Acordo Mercosul-UE avança diante de tarifas dos EUA

Aumento de tarifas nos EUA traz novas oportunidades.
A recente decisão do presidente norte-americano Donald Trump de implementar um novo pacote de tarifas sobre bens importados está mexendo com o comércio global e pode acelerar as negociações entre o Mercosul e a União Europeia. Segundo Jorge Viana, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), essa medida tem o potencial de impulsionar a validação do acordo comercial que já está em negociação há tempos entre os dois blocos. Durante coletiva de imprensa realizada no dia 3 de abril, Viana destacou que, embora as tarifas criem desafios significativos para países exportadores, também abrem portas para movimentos estratégicos que podem beneficiar o Brasil e seus parceiros regionais. Em especial, os 10% de sobretaxa aplicados aos produtos brasileiros representam, ao mesmo tempo, um obstáculo e uma oportunidade de reconfigurar laços comerciais no cenário internacional.
O tarifaço anunciado pelo governo dos EUA provocou respostas imediatas, incluindo declarações de líderes da UE que expressaram interesse em acelerar as negociações com o Mercosul. Essa postura reflete uma tentativa de mitigar os impactos negativos das políticas protecionistas dos EUA enquanto fortalece os laços econômicos com a América do Sul. Analistas apontam que o Brasil tem uma oportunidade ímpar de diversificar sua pauta de exportações, além de atrair investimentos em setores estratégicos. Apesar disso, Viana alerta para os riscos de um ambiente comercial global mais instável, destacando que um mundo com menos cooperação econômica é prejudicial para todos os atores envolvidos.
Impactos e perspectivas do acordo Mercosul-UE
O impacto das tarifas americanas não se limita ao aumento de custos para exportadores. Elas incentivam a busca por alternativas comerciais, como a intensificação de relações entre o Mercosul e a União Europeia. Para especialistas, essa conjuntura pode acelerar a aprovação do tão discutido acordo entre os dois blocos, que promete benefícios tanto para a balança comercial quanto para o setor de serviços.
O ministro francês das Finanças, Éric Lombard, disse que, diante da ameaça americana de tarifaços, é preciso “apressar” as discussões sobre o acordo comercial entre União Europeia e o Mercosul. Foi um raro aceno à possibilidade de mudança da atual posição francesa de oposição ao tratado.
“Nós reconhecemos juntos que essa dificuldade, que corre o risco de atingir o comércio internacional, deve nos conduzir a apressar as discussões em favor do [acordo com o] Mercosul”, afirmou Lombard após encontro com o ministro brasileiro da Fazenda, Fernando Haddad. O ministro das Finanças reiterou, porém, que a França mantém sua oposição ao acordo.
Segundo Lombard, “hoje as condições não estão reunidas” para a França apoiar o acordo. “Compartilhamos com o ministro Haddad o desejo de desenvolver o multilateralismo, e o projeto de acordo com o Mercosul está incluído nisso. Falamos de forma muito direta. Para concluir, falta-nos um certo número de ajustes, que dizem respeito principalmente a questões de pegada ecológica na área industrial, e também temas relativos à agricultura”, afirmou.
“Nós identificamos algumas pendências, alguns obstáculos ainda”, disse Haddad, citando novo encontro entre os dois países previsto para o mês que vem na França. “Vamos trabalhar neste mês para que essas questões sejam superadas e nós possamos ter um grande encontro.”
O acordo comercial entre União Europeia e Mercosul foi assinado pelos dois blocos em dezembro passado, em Montevidéu, no Uruguai, mas sua entrada em vigor ainda depende da aprovação de outras instâncias da União Europeia.
O governo francês declarou ser contra o acordo, devido à pressão dos agricultores locais, receosos da concorrência dos produtos do Mercosul. Em princípio, para vetar o tratado a França precisa do apoio de pelo menos outros três países da União Europeia, mas Paris dispõe de alternativas para impedir sua entrada em vigor.
Com os recentes anúncios de imposição de tarifas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o acordo UE-Mercosul ganhou outro valor de reação “multilateral” a uma guerra comercial. “É uma questão que chegou mais recentemente”, admitiu Lombard.
Sobre as tarifas de Trump, Haddad disse acreditar que se conhecerão melhor as intenções americanas. “A partir de quinta-feira (3), nós vamos ter um quadro mais claro do que os EUA pretendem, mas o presidente Lula já adiantou que quando a nação mais rica do mundo adota políticas protecionistas, parece não concorrer à prosperidade geral”, afirmou.
Brasil se adapta a um cenário comercial em transformação
Apesar da complexidade do cenário atual, o Brasil demonstra resiliência e articula ações que podem garantir sua relevância no comércio internacional. As medidas anunciadas por Trump, embora disruptivas, também incentivaram uma reavaliação das estratégias comerciais brasileiras. Investimentos em inovação, ampliação de mercados e diversificação das exportações são destacados como passos essenciais para enfrentar a volatilidade imposta pelas novas tarifas. Jorge Viana enfatizou que, embora o momento atual apresente desafios, ele também representa uma oportunidade de posicionar o Brasil como um player estratégico no comércio global.
Com a intensificação das negociações entre o Mercosul e a União Europeia, espera-se que o Brasil obtenha avanços significativos em áreas como indústria, tecnologia e serviços. A aprovação final do acordo promete trazer benefícios de longo prazo, aumentando a competitividade regional e fortalecendo o papel do Brasil como articulador de parcerias comerciais estratégicas. Contudo, especialistas alertam que o sucesso dessa empreitada depende de uma implementação cuidadosa e de um planejamento robusto que contemple os interesses de diferentes setores da sociedade. Em um mundo cada vez mais marcado por tensões comerciais, o Brasil busca transformar desafios em oportunidades de crescimento sustentável.