Trump encerra isenção tarifária para pequenas encomendas da China e Hong Kong: ‘Taxa das blusinhas chega aos EUA’

Medida afeta gigantes do comércio eletrônico como Shein e Temu.
O governo dos Estados Unidos eliminou nesta sexta-feira, 2 de maio de 2025, a isenção de direitos aduaneiros sobre pequenas encomendas vindas da China e Hong Kong, afetando diretamente gigantes do comércio eletrônico como Shein e Temu. A decisão implementada pelo presidente Donald Trump vem no seguimento de uma ordem executiva assinada em 2 de abril, que põe fim à isenção para encomendas no valor máximo de 800 dólares (aproximadamente 707 euros). A partir de agora, estas encomendas passam a estar sujeitas a uma tarifa de 30% do seu valor ou de 25 dólares (22 euros) por item, com um aumento previsto para 50 dólares (44 euros) por item a partir de 1 de junho. A medida visa combater o que Washington definiu como “uma emergência sanitária representada pelo fluxo ilícito de opióides sintéticos” provenientes da China, além de responder ao crescimento exponencial no volume de pequenas encomendas que entram nos Estados Unidos, sobrecarregando as autoridades alfandegárias e criando preocupações sobre concorrência desleal para empresas americanas.
Este fim da isenção tarifária marca uma mudança significativa na política comercial americana, especialmente considerando que os Estados Unidos receberam mais de 1,3 bilhão de encomendas deste tipo em 2024, representando um crescimento impressionante em relação aos 139 milhões processados uma década antes, em 2015. De acordo com dados da Casa Branca divulgados no início de abril, a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos processa atualmente uma média de mais de quatro milhões destas encomendas por dia. A chamada exceção “de minimis”, termo em latim que significa “sobre coisas mínimas”, existia na lei aduaneira dos EUA desde 1938 e foi originalmente criada para evitar burocracia dispendiosa relacionada a remessas de baixo valor. O limite de valor permaneceu em apenas 1 dólar por décadas antes de subir incrementalmente até atingir 800 dólares durante o governo Obama em 2016. Este limiar, considerado incomumente alto em comparação com as normas internacionais (aproximadamente 40 dólares no Canadá e 150 dólares na União Europeia), abriu portas para o crescimento explosivo das importações de pequenas encomendas diretamente da China para consumidores americanos, permitindo que varejistas chineses enviassem mercadorias diretamente de seus centros de fabricação, ignorando os hubs de distribuição tradicionais e as tarifas associadas.
Em resposta à decisão americana, Hong Kong anunciou medidas drásticas que afetarão diretamente o comércio postal entre as duas regiões. O Hongkong Post, serviço postal da cidade semiautônoma chinesa, declarou que deixará de lidar com pacotes vindos ou destinados aos Estados Unidos, classificando a medida americana como “irracional e intimidadora”. Segundo comunicado oficial emitido em 15 de abril, o serviço postal suspendeu a aceitação de pacotes transportados por via marítima com efeito imediato e deixará de aceitar pacotes transportados por via aérea a partir de 27 de abril. Esta retaliação significa que empresas e indivíduos em Hong Kong terão que recorrer a transportadoras privadas como DHL, FedEx e UPS para enviar encomendas aos Estados Unidos, o que aumentará ainda mais os custos para os consumidores, além das novas tarifas americanas. A situação tomou contornos políticos quando, em 15 de abril, o principal responsável do Partido Comunista Chinês para os assuntos de Hong Kong e Macau, juntamente com os líderes dos governos das duas regiões semiautônomas, acusaram os Estados Unidos de impor tarifas com o objetivo de sabotar a China. Em declaração oficial, o governo de Hong Kong afirmou: “Para o envio de artigos para os EUA, o público de Hong Kong deve estar preparado para pagar taxas exorbitantes e irrazoáveis devido aos atos irrazoáveis e agressivos dos EUA”, ressaltando que apenas os envios postais contendo documentos, sem mercadorias, não serão afetados pela medida.
As consequências econômicas desta decisão deverão ser sentidas em múltiplas frentes, afetando tanto consumidores americanos quanto empresas chinesas de comércio eletrônico. Para os consumidores dos Estados Unidos, o fim da isenção significa que produtos anteriormente acessíveis a preços baixos através de plataformas como Shein, Temu e AliExpress terão seus custos significativamente aumentados. Estas empresas, que construíram seus modelos de negócio enviando mercadorias diretamente de centros de fabricação na China para consumidores americanos a velocidades e preços que os varejistas tradicionais americanos lutavam para igualar, agora enfrentam um desafio existencial para manter sua competitividade no mercado americano. A medida também representa um novo capítulo na crescente guerra comercial entre Estados Unidos e China, com potencial para novas retaliações e escalada de tensões comerciais. Especialistas em comércio internacional apontam que, embora a justificativa oficial americana envolva preocupações com segurança e saúde pública relacionadas ao tráfico de opióides, a medida também serve a interesses econômicos domésticos, protegendo empresas americanas da concorrência chinesa de baixo custo. À medida que esta nova política tarifária se desenrola, permanece incerto como as empresas de comércio eletrônico chinesas se adaptarão e qual será o impacto final nos padrões de comércio global e nas relações sino-americanas, especialmente considerando o histórico de disputas comerciais entre as duas maiores economias do mundo durante administrações anteriores de Donald Trump.
Impacto global e perspectivas futuras
A decisão americana de eliminar isenções tarifárias para pequenas encomendas da China e Hong Kong representa um marco significativo nas relações comerciais internacionais, com potencial para remodelar padrões globais de comércio eletrônico. Analistas econômicos preveem que empresas como Shein e Temu podem recorrer a estratégias alternativas, incluindo o estabelecimento de centros de distribuição em países não afetados pelas novas tarifas ou a absorção parcial dos custos para manter sua competitividade. Para os consumidores americanos, esta mudança provavelmente resultará em preços mais elevados para produtos anteriormente acessíveis, enquanto para o setor de varejo doméstico dos EUA, a medida pode oferecer um alívio competitivo necessário. À medida que as tensões comerciais entre Estados Unidos e China continuam a evoluir, esta nova política tarifária serve como um lembrete da complexidade e volatilidade das relações econômicas entre as duas potências globais, com implicações que se estendem muito além das fronteiras de ambos os países.