Bolsonaro rejeita assistir ao filme “Ainda Estou Aqui” e gera polêmica

Bolsonaro rejeita assistir ao filme “Ainda Estou Aqui” e gera polêmica.
Ex-presidente critica obra premiada e afirma conhecer melhor a história.
O ex-presidente Jair Bolsonaro causou alvoroço ao declarar que não pretende assistir ao filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres. Em entrevista à Bloomberg, Bolsonaro afirmou: “Nem vou perder meu tempo, tenho o que fazer. Conheço a história melhor que eles”. A declaração veio após o sucesso do longa-metragem, que conquistou o Globo de Ouro de Melhor Atriz para Fernanda Torres e recebeu indicações ao Oscar 2025 nas categorias de Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz. A produção, baseada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, narra a jornada de Eunice Paiva após seu marido, o ex-deputado federal Rubens Paiva, ser torturado e morto durante a ditadura militar em 1971. O filme, que já atraiu mais de 3,8 milhões de espectadores desde sua estreia em novembro de 2024, aborda temas sensíveis da história brasileira, gerando debates acalorados e dividindo opiniões no cenário político atual.
A relação conturbada entre Bolsonaro e a família Paiva remonta à adolescência do ex-presidente em Eldorado Paulista, no Vale do Ribeira, onde a família do ex-deputado era proprietária da Fazenda Caraitá e exercia considerável influência na região. Bolsonaro, oriundo de uma família humilde, já expressou em sua biografia, escrita por seu filho Flávio, que as diferenças de classe o incomodavam. O ex-presidente chegou a mencionar uma suposta ligação entre Rubens Paiva e o guerrilheiro Carlos Lamarca, alegação refutada pela família Paiva. Ao longo de sua carreira política, Bolsonaro manteve uma postura crítica em relação à narrativa sobre a morte de Rubens Paiva, chegando a negar, quando deputado federal na década de 1990, que o político tivesse sido assassinado por militares. Em um episódio controverso, durante a inauguração de um busto em homenagem a Paiva na Câmara dos Deputados, Bolsonaro teria cuspido na estátua, chamando o homenageado de “comunista” e “vagabundo”, segundo relatos dos filhos de Paiva.
A recusa de Bolsonaro em assistir ao filme “Ainda Estou Aqui” e sua crítica à obra se inserem em um contexto mais amplo de polarização política e debates sobre a memória histórica do Brasil. O ex-presidente argumentou que “a história é contada pela metade” e “glamourizada para um lado só”, sugerindo uma visão parcial dos eventos retratados no filme. Essa postura gerou reações diversas, com apoiadores defendendo a perspectiva de Bolsonaro e críticos acusando-o de negacionismo histórico. O filme, ao abordar o período da ditadura militar e seus desdobramentos na vida de uma família, toca em feridas ainda abertas na sociedade brasileira, evidenciando as diferentes narrativas e interpretações sobre esse capítulo da história nacional. A produção de Walter Salles, ao alcançar reconhecimento internacional e atrair um público expressivo, reacendeu discussões sobre o papel da arte na preservação da memória e na reflexão sobre períodos conturbados da história do país.
A controvérsia em torno de “Ainda Estou Aqui” e a reação de Bolsonaro destacam a complexidade do debate sobre a representação histórica no cinema e na cultura brasileira. Enquanto o filme é celebrado por muitos como uma obra importante para a memória nacional e um marco do cinema brasileiro, as críticas do ex-presidente e de setores mais conservadores da sociedade evidenciam as tensões ainda existentes na interpretação desse período histórico. A recepção do filme e as discussões subsequentes demonstram como a arte pode servir como catalisadora de debates importantes sobre identidade nacional, justiça e reconciliação com o passado. À medida que “Ainda Estou Aqui” continua sua jornada rumo ao Oscar, é provável que as conversas sobre seu conteúdo, sua representação histórica e seu impacto cultural se intensifiquem, contribuindo para um diálogo necessário, embora muitas vezes doloroso, sobre o legado da ditadura militar no Brasil e como a sociedade lida com esse passado no presente.
Impacto da declaração no cenário cultural e político
A declaração de Bolsonaro sobre “Ainda Estou Aqui” reacende o debate sobre a relação entre política, arte e memória histórica no Brasil. Enquanto o filme continua a ganhar reconhecimento internacional, as palavras do ex-presidente evidenciam as divisões persistentes na sociedade brasileira quanto à interpretação de seu passado recente. O sucesso da obra e a polêmica gerada prometem manter viva a discussão sobre o papel do cinema na construção da narrativa nacional e na preservação da memória coletiva, reforçando a importância do diálogo e da reflexão crítica sobre períodos controversos da história do país.