Cacau Show enfrenta denúncias de franqueados insatisfeitos

Cacau Show é alvo de reclamações de franqueados descontentes.
Franqueados relatam clima de pressão e práticas rigorosas.
A Cacau Show, maior rede de franquias de chocolates do Brasil, enfrenta novos questionamentos depois que uma série de franqueados relatou experiências negativas ao trabalhar com a marca. Segundo relatos colhidos nos dias finais de maio, ex e atuais franqueados descrevem o ambiente dentro da rede como semelhante ao de uma seita, onde eventos motivacionais são promovidos com discursos emocionantes, música alta e exaltação do pensamento positivo, enquanto, nos bastidores, não há espaço para discutir contratos ou políticas da empresa. Liderados por Alexandre Tadeu da Costa, fundador e CEO da rede, os encontros presenciais e virtuais têm o intuito de incentivar o engajamento irrestrito à marca, mas muitos empresários revelam que qualquer tentativa de contestação resulta em retaliações. Com mais de 4 mil unidades espalhadas em todo o Brasil, a Cacau Show tem se posicionado, nas redes sociais e em entrevistas, como exemplo de sucesso empresarial, mas as denúncias mostram uma realidade repleta de tensão entre comando e franqueados.
O principal foco de insatisfação gira em torno das práticas institucionais adotadas pela franqueadora, que incluem punições para quem questiona as diretrizes ou expressa descontentamento com preços, produtos ou estratégias de vendas. Franqueados afirmam que, ao apresentar reclamações, passaram a receber lotes de chocolates próximos da validade ou mercadorias de difícil saída, comprometendo a rentabilidade das unidades. Alguns relatam que, diante de críticas frequentes, tiveram o crédito cortado, sendo obrigados a comprar produtos à vista, uma medida que dificulta a manutenção das lojas. Em casos mais graves, empresários alegam assédio moral e até perseguição, além de enfrentar processos judiciais para contestar cobranças consideradas indevidas. Um caso recente na 25ª Vara Cível de Brasília reforça o padrão dessas punições e o peso contratual estabelecido pela franqueadora. Na esfera pública, a empresa enfatiza resultados positivos, mas a crise interna ganha novos contornos a cada depoimento de franqueado, evidenciando fissuras entre discurso e prática.
Especialistas no segmento de franquias apontam que o modelo, embora amplamente replicado no setor, requer transparência e canais abertos para diálogo entre as partes, algo que, segundo os relatos dos franqueados da Cacau Show, está ausente na empresa. Os eventos corporativos voltados ao desenvolvimento pessoal e profissional, que deveriam ser ferramentas de alinhamento e motivação, têm sido interpretados como instrumentos de controle e doutrinação. Empresários entrevistados relatam que o medo de represálias os impede de denunciar situações de abuso, já que podem perder o direito de operar as unidades, enfrentando prejuízos financeiros e desgaste emocional. Além disso, o aumento repentino no valor dos produtos e políticas rígidas de fornecimento criam insegurança e instabilidade, reduzindo a autonomia dos operadores das lojas. Conforme as denúncias se multiplicam, cresce o debate sobre a necessidade de fiscalização mais rígida e aperfeiçoamento das normas regulatórias para franquias, com o objetivo de proteger os pequenos empresários no país.
Diante desse cenário, a Cacau Show vê sua reputação de gigante do varejo abalada pelas controvérsias destacadas por seus próprios franqueados. A falta de canais efetivos para solucionar conflitos e a institucionalização de sanções severas ampliam o distanciamento entre a cúpula da empresa e a base franqueada, gerando incertezas quanto à sustentabilidade do modelo atual. O futuro da rede dependerá de como a empresa irá lidar com as críticas e promover mudanças que resgatem a confiança dos parceiros de negócio. A expectativa do mercado é que as demandas por maior diálogo, transparência e respeito aos direitos dos franqueados sejam atendidas, sob o risco de ampliar o número de desistências e ações judiciais. Enquanto isso, a discussão sobre práticas empresariais saudáveis e respeito aos contratos ganha força, impulsionando um olhar mais rigoroso sobre o funcionamento de grandes franquias no país.
Cacau Show: Parque de R$ 2 bilhões de Alê Costa avança em meio a denúncias de franqueados
De acordo com o site Metrópoles, o fundador e CEO da Cacau Show, Alexandre Tadeu da Costa, conhecido como Alê Costa, está construindo o Cacau Park, um parque de diversões de R$ 2 bilhões no interior de São Paulo, prometendo ser o maior do país. O empreendimento, que exalta a trajetória de Costa e os produtos da rede com mais de 4 mil lojas, terá atrações como carrinhos de bate-bate inspirados em Fuscas azuis de 1988 — referência ao primeiro carro usado por ele para vender chocolates — e a montanha-russa mais rápida da América Latina. No entanto, o projeto avança em meio a denúncias de franqueados insatisfeitos, que relatam dívidas, pressão e práticas abusivas da franqueadora.
