El Salvador recebe centenas de membros de gangue venezuelana deportados dos EUA

Governo salvadorenho detém supostos integrantes do Tren de Aragua em prisão de segurança máxima.
El Salvador recebeu domingo (16) 238 supostos membros do grupo criminoso venezuelano ‘Tren de Aragua’ enviados pelos Estados Unidos para que cumpram pena em uma prisão de segurança máxima. O presidente salvadorenho Nayib Bukele anunciou a chegada dos deportados em suas redes sociais, informando que eles foram imediatamente transferidos para o Centro de Confinamento de Terroristas (CECOT). A medida faz parte de um acordo entre os dois países, após o governo americano incluir o Tren de Aragua em sua lista de organizações terroristas no mês passado. A deportação ocorreu depois que o presidente Donald Trump invocou uma antiga lei de guerra para expulsar migrantes, em uma decisão que gerou controvérsia e foi contestada por um juiz federal.
O Tren de Aragua é considerado uma das organizações criminosas mais perigosas da América Latina, com atuação em diversos países da região. Originário da Venezuela, o grupo expandiu suas operações para países vizinhos nos últimos anos, envolvendo-se em atividades como tráfico de drogas, extorsão, sequestros e assassinatos. A decisão dos Estados Unidos de deportar seus supostos membros para El Salvador faz parte de uma estratégia mais ampla de combate ao crime organizado transnacional na região. O presidente Bukele, conhecido por sua política linha-dura contra as gangues, ofereceu-se para receber os prisioneiros durante uma reunião com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, no mês passado. O CECOT, inaugurado em 2023, é considerado a maior prisão da América Latina, com capacidade para 40 mil detentos, e foi criado como parte da “guerra” de Bukele contra as gangues.
A operação de deportação gerou polêmica nos Estados Unidos, onde um juiz federal chegou a suspender temporariamente a ordem de expulsão no sábado (15). No entanto, os prisioneiros já estavam no avião a caminho de El Salvador quando a decisão judicial foi emitida. O governo Trump justificou a medida invocando a Lei de Inimigos Estrangeiros, um texto que data de 1798 e que concede ao presidente amplos poderes em situações de guerra ou ameaça à segurança nacional. Além dos membros do Tren de Aragua, também foram deportados 23 integrantes da Mara Salvatrucha (MS-13), incluindo dois de seus líderes mais perigosos. A chegada dos deportados foi registrada em vídeos divulgados pelo governo salvadorenho, que mostram os prisioneiros sendo retirados dos aviões acorrentados e levados para ônibus que os transportaram até o CECOT. As imagens também mostram os detentos sendo submetidos a procedimentos de segurança, como a raspagem de seus cabelos, antes de serem encaminhados para suas celas.
A deportação em massa de supostos membros de gangues para El Salvador levanta questões sobre os direitos humanos e as implicações legais e diplomáticas dessa medida. Organizações de direitos humanos criticaram a decisão, argumentando que a estratégia de encarcelamento massivo do governo Bukele já resultou em detenções arbitrárias de milhares de pessoas inocentes. Por outro lado, defensores da medida argumentam que ela é necessária para combater o crime organizado transnacional e garantir a segurança regional. O acordo entre Estados Unidos e El Salvador para o recebimento desses prisioneiros também levanta questões sobre o papel dos países da América Central na política migratória e de segurança dos EUA. Enquanto outros países da região, como Guatemala, Panamá e Costa Rica, aceitaram servir como “ponte” para migrantes deportados, El Salvador é o único que está aceitando reclusos. O desdobramento dessa situação nos próximos meses poderá ter impactos significativos nas relações diplomáticas entre os países envolvidos e na forma como a região lida com o crime organizado e a migração irregular.
Impactos da deportação na segurança regional e relações diplomáticas
A deportação em massa de supostos membros de gangues para El Salvador representa um novo capítulo na guerra de Bukele contra o crime organizado, reforçando sua imagem de líder linha-dura. No entanto, essa medida também gera preocupações sobre o impacto no já sobrecarregado sistema penitenciário salvadorenho e nas relações bilaterais com os Estados Unidos. A forma como El Salvador lidará com esses novos detentos e os possíveis desdobramentos dessa operação serão observados de perto pela comunidade internacional nos próximos meses, podendo influenciar futuras políticas de segurança e migração na região.