Canadá enfrenta polêmica com aumento de casos de eutanásia

Discussão sobre limites na assistência médica ao morrer.
Em 2023, o Canadá registrou 15.343 casos de eutanásia, representando um aumento de quase 16% em relação ao ano anterior e quase 5% do total de óbitos no país. Desde sua legalização, em 2016, a prática tem gerado debates intensos sobre seus limites e regulamentações. A legislação canadense, considerada uma das mais amplas do mundo, permite a assistência médica ao morrer em casos de doenças terminais ou sofrimento crônico. Contudo, em províncias como Quebec, a aceitação é ainda mais progressista, permitindo avanços mais rápidos em comparação ao restante do país. Este crescente número de mortes assistidas levanta questões éticas entre defensores e críticos, enquanto o governo tenta equilibrar o direito individual à escolha com salvaguardas para proteger os mais vulneráveis.
Impactos e controvérsias da legislação atual
Desde a implementação da lei, o Canadá já contabilizou mais de 60 mil casos de eutanásia. Os números refletem uma aceitação crescente, mas também trazem à tona preocupações sobre o impacto social e econômico. Alguns casos específicos, como o de Les Landry, um aposentado que optou pela eutanásia devido ao medo de viver na pobreza, reacenderam debates sobre a responsabilidade do governo em oferecer condições dignas de vida. Outro ponto controverso foi a tentativa de expandir a lei para incluir pacientes com doenças mentais, o que foi adiado após críticas de que o sistema de saúde ainda não estava preparado. Enquanto defensores argumentam que a legislação alivia o sofrimento de pessoas gravemente doentes, críticos alertam para o risco de transformar a prática em uma solução econômica para questões sociais complexas.
Desafios éticos e perspectivas futuras
O avanço da legislação canadense sobre a eutanásia trouxe novos desafios éticos, especialmente com o debate sobre a inclusão de doenças mentais e a possibilidade de estender a prática a menores de idade considerados maduros. Ativistas e especialistas alertam para a necessidade de limites claros, temendo que a expansão irrestrita possa pressionar indivíduos vulneráveis a tomar decisões precipitadas. Por outro lado, grupos pró-escolha enfatizam a importância do direito individual de decidir sobre a própria vida e morte. Com um sistema ainda em ajustamento, o governo federal enfrenta o desafio de criar normas que garantam um equilíbrio entre a autonomia dos pacientes e a proteção de grupos vulneráveis.
‘Eu ainda poderia viver mais 30 anos, mas quero morrer’; a permissão para eutanásia está indo longe demais no Canadá?
A artista performática e burlesca de 39 anos não tem uma doença terminal, mas foi aprovada para morte assistida de acordo com as leis cada vez mais liberais do Canadá. luminada por um único holofote em um palco onde já se apresentou muitas vezes, ela diz que planeja morrer aqui “dentro de alguns meses” do iminente aniversário de 40 anos. Ela terá a companhia de um pequeno grupo de familiares e amigos.
April planeja estar em uma “cama grande e confortável” para o que ela chama de momento “comemorativo”, quando um profissional de saúde vai injetar uma dose letal em sua corrente sanguínea.
“Quero estar cercada pelas pessoas que amo, e ter todos me abraçando em um abraço gigante, e dar meu último suspiro, cercada de amor e apoio”, diz ela.
April nasceu com espinha bífida e, mais tarde, foi diagnosticada com tumores na base da coluna vertebral que, segundo ela, a deixaram com dores constantes e debilitantes.Ela toma analgésicos opioides fortes há mais de 20 anos, e solicitou a Assistência Médica para Morrer (Maid, na sigla em inglês) em março de 2023. Embora ainda pudesse viver por décadas com sua condição, ela se qualificou para pôr fim à sua vida sete meses após a solicitação. Para pacientes terminais, é possível obter aprovação em 24 horas.
“Meu sofrimento e minha dor estão aumentando, e não tenho mais a qualidade de vida que me deixa feliz e realizada”, conta April. Toda vez que se move ou respira, ela diz que parece que os tecidos da base da sua coluna “estão sendo puxados como um elástico que se estica demais”, e que seus membros inferiores a deixam em agonia.
Reflexões e debates globais sobre o tema
Enquanto o Canadá aprimora seu sistema de assistência médica ao morrer, o impacto dessa legislação serve como exemplo para outros países que consideram legalizar a prática. Nações como Bélgica e Holanda mostram que é possível implementar a eutanásia com salvaguardas robustas, mas o caso canadense ressalta a importância de um debate público contínuo e cuidadoso. No futuro, especialistas preveem que o país enfrentará decisões complexas para regulamentar o acesso à eutanásia, especialmente diante de questões sociais, como a pobreza e o sofrimento mental. Independentemente dos avanços, o tema continuará gerando discussões, convidando sociedades ao redor do mundo a refletirem sobre os limites da autonomia individual e o papel do estado na garantia de uma vida digna.