesse Armstrong, criador da aclamada série Succession, conseguiu transformar o que poderia ser apenas mais um drama sobre famílias ricas em uma das produções mais influentes e analisadas da televisão contemporânea. A série, que encerrou sua trajetória após quatro temporadas bem-sucedidas, apresentou ao público a família Roy e suas disputas internas pelo controle de um império midiático global, tornando-se rapidamente um fenômeno cultural e uma referência incontornável para discussões sobre poder, riqueza e ambição. Armstrong, roteirista britânico com experiência em sátiras políticas como The Thick of It e Veep, imprimiu à narrativa uma abordagem crua e realista das relações familiares conturbadas pelo dinheiro e pelo poder, criando personagens profundamente falhos, mas estranhamente cativantes. O sucesso da produção pode ser atribuído não apenas ao brilhantismo do elenco, encabeçado por nomes como Brian Cox e Jeremy Strong, mas principalmente à visão singular de Armstrong, que soube equilibrar momentos de drama intenso com um humor ácido e sarcástico, criando uma narrativa que funciona simultaneamente como entretenimento de alto nível e como uma análise perspicaz sobre os mecanismos do capitalismo tardio e as distorções que o poder extremo causa nas relações humanas.
A genialidade de Succession reside na forma como Armstrong conseguiu criar uma obra que dialoga diretamente com questões contemporâneas sobre concentração de poder, dinâmicas familiares tóxicas e a moralidade duvidosa que permeia o mundo dos ultraricos, sem nunca cair em simplificações ou julgamentos fáceis. Inspirando-se em dinastias midiáticas reais como as famílias Murdoch, Redstone e Roberts, o criador construiu um universo ficcional que, embora exagerado em alguns aspectos, reflete com precisão assustadora os bastidores do poder corporativo e as lutas intestinas que ocorrem longe dos olhos do público. A série acompanha o patriarca Logan Roy (Brian Cox), CEO da Waystar Royco, um conglomerado de mídia e entretenimento, e seus quatro filhos – Kendall (Jeremy Strong), Roman (Kieran Culkin), Shiv (Sarah Snook) e Connor (Alan Ruck) – que competem pela aprovação do pai e pelo eventual controle da empresa. O que diferencia Succession de outras produções sobre famílias poderosas é a recusa de Armstrong em glamourizar a riqueza extrema ou em criar heróis e vilões claramente definidos. Em vez disso, a série apresenta um retrato nuançado de pessoas profundamente danificadas por sua própria riqueza e privilégios, incapazes de estabelecer conexões genuínas e constantemente manipuladas pelo patriarca, ele próprio um personagem complexo que oscila entre a crueldade calculada e momentos raros de vulnerabilidade humana. Esta abordagem realista e sem concessões conquistou não apenas fãs devotos, mas também o reconhecimento da crítica especializada, resultando em múltiplos prêmios Emmy, incluindo o de Melhor Série Dramática.
O método de trabalho implementado por Armstrong na sala de roteiristas de Succession também contribuiu significativamente para a autenticidade e profundidade da série. Diferentemente de muitas produções de TV que seguem fórmulas estabelecidas, ele incentivou um ambiente colaborativo onde os roteiristas eram encorajados a trazer experiências pessoais e observações sobre o comportamento das elites para enriquecer a narrativa. Além disso, o criador contratou consultores do mundo corporativo e financeiro para garantir que os diálogos e situações retratados na série tivessem verossimilhança com o universo dos negócios de alto nível. Esta atenção meticulosa aos detalhes é evidente em cada aspecto da produção, desde os cenários luxuosos que nunca caem no clichê ostentativo até os diálogos afiados e repletos de jargões corporativos que se tornaram marca registrada da série. Armstrong também se destacou pela decisão de encerrar a série em seu auge, após quatro temporadas, evitando o declínio de qualidade que aflige muitas produções de longa duração. O final, considerado por muitos críticos como um dos melhores da história da televisão, amarrou de forma magistral os arcos narrativos dos personagens principais, oferecendo uma conclusão que, embora não necessariamente feliz, foi profundamente satisfatória e coerente com a visão cínica mas realista que permeou toda a série. Esta capacidade de saber quando e como encerrar uma história é outro testemunho da integridade artística de Armstrong e de sua compreensão do meio televisivo como forma de arte.
O legado duradouro de Succession na cultura contemporânea
O impacto cultural de Succession vai muito além de seu sucesso comercial ou reconhecimento crítico, estabelecendo novos padrões para dramas televisivos e influenciando significativamente a forma como histórias sobre poder e riqueza são contadas. Jesse Armstrong conseguiu criar uma obra que, paradoxalmente, nos faz torcer por personagens muitas vezes desprezíveis, um feito que poucos criadores conseguiram realizar com tanta maestria. A série também se destacou por capturar com precisão o zeitgeist contemporâneo, refletindo ansiedades sociais sobre desigualdade econômica, concentração de poder midiático e a influência corrosiva do dinheiro nas instituições democráticas. Não por acaso, Succession se tornou objeto de estudo em universidades e tema recorrente em análises sociológicas e econômicas, transcendendo seu status de entretenimento para se firmar como um documento cultural relevante sobre nossa época. O estilo visual distinto, a trilha sonora memorável composta por Nicholas Britell e a direção consistente também estabeleceram novos parâmetros de qualidade para produções televisivas. À medida que novas gerações de espectadores descobrem a série, é provável que sua relevância apenas aumente, consolidando o lugar de Jesse Armstrong como um dos mais importantes contadores de histórias de nossa era, alguém que soube utilizar o formato seriado não apenas para entreter, mas para provocar reflexões profundas sobre a natureza humana e as estruturas de poder que moldam nossa sociedade.