Brasil e China firmam acordo para compartilhar informações sobre pragas e doenças em alimentos

Novo protocolo visa reduzir riscos sanitários e evitar entraves comerciais.
O Brasil e a China estabeleceram um importante memorando de entendimento na terça-feira (13) em Pequim, que permitirá aos dois países compartilhar informações sobre pragas, doenças e resíduos tóxicos encontrados em alimentos de origem animal e vegetal que são exportados ou importados entre as nações. A medida representa um avanço significativo nas relações comerciais entre os dois gigantes do comércio global de alimentos, especialmente em um momento em que o Brasil consolida sua posição como principal fornecedor de commodities agrícolas para o mercado chinês. O acordo visa principalmente reduzir os riscos sanitários que frequentemente têm causado embargos e suspensões temporárias de produtos brasileiros, criando um canal de comunicação mais direto e eficiente entre as autoridades sanitárias dos dois países. Esta troca “tempestiva” de informações permitirá que ambos os lados estejam cientes de irregularidades encontradas em produtos inspecionados, possibilitando ações corretivas mais rápidas e evitando surpresas desagradáveis no comércio bilateral que atualmente representa um dos principais fluxos comerciais de produtos agropecuários do mundo.
Atualmente, um dos principais entraves às exportações brasileiras de alimentos para a China são justamente os embargos impostos pelo país asiático devido à detecção de contaminação por agrotóxicos ou outras irregularidades sanitárias. Esta situação já afetou diversos produtos brasileiros como carnes, soja e frango, causando prejuízos significativos ao agronegócio nacional. Um exemplo recente ocorreu em março deste ano, quando as autoridades chinesas suspenderam a compra de carne bovina de três frigoríficos brasileiros, alegando que os estabelecimentos não cumpriram todos os requisitos sanitários exigidos pelo país. Em janeiro de 2025, a China também suspendeu a importação de soja de cinco empresas brasileiras, incluindo gigantes como Cargill Agrícola SA e ADM do Brasil, após detectar pestes e revestimento de pesticidas nos grãos. Estas suspensões têm impacto profundo no comércio bilateral, considerando que a China é responsável pela compra de dois terços de toda a soja produzida no Brasil e representa um mercado crucial para as carnes brasileiras. Economistas e especialistas em comércio internacional têm alertado que estas suspensões funcionam como “um alerta ao agronegócio brasileiro” sobre a necessidade de aprimorar os controles de qualidade e revisar práticas relacionadas ao uso de agrotóxicos.
O protocolo firmado entre os dois países prevê um amplo leque de informações a serem compartilhadas, incluindo laudos laboratoriais, certificados sanitários, descrição detalhada das pragas ou agentes contaminantes identificados, origem precisa da produção e até mesmo informações específicas listadas nas embalagens dos produtos. Este nível de detalhamento visa acelerar significativamente a comunicação técnica entre Brasil e China diante de qualquer irregularidade detectada em carne, grãos, frutas ou outros produtos agropecuários, permitindo que as autoridades brasileiras tomem medidas corretivas antes que as situações escalem para embargos completos. O acordo chega em um momento particularmente favorável para o Brasil no comércio com a China, já que o país tem sido um dos grandes beneficiados pela atual guerra comercial entre Estados Unidos e China. Dados recentes mostram que as exportações de soja brasileira para o mercado chinês devem crescer mais de 4% em 2025 em comparação com o ano anterior, impulsionadas pela nova rodada de tarifas entre os gigantes econômicos. Apenas no mês de abril, 40 navios provenientes do Brasil atracaram no porto de Ningbo-Zhoushan, representando um aumento de 48% em relação ao mesmo período do ano passado e um crescimento de 32% no volume de soja. Enquanto isso, na semana encerrada em 17 de abril, a China adquiriu apenas 1,8 mil toneladas de soja dos EUA, número significativamente inferior às 72,8 mil toneladas registradas na semana anterior.
As perspectivas para o futuro das relações comerciais entre Brasil e China no setor agropecuário parecem promissoras com a implementação deste novo acordo, que deverá entrar em vigor imediatamente. Especialistas do setor avaliam que a melhoria na comunicação entre as autoridades sanitárias dos dois países poderá reduzir significativamente as suspensões temporárias e os embargos que têm prejudicado exportadores brasileiros nos últimos anos. Contudo, o sucesso deste protocolo dependerá fundamentalmente da capacidade do agronegócio brasileiro em se adaptar às rigorosas exigências sanitárias chinesas, particularmente no que diz respeito ao uso de agrotóxicos e ao controle de pragas. A China, como maior consumidor de soja do mundo, concentrando mais de 60% do comércio mundial do grão, e mercado crucial para as carnes brasileiras, continuará exercendo forte influência sobre as práticas agrícolas e os controles de qualidade implementados no Brasil. Os dados da Administração Geral das Alfândegas chinesa mostram que as importações totais de soja da China em 2024 ultrapassaram os 100 milhões de toneladas, representando um aumento de 6,5% em relação a 2023, com a soja brasileira respondendo por 54% desse total. Esse cenário, combinado com a atual guerra comercial entre EUA e China, coloca o Brasil em posição privilegiada, mas também exige maior responsabilidade e eficiência no controle sanitário de seus produtos agropecuários para manter e expandir sua participação no mercado chinês nos próximos anos.
Acordo representa avanço nas relações comerciais agrícolas
O memorando de entendimento assinado entre Brasil e China representa um marco importante nas relações comerciais entre os dois países, especialmente considerando a crescente importância do mercado chinês para os produtos agropecuários brasileiros. A implementação bem-sucedida deste protocolo poderá não apenas reduzir os entraves sanitários que frequentemente afetam as exportações brasileiras, mas também fortalecer a posição do Brasil como principal fornecedor de alimentos para a China em um contexto de acirramento das tensões comerciais globais. O desafio agora será traduzir este acordo em melhorias concretas nos processos de controle sanitário e na qualidade dos produtos brasileiros, garantindo que atendam plenamente às exigências do mercado chinês e evitando novos embargos que possam comprometer o fluxo comercial entre as duas nações.