“Rastro de pessoas quebradas”
Enquanto Alê Costa, muitas vezes comparado ao personagem Willy Wonka por seu estilo com cartola e trajes de veludo, promove o Cacau Park, franqueados denunciam dificuldades financeiras e emocionais. Dona Irene Angelis, ex-franqueada que já teve seis lojas, perdeu R$ 3 milhões e relata problemas de saúde, como síndrome do pânico e insuficiência cardíaca. “Quanto mais franqueado quebra, mais a Cacau Show lucra com taxas e juros, deixando um rastro de pessoas quebradas”, afirma.
Outra franqueada, que se descreve como “morta-viva”, acumula uma dívida de R$ 750 mil e relata medo e vergonha após investir suas economias e envolver a família no negócio. Muitos contam que, ao assinar o contrato, são atraídos pela “magia” da marca, mas enfrentam cobranças inesperadas, multas, aditamentos contratuais e dívidas impagáveis, muitas vezes garantidas por bens pessoais como casas e carros.
Pressão no Cacau Park e descumprimento trabalhista
Funcionários e ex-funcionários envolvidos na construção do Cacau Park alegam rotinas exaustivas e pressão por prazos, comprometendo a qualidade e segurança das instalações. Há relatos de descumprimento de contratos e direitos trabalhistas, com o objetivo de acelerar a obra.
Impacto das enchentes no Rio Grande do Sul
As enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em 2024 também expuseram a falta de apoio da Cacau Show. Uma franqueada, que perdeu sua loja na tragédia, relata que, em vez de auxílio, recebeu cobranças por produtos destruídos e royalties, sem qualquer desconto. “É desumano. Além das perdas financeiras, há a perda da saúde mental e física”, desabafa, comparando a rede a uma “pirâmide” que lucra com taxas e novos franqueados.
Clima de “seita” e retaliações
Um perfil nas redes sociais, “Doce Amargura”, criado por franqueados para expor os problemas, sofreu pressão direta. A responsável, ainda franqueada, recebeu a visita do vice-presidente da empresa, Túlio Freitas, que teria questionado o que ela precisava para “parar”. Ela agora busca judicialmente rescindir seu contrato.
Resposta da Cacau Show
Em nota, a Cacau Show negou as alegações do perfil “Doce Amargura”, afirmando que é construída com base na “confiança mútua, respeito e conexão genuína com franqueados”. A empresa destacou que as visitas de Túlio Freitas visam fortalecer o relacionamento com os franqueados, sem relação com o perfil. “Não compactuamos com condutas que contrariem nossos valores”, diz o comunicado.
Sem apoio, apenas discursos motivacionais
Franqueados relatam que, ao buscar ajuda, recebem discursos motivacionais em vez de soluções práticas. Uma franqueada ouviu de uma consultora que precisava “se benzer” para resolver os problemas, enquanto outra, após anos sem folgas ou férias, saiu endividada e emocionalmente abalada. “Investi no sonho, mas saí cheia de dívidas e psicologicamente destruída”, conta.
O contraste entre a imagem de sucesso projetada por Alê Costa e as histórias de franqueados endividados levanta questionamentos sobre as práticas da maior rede de franquias de chocolates do Brasil, enquanto o Cacau Park avança como símbolo do império construído por seu fundador.
Desafios e perspectivas para a maior rede de franquias de chocolates
O momento atual da Cacau Show exige repensar estratégias e fortalecer a relação com os franqueados para evitar que a crise de imagem se agrave e comprometa o desempenho da marca no mercado nacional. As denúncias sobre clima de “seita”, punições e retaliações revelam uma necessidade urgente de revisão das práticas administrativas e de gestão. Para especialistas, investir em processos transparentes e canais de escuta ativa pode contribuir para amenizar o clima de tensão e construir um ambiente mais saudável e colaborativo entre franqueadora e franqueados. A experiência bem-sucedida de outros modelos de franquia, que valorizam o diálogo constante, reforça que a coesão é possível sem abrir mão da autonomia e do respeito mútuo. Assim, a expectativa é que a Cacau Show promova ajustes internos, valorize a experiência dos franqueados e adote medidas que favoreçam tanto o crescimento da marca quanto a satisfação dos parceiros de negócio, fortalecendo sua posição de referência no competitivo setor de franquias brasileiro.
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