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Taxa de fertilidade atual é insuficiente para evitar colapso populacional

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Estudo revela que humanidade precisa de 2,7 filhos por mulher para sobrevivência a longo prazo.

Um novo estudo publicado na revista científica PLOS One revelou que as atuais taxas de fertilidade global podem não ser suficientes para garantir a sobrevivência da humanidade a longo prazo. A pesquisa, liderada por Takuya Okabe da Universidade de Shizuoka e outros cientistas, sugere que o número de 2,1 filhos por mulher, amplamente aceito como taxa de reposição populacional, está abaixo do necessário para evitar um eventual colapso demográfico. Segundo os pesquisadores, o valor mais realista seria de 2,7 filhos por mulher, considerando fatores imprevisíveis que moldam as populações no mundo real. Esta descoberta surge em um momento crítico, quando a taxa de fertilidade global já caiu drasticamente de 5,3 na década de 1960 para apenas 2,3 em 2023, com projeções indicando quedas ainda mais acentuadas nas próximas décadas. A análise dos padrões históricos de população sugere que, se mantidas as tendências atuais, poderemos enfrentar um declínio populacional sem precedentes em escala global.

A preocupação com o declínio das taxas de natalidade representa uma completa inversão do paradigma dominante durante o século XX, quando os esforços globais se concentravam em reduzir a fertilidade para conter a superpopulação. Programas de planejamento familiar, acesso a métodos contraceptivos e mudanças nas normas sociais contribuíram significativamente para essa redução. No entanto, o estudo recentemente publicado aponta para um paradoxo demográfico: em vez de um futuro superpovoado, cientistas agora alertam para um potencial colapso populacional devido à escassez de nascimentos. A taxa de reposição tradicionalmente aceita de 2,1 filhos por mulher pressupõe um mundo estável, com baixa mortalidade infantil, números iguais de meninos e meninas, e populações grandes e constantes. Estas suposições funcionam em modelos teóricos limpos, mas a realidade é muito mais complexa e imprevisível. As pessoas nem sempre têm dois filhos – algumas não têm nenhum, outras morrem antes de se reproduzir, e em populações pequenas, tais variações aleatórias – chamadas de estocasticidade demográfica – podem eliminar linhagens familiares inteiras, acelerando o declínio populacional.

As projeções demográficas apresentadas em um relatório da revista The Lancet indicam que, até 2050, mais de três quartos dos países (155 de 204) não terão taxas de fertilidade suficientemente altas para manter o tamanho da população ao longo do tempo. Este número deve aumentar para 97% dos países (198 de 204) até 2100, transformando radicalmente a estrutura etária global de pirâmides para obeliscos, à medida que o número de idosos cresce e o de jovens diminui. Segundo análises da McKinsey, dois terços da humanidade já vivem em países com fertilidade abaixo da taxa de reposição de 2,1 filhos por família. As consequências econômicas desse fenômeno são profundas: nos países da primeira onda dessa transição demográfica, que inclui economias avançadas e a China, o crescimento do PIB per capita poderá desacelerar em 0,4% ao ano, em média, de 2023 a 2050, chegando a 0,8% em alguns países, a menos que o crescimento da produtividade aumente de duas a quatro vezes ou as pessoas trabalhem de uma a cinco horas a mais por semana. Os sistemas de aposentadoria podem precisar canalizar até 50% da renda do trabalho para financiar um aumento de 1,5 vez na lacuna entre o consumo agregado e a renda dos idosos, transferindo um fardo sem precedentes para as gerações mais jovens.

Especialistas apontam soluções potenciais para enfrentar este desafio demográfico, que variam de acordo com o contexto socioeconômico de cada região. Em ambientes de baixa renda com taxas de fertilidade mais altas, como na África Subsaariana, melhor acesso a contraceptivos e educação feminina podem ajudar a reduzir as taxas de natalidade para níveis mais sustentáveis. Por exemplo, projeções estimam que atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para educação feminina universal ou necessidade não atendida de contraceptivos modernos até 2030 resultaria em taxas de fertilidade de 2,3 nascimentos por mulher em 2050, comparado com cerca de 2,7 nascimentos se essas metas não forem cumpridas. Por outro lado, em economias de alta renda com baixa fertilidade, políticas que apoiem os pais e promovam imigração ética e eficaz serão vitais para manter o tamanho da população e o crescimento econômico. Sem ação decisiva, as pessoas mais jovens herdarão menor crescimento econômico e arcarão com o custo de mais aposentados, enquanto o fluxo tradicional de riqueza entre gerações se erode. As práticas de trabalho de longa data e o contrato social precisarão mudar fundamentalmente. Em última análise, os países precisarão aumentar as taxas de fertilidade para evitar o despovoamento – uma mudança social sem precedentes na história moderna que exigirá repensar fundamentalmente nossas estruturas sociais, econômicas e de suporte familiar.

Mudança demográfica força repensar modelos econômicos e sociais

Ao confrontar as consequências das mudanças demográficas, as sociedades entram em águas desconhecidas que exigirão adaptações profundas em seus modelos econômicos, sistemas de aposentadoria e estruturas familiares. A inversão da tendência de fertilidade representa um dos maiores desafios do século XXI, comparável em escala e importância às mudanças climáticas, e demandará respostas coordenadas tanto em nível nacional quanto global para garantir um futuro demográfico sustentável para as próximas gerações.