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Brasil teme isolamento global após União Europeia recuar na regulação das big techs

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Governo brasileiro preocupado com mudança de postura europeia.

O governo brasileiro demonstra crescente preocupação diante de sinais de que a União Europeia (UE) pode estar recuando em sua ofensiva para regular as grandes empresas de tecnologia, conhecidas como big techs. Essa mudança de postura do bloco europeu levanta temores de que o Brasil possa ficar isolado em seus esforços para impor limites à atuação dessas corporações. A expectativa era de que o país pudesse formar uma aliança com nações como UE, Austrália, Reino Unido e Canadá para contrabalançar as ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retaliar países que buscassem regulamentar e taxar as plataformas de internet, majoritariamente americanas. No entanto, as recentes ações e declarações de líderes europeus sugerem um afastamento dessa abordagem mais rigorosa, deixando o Brasil em uma posição potencialmente vulnerável.

O cenário atual contrasta com o papel pioneiro que a União Europeia vinha desempenhando na regulação da internet. O bloco implementou a Lei de Serviços Digitais (DSA) e a Lei de Mercados Digitais (DMA), que entraram em vigor em 2024 e 2023, respectivamente. Essas legislações serviram de inspiração para projetos de lei brasileiros, como os que tramitaram na Câmara sobre responsabilidade das big techs, o de inteligência artificial aprovado no Senado e o texto antitruste em discussão no Ministério da Fazenda. Contudo, as multas bilionárias aplicadas a empresas como Meta, Apple, X (antigo Twitter), Google e Microsoft, decorrentes das leis europeias, bem como a regulação de inteligência artificial em implementação no bloco, têm enfrentado protestos de empresários e autoridades dos Estados Unidos. O presidente Trump chegou a afirmar que essas multas representam uma forma de “tributação” sobre as big techs americanas, aumentando a pressão sobre a UE.

As evidências do recuo europeu são múltiplas e preocupantes para o Brasil. A UE anunciou recentemente a suspensão da Diretiva de Regime de Responsabilidade de IA e indicou que o código de conduta em IA, previsto para abril, terá regras simplificadas. Além disso, na conclusão da reunião do Diálogo Digital Brasil-UE em Bruxelas, o bloco europeu mostrou-se relutante em assumir compromissos mais ambiciosos relacionados à cooperação na formulação e aplicação de regras sobre as empresas de tecnologia e impostos sobre as big techs. Essa postura mais cautelosa da UE é vista com apreensão por integrantes do governo brasileiro, que consideram crucial somar esforços internacionais na estratégia de regular as big techs. A percepção é de que é necessário ter uma massa crítica de mercado para aumentar o poder de barganha em negociações com essas empresas. Com a Rússia e a China, parceiras do Brasil nos BRICS, adotando regimes autocráticos que bloqueiam plataformas de internet, e com sinais de que UE e Reino Unido darão mais ênfase à inovação do que à segurança, o Brasil corre o risco de se ver isolado em sua iniciativa regulatória.

O cenário que se desenha é complexo e desafiador para o Brasil. Se o país se mantiver sozinho na iniciativa de regular as big techs, poderá ficar mais vulnerável à pressão dessas empresas e a críticas de que estaria indo contra a corrente global, potencialmente inibindo investimentos. Autoridades da UE negam que o recuo seja uma reação às pressões de Trump, mas admitem uma reorientação nas políticas. Henna Virkkunen, vice-presidente da Comissão Europeia para soberania digital, afirmou que “a UE está reduzindo a regulamentação para estimular investimentos em inteligência artificial, não por pressão das grandes empresas de tecnologia dos EUA e do governo Trump”. Essa mudança de rumo na Europa pode forçar o Brasil a reavaliar sua estratégia de regulação das big techs, buscando um equilíbrio entre a proteção dos interesses nacionais e a necessidade de manter-se atrativo para investimentos e inovações no setor tecnológico. O desafio será encontrar uma abordagem que permita ao país exercer algum controle sobre as gigantes da tecnologia sem ficar isolado no cenário internacional.

Perspectivas e desafios para a regulação tecnológica no Brasil

Diante desse cenário de incertezas, o Brasil enfrenta o desafio de calibrar sua abordagem regulatória para o setor tecnológico. Será crucial para o país manter-se atento às tendências globais e buscar alianças estratégicas que permitam avançar na regulação das big techs sem comprometer sua competitividade econômica. A evolução desse quadro terá impactos significativos não apenas na política externa brasileira, mas também no desenvolvimento do setor de tecnologia nacional e na proteção dos direitos digitais dos cidadãos brasileiros.