“Só tem favelado”: MP investiga aluno que zombou de colegas em faculdade do DF

Gravação feita em ambiente universitário causa indignação.
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) investiga as falas preconceituosas registradas em vídeo por um aluno de uma faculdade particular do Distrito Federal. Na gravação, que viralizou nas redes sociais em abril de 2025, o aluno faz comentários discriminatórios sobre outros estudantes, incluindo a frase “só tem favelado” ao se referirem aos colegas. O caso ganhou repercussão nacional após ser compartilhado em diversas plataformas digitais, gerando indignação entre estudantes, professores e entidades estudantis. O aluno investigado é Leonardo Avila, estudante do curso de administração no Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) e filho de Leonardo Oliveira de Ávila, presidente do Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico do DF (Codese-DF). Ele é influenciador digital e postou as declarações em uma rede social na qual acumula quase 234 mil seguidores e milhões de visualizações.
Relembre
“É porque o povo, pelo menos na minha faculdade, não é só pobre de dinheiro, é pobre de tudo, entendeu? O povo ainda fala: ‘Nossa, Léo, mas a sua faculdade é cara’. É cara, mas qualquer um arruma um jeito de pagar aqui, porque só tem favelado”, riu.
Leonardo finaliza o vídeo dizendo que tem receio de trocar de instituição e acabar se arrependendo outra vez. “Vocês já passaram por isso?”, questiona o estudante.
O vídeo foi amplamente compartilhado entre alunos da instituição, que demonstraram indignação com as falas. “Vejam esse vídeo. É assim que alguns enxergam os colegas de faculdade: como ‘favelados’, só porque são bolsistas ou não têm grana”, escreveu um estudante.
Retratação
Dias depois, o influenciador postou um vídeo intitulado “posicionamento sobre vídeo na universidade”. Na publicação, Leonardo aparece sorridente, declarando a intenção de se redimir por ter usado “palavras equívocas”.
“Eu falei alguns termos como se o pessoal da minha faculdade e do meu convívio tivesse uma condição financeira ruim, e algumas pessoas se afetam muito quanto a isso, mas, no fim das contas, a gente não deve se importar com a condição financeira dos demais. A gente deve, sim, se importar com o que a pessoa é por dentro”, declarou.
Posicionamento
Diante dos vídeos, o IDP informou que, assim que tomou conhecimento do caso, instaurou um comitê disciplinar para apurar a conduta do aluno, que cursa administração no campus da Asa Norte. O estudante terá direito de apresentar sua defesa dentro do prazo estabelecido.
A instituição possui um regulamento interno que proíbe ofensas, comentários difamatórios e condutas ofensivas contra membros do corpo docente e discente. Após análise do caso por uma comissão de professores, o IDP decidirá qual medida disciplinar será aplicada — que pode incluir advertência, suspensão ou até expulsão.
“O episódio é triste e não representa a visão institucional. O IDP repudia toda forma de preconceito. Temos medidas ativas de diversidade para o corpo docente e discente. Temos orgulho dos nossos bolsistas. E trabalhamos duro, todos os dias, por um país mais inclusivo”, disse Atalá Correia, diretor acadêmico da graduação do IDP.
Em nota pública, o IDP escreveu que “reafirma seu compromisso com o respeito, a inclusão e a dignidade de todos os membros da sua comunidade acadêmica. A instituição repudia, de forma categórica, qualquer conduta discriminatória e informa que as medidas cabíveis estão sendo adotadas com a devida responsabilidade”. O aluno foi formalmente notificado sobre a abertura do processo administrativo.
Caso reacende debate sobre elitismo nos cursos
O episódio ocorrido em Brasília não é um caso isolado no cenário educacional brasileiro. Nos últimos anos, diversas denúncias de discriminação em ambientes universitários têm vindo à tona, evidenciando a necessidade de políticas mais efetivas de inclusão e respeito à diversidade. Especialistas apontam que a democratização do acesso ao ensino superior, principalmente em cursos de maior prestígio social, ainda enfrenta resistências culturais significativas que precisam ser superadas através de ações educativas contínuas e mudanças institucionais profundas.