Brasil registra 2,4 milhões de pessoas com diagnóstico de autismo em primeiro censo oficial

Brasil identifica 2,4 milhões de pessoas com diagnóstico de autismo em primeiro levantamento oficial.
Censo 2022 revela dados inéditos sobre prevalência do TEA no país.
O Brasil registra oficialmente 2,4 milhões de pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o que representa 1,2% da população nacional, segundo dados do Censo Demográfico 2022 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na sexta-feira, 23 de maio de 2025. Este é o primeiro levantamento oficial sobre autismo realizado no país, marcando um momento histórico para compreensão da prevalência desta condição na população brasileira. A pesquisa revelou que o diagnóstico é mais comum entre homens, que somam 1,4 milhão de casos (1,5% da população masculina), enquanto as mulheres representam 1 milhão dos casos (0,9% da população feminina). Entre os grupos etários analisados, a faixa de 5 a 9 anos apresentou a maior prevalência, com 2,6% das crianças nessa idade tendo recebido diagnóstico de TEA por algum profissional de saúde. Os dados fazem parte do relatório “Censo Demográfico 2022: Pessoas com Deficiência e Pessoas Diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista – Resultados preliminares da amostra”, que traz pela primeira vez na história do país uma contagem oficial desta população.
Especialistas apontam que o número real de pessoas com TEA no Brasil deve ser ainda maior do que o verificado pelo Censo, considerando os desafios relacionados ao subdiagnóstico, especialmente em camadas mais vulneráveis da população que têm menor acesso a serviços de saúde especializados. A Organização Mundial de Saúde caracteriza o transtorno do espectro autista por “déficits persistentes na habilidade de iniciar e manter interações sociais e comunicação social recíprocas, e por uma gama de padrões de comportamento, interesses ou atividades restritos, repetitivos e inflexíveis” que são “atípicos ou excessivos para a idade e o contexto sociocultural do indivíduo”. Embora o transtorno geralmente se manifeste na primeira infância (fase de zero a seis anos), durante o período do desenvolvimento, os sintomas podem não se manifestar plenamente até mais tarde, o que também contribui para o diagnóstico tardio em muitos casos. Este primeiro levantamento oficial contrasta com estimativas anteriores baseadas em dados internacionais, como o relatório do CDC (Centers for Diseases Control and Prevention) dos Estados Unidos, que apontava uma proporção de 1 em cada 36 crianças com diagnóstico de TEA aos 8 anos de idade, o que levaria a uma projeção de aproximadamente 5,6 milhões de pessoas com autismo no Brasil.
O aumento na identificação de casos de autismo também tem sido observado no ambiente escolar brasileiro. Dados do Censo Escolar 2023 mostram que o número de matrículas de alunos com TEA nas escolas do país cresceu 48% em apenas um ano, passando de 429 mil em 2022 para 636 mil em 2023. Considerando especificamente as matrículas em salas de aula comuns – ou seja, em contextos de educação inclusiva junto com alunos sem deficiência – o aumento foi ainda mais expressivo: 50%, saltando de 405.056 para 607.144 estudantes no mesmo período. Este crescimento acelerado reflete uma tendência global de aumento nos diagnósticos, atribuída principalmente a dois fatores: a maior capacidade diagnóstica das equipes de saúde e a crescente conscientização sobre a importância da identificação precoce. Para efeito de comparação histórica, o levantamento do CDC dos Estados Unidos mostrou que, se nos anos 1970 o número de diagnósticos de TEA estava na faixa de 1 para cada 10.000 crianças, em 1995 já havia aumentado para 1 em cada 1.000, chegando a 1 para cada 36 em 2023. Esta evolução demonstra não necessariamente um aumento na incidência do transtorno, mas sim uma melhoria significativa na capacidade de identificação e diagnóstico.
Os novos dados do Censo 2022 representam um marco importante para o planejamento de políticas públicas voltadas às pessoas com TEA no Brasil, fornecendo pela primeira vez uma base estatística oficial para dimensionar adequadamente os recursos necessários em áreas como saúde, educação e assistência social. O levantamento também revela que 760,8 mil estudantes com 6 anos ou mais diagnosticados com autismo frequentam instituições de ensino no país, o que corresponde a 1,7% do total de estudantes brasileiros nessa faixa etária. Este percentual evidencia os avanços na inclusão escolar, mas também aponta para a necessidade de continuar ampliando o acesso à educação para esta população. Para especialistas, a disponibilidade destes dados oficiais deve impulsionar o desenvolvimento de programas mais específicos e eficazes de apoio às pessoas com TEA e suas famílias, além de contribuir para reduzir o estigma e promover maior conscientização sobre o transtorno na sociedade brasileira. Espera-se que, a partir deste primeiro diagnóstico nacional, sejam estabelecidos mecanismos de monitoramento contínuo que permitam acompanhar a evolução dos indicadores e avaliar o impacto das políticas implementadas, garantindo avanços consistentes na qualidade de vida e na inclusão social das pessoas com autismo no país.
Dados inéditos abrem caminho para políticas públicas mais efetivas
O levantamento histórico realizado pelo IBGE, que pela primeira vez quantificou a população com diagnóstico de autismo no Brasil, representa um passo fundamental para a visibilidade desta condição e para o desenvolvimento de estratégias nacionais mais precisas de atendimento e suporte. Com 2,4 milhões de brasileiros oficialmente diagnosticados com TEA, o país agora dispõe de um panorama estatístico que permitirá direcionar recursos e esforços de maneira mais eficiente, contribuindo para a construção de uma sociedade mais inclusiva e preparada para atender às necessidades específicas desta parcela significativa da população.