Portal Rádio London

Seu portal de músicas e notícias

Universalização do saneamento pode reduzir drasticamente internações no SUS

Compartilhar:

Acesso a água e esgoto impactaria positivamente saúde pública.

A precariedade do saneamento básico no Brasil continua afetando de forma significativa a saúde, a educação e, consequentemente, a renda e o futuro de milhões de brasileiros. Doenças de veiculação hídrica, como diarreia, transmitidas por insetos, como dengue, ou causadas por higiene inadequada, como conjuntivite, não apenas afastam crianças das escolas e adultos do trabalho, mas também sobrecarregam o sistema de saúde de maneira alarmante. Em 2024, os hospitais da rede do SUS registraram um total de 344,4 mil internações causadas por doenças associadas ao saneamento ambiental inadequado, conforme revelado por um estudo recente divulgado pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a consultoria Ex Ante. Esses dados, baseados em informações do Datasus e do Ministério da Saúde, evidenciam a urgência de medidas efetivas para a universalização do acesso à água tratada e ao esgotamento sanitário no país.

Apesar do número absoluto alarmante de internações – que representa quase 950 hospitalizações por dia relacionadas à falta de saneamento – é importante notar que, desde 2008, os registros vêm apresentando uma redução média de 3,6% ao ano. Esta tendência de queda, embora positiva, ainda está longe de ser satisfatória, considerando o impacto devastador que essas doenças têm sobre a população, especialmente entre os mais vulneráveis. O estudo do Instituto Trata Brasil aponta para um cenário promissor: a implementação do abastecimento de água e da coleta e tratamento de esgoto para as pessoas atualmente sem acesso a esses serviços essenciais poderia resultar em uma redução drástica de 69,1% na taxa de internações por Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI) em apenas 36 meses. Esta projeção não apenas destaca o potencial de melhoria na saúde pública, mas também evidencia o impacto econômico positivo que o investimento em saneamento básico poderia ter, aliviando a pressão sobre o sistema de saúde e reduzindo os gastos públicos com tratamentos de doenças evitáveis.

O estudo revela ainda que a maior parte dos casos de internações (49%) está relacionada a infecções propagadas por insetos, com destaque para a dengue. Em segundo lugar, representando 47% dos casos, estão as doenças de transmissão feco-oral, como hepatite A, diarreias e cólera. Estes dados sublinham a importância crítica do saneamento básico não apenas como uma questão de infraestrutura, mas como um pilar fundamental da saúde pública. Além do impacto direto na saúde, o saneamento inadequado tem ramificações socioeconômicas profundas. O estudo estima que a universalização do saneamento poderia evitar anualmente 14,4 milhões de casos de afastamento, com uma média de 4,6 dias de ausência na escola ou no trabalho por episódio. Este cenário afeta desproporcionalmente as mulheres, que muitas vezes são forçadas a faltar ao trabalho para cuidar de familiares doentes, limitando seu acesso à renda e perpetuando ciclos de pobreza. Eduardo Caetano, coordenador-executivo do Instituto Água e Saneamento, ressalta que a criança doente em casa frequentemente demanda que a mãe falte ao trabalho, criando um efeito cascata de problemas socioeconômicos.

As perspectivas para o futuro, caso o Brasil consiga avançar significativamente na universalização do saneamento básico, são promissoras. Luana Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, destaca que o pleno acesso ao saneamento poderia tirar 17 milhões de mulheres da zona de pobreza, uma vez que muitas atualmente não conseguem trabalhar fora por assumirem o cuidado quando alguém fica doente na família. Este dado ressalta a interconexão entre saneamento, saúde pública e desenvolvimento econômico. Além disso, o estudo enfatiza que os casos mais graves das DRSAI ocorrem justamente nos grupos que mais exigem cuidado na família: crianças de até quatro anos e idosos, que juntos respondem por 43,5% das internações. A redução dessas internações não apenas melhoraria a qualidade de vida dessas populações vulneráveis, mas também aliviaria significativamente a carga sobre o sistema de saúde, permitindo uma melhor alocação de recursos. Em conclusão, a universalização do saneamento básico no Brasil se apresenta não apenas como uma necessidade de saúde pública, mas como um investimento crucial para o desenvolvimento socioeconômico do país, com potencial para transformar vidas, reduzir desigualdades e impulsionar o progresso nacional.

Investimento em saneamento como chave para o desenvolvimento

A implementação efetiva de políticas de saneamento básico se mostra como um dos caminhos mais promissores para o desenvolvimento sustentável do Brasil. Ao reduzir drasticamente as internações hospitalares, diminuir o absenteísmo escolar e laboral, e promover a inclusão econômica de milhões de brasileiros, especialmente mulheres, o investimento em saneamento se revela como uma estratégia multifacetada capaz de abordar simultaneamente questões de saúde, educação e economia. O desafio agora é traduzir esses dados e projeções em ações concretas, mobilizando recursos e vontade política para transformar a realidade sanitária do país. O futuro do Brasil depende, em grande medida, da capacidade de seus líderes e da sociedade como um todo de reconhecer o saneamento básico não apenas como um direito fundamental, mas como um pilar essencial para o progresso nacional e o bem-estar de todos os cidadãos.