China reage e pressiona Trump: ‘Chega de ameaças e chantagens’ e não dá indicação de acordo

China reage e pressiona Trump por fim à política de ameaças.
Pequim exige respeito e condena novas tarifas em meio à tensão.
A China fez um apelo contundente na quarta-feira (16), em Pequim, para que os Estados Unidos cessem imediatamente práticas que definiu como ameaças e chantagens no contexto da guerra comercial em curso. O pedido foi formalizado após a Casa Branca transferir à China a responsabilidade pelo início de uma renegociação das tarifas aplicadas bilateralmente, elevando a pressão sobre Pequim. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vem ampliando as barreiras tarifárias a produtos chineses desde sua posse, chegando a aumentar as taxas em 245% para diversas importações provenientes do país asiático. Em resposta, a China aplicou tarifas de 125% sobre bens americanos, intensificando o conflito comercial. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Lin Jian, insistiu que Washington precisa abandonar a postura de pressão extrema e buscar um diálogo baseado em igualdade e respeito mútuo. O Governo chinês, além disso, apresentou uma série de exigências dirigidas à administração norte-americana, entre elas o compromisso com o respeito institucional, uma comunicação mais estável e a designação de um negociador diretamente envolvido e com respaldo presidencial para conduzir eventuais acordos comerciais futuros.
O embate entre as duas maiores economias do planeta não é recente, mas a atual escalada começou com iniciativas unilaterais dos EUA para corrigir aquilo que Trump considerava um desequilíbrio comercial crônico. O líder americano impôs tarifas progressivas, que inicialmente visavam setores específicos como o fornecimento de substâncias químicas e eletrônicos, sob a justificativa de proteger a indústria nacional e combater supostas práticas desleais. A reação chinesa foi rápida, com elevação de suas próprias tarifas sobre exportações americanas e adoção de medidas como restrições à compra de aviões Boeing e limites à importação de carne bovina dos Estados Unidos. Este cenário criou uma cadeia de retaliações que envolveu setores agrícolas, industriais e tecnológicos. Apesar dessas tensões, a economia chinesa reportou crescimento de 5,4% no primeiro trimestre; no entanto, autoridades locais reconhecem que os impactos do novo ciclo tarifário ainda não foram totalmente absorvidos e apontam para um ambiente de pressão sobre o comércio internacional. O governo de Xi Jinping ressalta que, embora a China não queira um confronto direto, não hesitará em responder proporcionalmente a qualquer medida considerada injusta.
Trump afirma que EUA não precisam fazer acordo com a China
A afirmação chega apenas um dia após a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmar que o presidente Donald Trump considera que os americanos não precisam firmar um acordo comercial com a China sobre tarifas. Segundo ela, a responsabilidade pelas negociações sobre tarifas recíprocas agora está com o governo chinês.
“A bola está com a China. A China que precisa fazer um acordo conosco. Nós não precisamos fazer um acordo com eles”, afirmou Trump, segundo a porta-voz.
“Não há diferença entre a China e qualquer outro país, exceto pelo fato de que eles são muito maiores — e a China quer o que nós temos… o consumidor americano.”
Em resposta à Casa Branca, o porta-voz chinês relembrou que a guerra tarifária foi iniciada pelos EUA, não pela China.
“A China não quer uma briga, mas também não tem medo de uma”, disse Li Jian.
Diálogo difícil e incertezas para economia global
O aprofundamento da disputa tarifária entre Estados Unidos e China trouxe à discussão internacional o risco de desestabilização de cadeias produtivas globais e acentuou incertezas sobre a recuperação da economia mundial. A transferência do ônus das negociações para Pequim, anunciada oficialmente pela Casa Branca, foi vista por analistas como uma estratégia para pressionar interlocutores chineses a aceitar concessões, mas também elevou a tensão nos mercados financeiros. Além das altas tarifas, as autoridades chinesas têm apontado a crescente hostilidade americana em temas como sanções comerciais e a questão de Taiwan, exigindo dos EUA posições mais claras e respeitosas em relação aos interesses de Pequim. Em meio à troca de acusações, empresas multinacionais, especialmente nos segmentos de tecnologia, agropecuária e manufatura, seguem avaliando o impacto das medidas nos custos de produção e na instabilidade cambial. O setor automotivo também sente reflexos, com montadoras como a Honda anunciando mudanças estratégicas na cadeia de montagem para contornar possíveis perdas derivadas da guerra tarifária. Para Pequim, manter a estabilidade e crescimento econômico é prioridade, enquanto Trump aposta na pressão máxima como diferencial de sua política externa.
Especialistas destacam que a continuidade do impasse pode retardar investimentos globais e impactar diretamente consumidores devido à elevação dos preços finais de diversos produtos. A Organização Mundial do Comércio (OMC) foi acionada pela China, que ingressou com queixas formais em resposta às novas tarifas norte-americanas, reforçando o clima de disputa. Os principais exportadores americanos, notadamente do setor agrícola, também sentem os efeitos adversos, com perdas acumuladas desde o início da crise. Paralelamente, a diplomacia chinesa reafirma seu compromisso em manter uma postura de defesa dos interesses nacionais, mas reitera que está aberta ao diálogo desde que haja reciprocidade e respeito. No entanto, fontes próximas às negociações revelam ceticismo quanto à possibilidade de avanços concretos, especialmente diante das divergências históricas e do contexto eleitoral nos Estados Unidos, onde as políticas protecionistas continuam sendo defendidas como trunfo por diferentes setores políticos.
Cenário incerto e perspectivas para a guerra comercial sino-americana
A conjuntura de embate tarifário entre China e Estados Unidos permanece sem sinais claros de resolução, e o futuro das negociações bilaterais segue incerto. O governo chinês mantém o discurso de resiliência e disposição para se defender de qualquer ato que considere prejudicial à sua economia, enfatizando que a pressão externa não alterará sua postura em temas considerados estratégicos. Por outro lado, a administração Trump segue apostando na retórica do confronto e da imposição de novas barreiras, enquanto transfere para Pequim a responsabilidade pelo avanço no diálogo. Para além dos efeitos imediatos sobre o comércio, a tendência é que a rivalidade entre as duas potências continue influenciando agendas globais, impactando decisões de empresas e governos em todo o mundo.
No curto prazo, os mercados financeiros seguem atentos a sinais de flexibilização ou agravamento do atrito, que podem alterar prognósticos de crescimento e estabilidade global. O setor produtivo internacional, especialmente indústrias dependentes de importação de insumos asiáticos e exportadores agrícolas americanos, permanece vulnerável à volatilidade das decisões políticas. Entre as exigências chinesas, a demanda por respeito mútuo e negociação com base na igualdade retoma princípios clássicos da diplomacia, enquanto a resposta dos EUA tem oscilado entre ameaças de novas sanções e possibilidade de recuos parciais, voltados para minimizar impactos no consumo doméstico. O avanço ou retrocesso na relação sino-americana dependerá, nos próximos meses, do grau de disposição das partes para superar o impasse e adotar soluções que favoreçam não apenas seus interesses imediatos, mas também a estabilidade econômica internacional.